Notícias
A Coisa Ficou Preta: arte negra ressignifica o Engenho Massangana
A exposição “A Coisa Ficou Preta”, do artista visual alagoano Gleyson Borges, foi aberta na tarde do sábado (13) no Engenho Massangana. A abertura da mostra foi marcada por emoção, música e arte na presença do artista, do curador Jhonyson Nobre, de Túlio Velho Barreto, diretor de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca) da Fundação Joaquim Nabuco; de Moacir dos Anjos, coordenador-geral do Museu do Homem do Nordeste (Muhne); de Henrique Cruz, museólogo e chefe de Serviço de Estudos Museais do Engenho Massangana, além de familiares e amigos de Gleyson Borges. O Engenho Massangana está sob coordenação do Muhne, equipamento cultural vinculado à Dimeca.
Henrique Cruz destacou a relevância do momento. “É um momento importante para a Fundaj, pois reforça nosso compromisso em valorizar a cultura afro-brasileira e fomentar o debate sobre racismo, resistência e memória. A obra inédita de Gleyson, criada especialmente para esta mostra, simboliza exatamente esse movimento.”
Acompanhado da mãe, Gilvaneide Borges, Gleyson Borges abriu as portas do casarão do Engenho Massangana ao som de Emicida. O gesto marcou não apenas o início da exposição, mas também um momento importante na jornada do artista. Emocionado, Gleyson Borges classificou a mostra como um marco em sua trajetória. “É muito significativo realizar minha primeira exposição individual no Nordeste, perto de casa, depois de participar de coletivas no Brasil e no exterior. Mas o que mais me atravessou foi ocupar um espaço que foi uma Casa Grande. Trabalhar aqui por dias, sentado nesse mesmo chão, me fez refletir sobre tudo o que já aconteceu neste lugar com pessoas como eu. Por isso, estar hoje ocupando institucionalmente esse espaço, junto a outros artistas negros, é algo profundamente simbólico.”
A mostra reúne 17 obras, entre instalações e lambes, sendo 15 distribuídas pela casa grande e duas na capela do Engenho. Ao percorrer o ambiente, o público é conduzido por uma trilha sonora criada pelo próprio artista, que dialoga diretamente com as obras e reforça suas camadas de significado, com referências como Emicida, Racionais MC e Marcelo D2. Entre os visitantes estava a publicitária Renata Ribeiro. “Já admirava o trabalho dele há muitos anos, mas ver tudo isso materializado me impactou. Cada obra tem um conceito muito bem definido e, ao mesmo tempo, aberto à interpretação. E o fato de estar exposto neste lugar, com toda a carga histórica que ele carrega, dá ainda mais peso à exposição. Está tudo muito bonito, muito bem feito. Saio daqui sem palavras.
“A Coisa Ficou Preta” é uma mostra que reúne obras de diferentes fases da trajetória de Gleyson Borges, articulando múltiplas linguagens e suportes para propor um diálogo direto sobre negritude, memória e presença. Com forte influência da cultura urbana e do lambe-lambe, o artista constrói um percurso provocativo que transforma vivências em imagens, palavras e texturas, criando um arquivo político-afetivo que tensiona passado, presente e futuro a partir da experiência negra. A exposição segue em cartaz até o dia 29 de março de 2026. A visitação é gratuita e acontece de terça a domingo, das 9h às 15h.