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A descolonização das práticas museológicas em pauta no segundo dia do seminário
Nesta terça-feira (28), o seminário internacional “Decolonizando Museus: Modos de Fazer” recebeu uma palestra com Isabelle Vestris, do Centro Caribenho de Expressão e Memória da Trata e da Escravidão em Guadalupe, o Memorial ACTe, Alex Calheiros, Diretor do Museu da Inconfidência do Brasil, e Alexandro de Jesus, museólogo e antropólogo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Promovido pelo Museu do Homem do Nordeste (Muhne), o evento acontece até 30 de outubro, na Sala Calouste Gulbenkian do campus Gilberto Freyre da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), em Casa Forte.
Confira a cobertura do primeiro dia:
O seminário internacional “Decolonizando Museus: Modos de Fazer” propõe uma reflexão sobre como os museus têm lidado com acervos que guardam testemunhos da violência da colonização europeia. A programação faz parte da Temporada França-Brasil 2025 e tem transmissão ao vivo no canal do Youtube da Fundaj, podendo ser assistida posteriormente. Representantes de museus do Brasil, da França (continental e Guadalupe), do Marrocos, Senegal e Benin participam do evento.
Os palestrantes desta terça apresentaram, sob mediação de Sylvia Couceiro, coordenadora do Centro de Documentação e Pesquisa da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), o que vem sendo realizado em suas áreas de trabalho e pesquisa sobre a descolonização das práticas museológicas e o enfrentamento da herança e do trauma da violência colonial.
Isabelle Vestris comentou que lida diretamente com a memória da escravidão e a necessidade de criar um referencial próprio caribenho, fora dos padrões europeus, para descolonizar a instituição. “Apesar do fato de estar implantado fora do continente europeu, no meio do Caribe, o prisma colonial é persistente mesmo em um museu finalmente criado em um antigo território colonizado pelos próprios descendentes, das pessoas colonizadas e escravizadas”, explicou.
O diretor do Museu da Inconfidência do Brasil, Alex, abordou a necessidade de uma leitura crítica e contra colonial do Museu da Inconfidência. “O museu nasceu com o propósito de institucionalizar uma narrativa heroica da Inconfidência Mineira, transformando um episódio de revolta contra o domínio português em símbolo da formação da pátria”. Segundo o diretor, essa característica faz com que o museu carregue uma ideia de herói nacional. Por conta disso, ele busca transformar o museu, que é visto como um "arquivo da violência" e um "cemitério de memórias," em um espaço de diálogo e reparação, reconhecendo que a "liberdade dos inconfidentes não era a liberdade de todos"
Alexandro de Jesus, por sua vez, abordou o tema sob uma perspectiva teórica e museológica, focando na dificuldade de lidar com o trauma da ferida colonial, que ele afirma estar em continuidade, e não apenas no passado. “Uma das questões que ficam para a gente é como lidar com a memória do trauma se o objeto, o evento causador do trauma, continua acontecendo de novo e de novo”, comentou.