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Saída do Brasil do Mapa da Fome da ONU reforça a importância de políticas públicas para o Semiárido
O Brasil sai do mapa da fome pela segunda vez, o feito representa um avanço no enfrentamento a um problema histórico - Foto: Divulgação/INSA
Em 28 de julho, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU) anunciou que o Brasil está novamente fora do Mapa da Fome, indicador que identifica países onde mais de 2,5% da população sofrem de subalimentação grave, que ocorre quando as pessoas não consomem calorias suficientes para uma vida saudável. O resultado foi divulgado no relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2025” (SOFI 2025), apresentado durante a 2ª Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU, na Etiópia.
O Mapa da Fome é uma ferramenta estratégica para orientar políticas públicas e cooperação internacional no combate à insegurança alimentar crônica. Nos últimos anos, o Brasil enfrentou retrocessos significativos nessa área, agravados por cortes substanciais de recursos que levaram ao desmantelamento de políticas públicas que impactam as ações de combate à fome e à insegurança alimentar, que se instala quando pessoas não têm acesso regular e continuado a alimentos em quantidade e qualidade suficientes para atender às suas necessidades básicas.
Esse desmonte gerou consequências graves como o desabastecimento e a inflação no preço dos alimentos, questões agravadas pela pandemia de Covid-19 e por eventos climáticos extremos no país e no mundo. Em 2021, pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) apontou que 55,2% dos domicílios brasileiros viviam alguma situação de insegurança alimentar.
O anúncio de 2025 marca a segunda saída do Brasil do Mapa da Fome — a primeira ocorreu em 2014 — e representa um avanço no enfrentamento a um problema histórico, foco do trabalho de líderes como o médico e pesquisador pernambucano Josué de Castro. Referência mundial, Josué destacou que a fome não é consequência de fatores naturais, mas sim de desigualdades políticas, geográficas e econômicas estruturais. Sua visão continua atual, reforçando que a erradicação da fome exige políticas públicas permanentes e inclusivas.
Entre 2022 e 2024, menos de 2,5% dos brasileiros estiveram em situação de subnutrição. Essa melhora reflete a retomada e o fortalecimento de ações como o relançamento do Programa Bolsa Família, a reestruturação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o estímulo à agricultura familiar, o fortalecimento da merenda escolar (PNAE), a valorização do salário mínimo, a ampliação do crédito rural via Pronaf e a formalização do mercado de trabalho. Essas medidas foram integradas no Plano Brasil Sem Fome, que priorizou territórios vulneráveis, como alguns municípios do Semiárido Brasileiro.
Com o segundo maior contingente da população brasileira que vive em áreas rurais (12,1 milhões de pessoas, de acordo com o último censo do IBGE), o Semiárido é diretamente impactado pelas políticas implantadas pelo governo. A reversão da insegurança alimentar na região significa mais do que um número: representa o retorno da dignidade alimentar para milhões de famílias, o fortalecimento da economia local e a valorização do potencial produtivo da região.
Para a pesquisadora do Instituto Nacional do Semiárido (INSA), Dra. Maristela Santana, garantir o direito humano à alimentação adequada exige ações integradas entre governo, setor privado e sociedade civil, com estratégias adaptadas às realidades urbana e rural, evitando retrocessos após a saída do Brasil do Mapa da Fome. Ela defende uma abordagem multidimensional, que combine políticas emergenciais com investimentos de longo prazo, como o fortalecimento da agricultura familiar — responsável por 70% dos alimentos consumidos no país — por meio de crédito rural, assistência técnica e acesso a mercados. Também cita a importância de equipamentos públicos urbanos, como cozinhas comunitárias, restaurantes populares e bancos de alimentos, que complementam programas de transferência de renda.
“O debate e as ações precisam ir além do direito à comida no prato, assegurando alimentação saudável e adequada, conforme os princípios da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, que garantem a todos o direito de escolher sua alimentação em quantidade e qualidade suficientes”, afirma Maristela.
Segundo a especialista, os sistemas alimentares, que envolvem desde a produção, processamento e distribuição até o consumo, o descarte e todos os atores envolvidos, precisam ser compreendidos em sua complexidade, considerando dimensões ambientais, socioculturais, econômicas, nutricionais, de saúde, políticas e de governança.
O INSA reconhece seu papel no enfrentamento à insegurança alimentar no Semiárido, integrando ciência, tecnologia e saberes tradicionais para desenvolver soluções sustentáveis. A gestão do Instituto reafirma o compromisso de construir e fortalecer iniciativas em diálogo com diferentes setores da sociedade, priorizando as demandas e especificidades do Semiárido Brasileiro. O Dr Etham Barbosa, atual diretor do INSA/MCTI, observa: “A saída do Brasil do Mapa da Fome reforça a importância das políticas públicas na proteção da vida e da dignidade das pessoas, especialmente na gestão do Presidente Lula. No Semiárido, esse resultado significa comida na mesa, renda para as famílias e valorização da nossa agricultura. Por exemplo, o INSA, com sua ciência e inovação, soma agora uma importante parceria com a Universidade Agrícola da China — juntos, vamos desenvolver tecnologias que fortaleçam um campo mais sustentável e justo para todos".