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Cinema do Museu exibiu vídeo-cartas com mulheres que já estiveram privadas de liberdade em Pernambuco
O Cinema da Fundação/Museu exibiu uma sessão especial nesta quarta-feira (27). O equipamento cultural vinculado à Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), projetou a série de seis vídeo-cartas do projeto “A Imagem que Fazemos de Nós”. O projeto foi realizado com mulheres de 18 aos 64 anos. Elas fazem parte da rede LIberta Elas, coletivo feminista formado por mulheres que tiveram as vidas atravessadas pelo cárcere em Pernambuco. Após a exibição especial, foi realizado um debate com as idealizadoras, as mulheres que participaram do projeto e a plateia.
“As vídeo-cartas são uma espécie de autorretrato de como essas mulheres gostariam de ser vistas pela sociedade”, comentou a produtora do projeto Juliana Santos. “Esse é um formato do audiovisual que chama para a conversa. Elas querem dizer algo para o Poder Público, para a sociedade em geral”, acrescentou a também produtora Clarisse Fraga. Vinte mulheres participaram das oficinas. Aprenderam técnicas audiovisuais de roteiro, direção, fotografia e edição. Também foram trabalhados os direitos humanos e o acolhimento às histórias de cada uma, para que elas conseguissem criar uma representação de si mesmas na tela, além do que tange o sistema carcerário e a vida pós-cárcere.
Márcia Félix, 33 anos, é mãe de um adolescente e duas crianças. Ela passou sete anos em cárcere. “Participo da rede Liberta Elas desde 2019 e posso garantir que a minha vida mudou muito de lá pra cá, pois passei a me sentir mais valorizada e acolhida. Estou hoje com a minha autoestima lá em cima”, garantiu. Fernanda Santos, 26 anos, lembrou dos 4 anos e 3 meses que utilizou tornozeleira eletrônica para poder cuidar em casa do filho especial. “Quem anda com tornozeleira carrega um preconceito muito grande. Eu era esquecida, mas o Liberta Elas me fez sentir alguém. Todos têm importância nesta vida, só precisamos de oportunidades”, disse Fernanda, que é mãe de três crianças.
Sobre o apoio da família, Roseane Alves, 44 anos, emocionou-se quando lembrou que os seus sete filhos foram a base para que conseguisse superar as adversidades pelos quase 3 anos de prisão e mais um de tornozeleira. “Os meus filhos e o Liberta Elas me fizeram recuperar a minha autoestima.” Já Ana Paula da Silva, 37 anos, lembrou com tristeza dos mais de seis anos em que passou atrás das grades. “A minha filha, que hoje tem 12 anos, tinha apenas 1 quando fui presa. Infelizmente, acabei perdendo parte da infância dela”, contou. Ana Paula ainda é mãe de gêmeos.
“A Fundaj é uma casa aberta para bons novos projetos que jogam luz sobre ações que procuram estabelecer uma sociedade mais equilibrada com vistas na humanização dos invisíveis, e ‘A Imagem que Fazemos de Nós’ é tão interessante em sua proposta audiovisual e social que não há casa mais adequada para receber este projeto”, destacou o coordenador do Cinema da Fundação, Luiz Joaquim.
OFICINAS
As oficinas realizadas ao longo do projeto foram Biodanza, com Marina Presbitero; A direção, o corpo e o quadro, com Cíntia Lima; Nós e a Justiça, com Clarissa Trevas e Juliana Trevas; e Vídeo-Cartas, com Maria Cardozo e Lílian de Alcântara. “O nome do projeto está muito conectado com essa oficina, ‘A imagem que fazemos de nós’. Quando deixamos de lado a imagem que a sociedade faz da gente, qual imagem nós fazemos de nós mesmas? Conseguimos encontrar um pouco disso em cada vídeo-carta”, aponta Maria Cardozo, uma das idealizadoras do projeto.
LIBERTA ELAS
As irmãs Juliana e Clarissa Trevas sempre foram feministas e militantes de uma nova política sobre drogas. Aliadas à indignação pelas injustiças no sistema carcerário brasileiro, as duas resolveram se juntar a outras mulheres e fundaram, em 2018, o coletivo Liberta Elas. “Nós queríamos fazer essa intervenção dentro do cárcere para recuperar a autoestima e promover a ressocialização dessas mulheres. E estamos conseguindo”, afirmou Juliana. Clarissa ainda fez questão de dizer que, por ser um grupo só de mulheres, resolveram adotar o nome de “coletiva, e não coletivo Liberta Elas”.