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Capela de São Mateus abre suas portas para exposição de arte
A exposição “A sua casa não tem porta e nem janela”, é para a autora, uma riscadura sobre memórias já registradas e uma maneira de rasurar algumas histórias de dor. O trabalho foi desenvolvido a partir de fotografias da coleção de Francisco Rodrigues, entre os séculos XIX e XX, pertencente ao acervo do Centro de Estudos da História Brasileira (Cehibra), da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). De mais de 16 mil itens, apenas 50 fotografias eram de pessoas negras e as mulheres foram retratadas em condições escravizadas e como amas de leite. A mostra foi aberta na sexta-feira (10) na Capela São Mateus, no Engenho Massangana, equipamento cultural da Fundaj vinculado à Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca).
O diretor da Dimeca, Túlio Velho Barreto, saudou os visitantes e ressaltou a capela como um espaço sagrado, mas como um espaço privilegiado de exposição, pela história que guarda no conjunto arquitetônico do engenho. “Aqui Joaquim Nabuco passou os seus primeiros oito anos de vida e, provavelmente, a capela é a única edificação original. O território de Massangana representa bem o que era a história social daquele período. Parabéns, Amanda! Você é muito bem-vinda e o seu trabalho é bastante representativo”, declarou.
O curador da exposição, o museologista Henrique Cruz, convidou Amanda de Souza para escolher sete imagens inéditas e criar a sua arte. O papel usado na pintura das obras, segundo ele, é composto de 70% do bagaço da cana-de-açúcar e 30% de algodão. “Aproveitamos a oportunidade para inaugurar um espaço que ainda não havia sido utilizado com essa finalidade. Um lugar bastante significativo, onde em dezembro de 1849, Joaquim Nabuco foi batizado”, destacou o curador.
A artista visual e arte educadora Amanda de Souza explicou sobre o processo de criação. “Fiz um processo sincrético. As mulheres que estão aqui (pintadas nas obras) são mulheres que existem na Jurema Sagrada. Percebi algumas semelhanças entre as imagens dessas ancestrais do acervo com personalidades e imagens da Jurema Sagrada. É um processo que fala de identidade, família, sobre registro de memória. Meu trabalho segue esse caminho de reimaginação, reinvenção, reinterpretação, mas eu gosto de chamar de riscadura. E a gente tem um modo diferente de falar de registrar, que não é esse modo dos documentos oficiais”, afirmou a artista.
Jurema Sagrada é religião indígena também influenciada por cultos cristãos e afro-brasileiros com mestres que incorporam espíritos que curam e aconselham os praticantes. Além de integrantes de comunidades de terreiro como a Ilê OYá Ogum, mães de santos e familiares da artista, a exposição contou com a presença de participantes do ICOFOM e do ICOFOM LAC, simpósios internacionais realizados durante a semana, no Museu do Homem do Nordeste (Muhne) que representaram vários estados do Brasil, da Argentina, do Equador, México, Costa Rica, Inglaterra, Canadá, entre outros. A exposição tem entrada gratuita e a visitação é mediada. Para agendamento de visitas escolares e demais grupos, entre em contato pelo telefone: (81) 973376970 e pelo e-mail: engenho.massangana@fundaj.gov.br