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Pesquisas do INSA e do Observatório da Caatinga e Desertificação confirmam a alta eficiência da caatinga no sequestro e armazenamento de carbono
Estudos mostram que o bioma é capaz de reter até sete toneladas de CO2 a cada ano - Foto: Camila Gurjão
Uma série de pesquisas conduzidas por pesquisadores do Instituto Nacional do Semiárido (INSA) e do Observatório da Caatinga e Desertificação (OCA) revelou uma propriedade da caatinga que a coloca no centro do debate sobre o enfrentamento às mudanças climáticas: o alto potencial do bioma para capturar e armazenar carbono da atmosfera.
Os dados apresentados pelos cientistas demonstram que as florestas do semiárido brasileiro podem retirar da atmosfera até sete toneladas de CO2 por hectare por ano, retendo os gases em suas folhas, tronco, raízes e no solo, e se consolidando como o bioma brasileiro mais eficiente no sequestro de carbono, ultrapassando biomas de climas mais úmidos como a mata atlântica e a floresta amazônica. A pesquisa mostrou ainda que até mesmo as regiões mais áridas da caatinga são capazes de sacar entre 1,5 e três toneladas anuais de gás carbônico, um indicador ambiental bastante expressivo.
Esse potencial da caatinga permite classificar o bioma como um “sumidouro de carbono”, um sistema natural que sequestra e conserva mais CO2 do que o emite a partir da respiração dos vegetais e do solo. Os chamados “sumidouros” têm ganhado destaque na agenda climática mundial pelo papel que a retirada de carbono da atmosfera desempenha no combate ao aquecimento global, uma das consequências mais nocivas do efeito estufa para o planeta.
A eficiência dos sumidouros pode ser medida por meio da análise das trocas de gases entre a atmosfera e o bioma, observando a relação entre o carbono retido na superfície e o absorvido pela fotossíntese das plantas. Para realizar esses estudos, os pesquisadores do INSA e do OCA realizam levantamentos periódicos dos dados captados por um conjunto de torres instaladas na Estação Experimental Ignácio Hernán Salcedo, localizada em Campina Grande (PB), a 4,5 km da sede administrativa do INSA, que subsidiam pesquisas nas áreas de modelagem ambiental e climática, sensoriamento remoto, geoprocessamento e análise de séries temporais de dados ambientais.
Com base nessas informações, o pesquisador responsável pela área de Desertificação e Agroecologia do Instituto Nacional do Semiárido e um dos coordenadores do Observatório da Caatinga, Aldrin Pérez Marin, explicou que, além de retirarem gases de efeito estufa da superfície, as florestas do semiárido ainda atuam como um excelente reservatório de carbono, impedindo que o CO2 retorne à atmosfera. O pesquisador alertou, no entanto, para os riscos que a ação antrópica oferece a essa importante capacidade da caatinga. “Quando a vegetação está preservada, o carbono fica armazenado nas plantas e no solo, mas, quando o desmatamento e o manejo inadequado dos recursos naturais entram em cena, estamos diante de problemas como a perda da biodiversidade, a degradação do solo, que leva à desertificação, e o agravamento do efeito estufa”, salientou Aldrin.
Segundo o pesquisador, uma das consequências mais críticas do efeito estufa é o aumento da temperatura da Terra, que promove desequilíbrio climático e aprofunda ainda mais a aridez dos biomas mais secos. “Além das inegáveis consequências ambientais, esse quadro leva um cenário de migrações forçadas, perda de emprego e renda para famílias agricultoras e aprofundamento das desigualdades socioeconômicas, em especial no que se refere a comunidades e povos tradicionais e historicamente invisibilizadas como quilombolas e indígenas”, sublinhou o pesquisador.
Em resposta a esse panorama, Aldrin ressalta a importância de uma mudança de perspectiva sobre a caatinga que passe a olhar o bioma não mais como um ecossistema desafiador, mas, sim, como um ativo ambiental e financeiro de grande valor para o Brasil. O pesquisador citou a possibilidade de “converter” as toneladas de CO2 retiradas da atmosfera pelas florestas do semiárido em créditos de carbono, um mercado em ascensão em um planeta que enfrenta uma crise climática que cobra respostas políticas e ambientais urgentes.
“Neste cenário de emergência climática, faz-se necessária uma atuação do poder público para regulamentar o comércio de créditos de carbono tanto no que diz respeito aos seus aspectos ambientais e econômicos. No front ambiental/climático, essa regulamentação pode estabelecer diretrizes a serem seguidas pelos agricultores para promover práticas ambientais sustentáveis, que aliem a abordagem técnica e científica aos conhecimentos tradicionais das populações que vivem no campo. Já na frente econômica, os esforços governamentais em prol da regulamentação dos créditos sociais de carbono podem trazer avanços na abertura de novos mercados e na geração de renda para as famílias agricultoras, promovendo a justiça socioambiental e a reparação histórica aos agricultores que tanto contribuem para a preservação da caatinga”, defendeu o pesquisador.