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INSA e Observatório da Caatinga e Desertificação contribuem com estudo estratégico sobre a desertificação no Semiárido Brasileiro
Iniciativas como a recuperação de ecossistemas degradados e o fomento a práticas produtivas resilientes são propostas pelo estudo - Foto: Divulgação/INSA
O tecnologista do Instituto Nacional do Semiárido (INSA) Aldrin Pérez Marín participou da elaboração do “Boletim Temático: Desertificação”, um documento publicado no último mês de junho pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) em parceria com especialistas em temas estratégicos para o desenvolvimento da região. Pérez Marín é Correspondente Científico do Brasil na Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (UNCCD, na sigla em inglês), um acordo internacional voltado para a proteção e restauração de áreas suscetíveis à desertificação em todo o planeta.
O Boletim Temático: Desertificação fornece um olhar aprofundado sobre o processo de desertificação no Brasil, explicando a sua abrangência e expansão no país. O estudo foi elaborado conjuntamente por pesquisadores do Instituto Nacional do Semiárido, do Observatório da Caatinga, da Universidade Federal de Campina Grande e da Sudene.
Segundo o documento, aproximadamente 18% do território nacional estão sujeitos à desertificação, área que equivale a quase 1/5 do país. A maior parte das Áreas Suscetíveis à Desertificação (ASD) e Entorno, como denomina o boletim, está localizada na região Nordeste, mas o documento demonstra um crescimento de 170 mil km² desse território entre os anos 2000 e 2020, abarcando novos estados como Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul, onde historicamente eram encontrados biomas como a mata atlântica e o pantanal, respectivamente.
Esse cenário preocupa os cientistas responsáveis pelo estudo, como explica Pérez Marín. “Nessas regiões vivem aproximadamente 39 milhões de pessoas, muitas em situação de vulnerabilidade social, incluindo aproximadamente 110 mil indígenas, 180 mil quilombolas e 1,3 milhão de assentados da reforma agrária, além de 2,9 milhões de agricultores e agricultoras familiares que dependem diretamente dos serviços ecossistêmicos deste território para garantir sua sobrevivência, sua renda e a manutenção de seus modos de vida. O desmatamento, o manejo inadequado dos solos, muitas vezes sem consulta prévia, e as restrições no acesso a políticas públicas são fatores que agravam ainda mais o quadro”, afirmou o pesquisador.
Além de discutir o avanço da desertificação no país, o documento detalha os critérios utilizados para identificar áreas suscetíveis à desertificação, os níveis de degradação do solo e a situação em comunidades vulneráveis, como as mencionadas acima por Pérez Marín. Embora 75% das áreas sujeitas à desertificação possuam índices moderados de degradação, cerca de 107 km2, situados especialmente nos estados da Bahia, Ceará e Pernambuco, já apresentam níveis de degradação severa do solo.
A complexidade do problema, potencializado pela ação antrópica e pelas mudanças climáticas, chama a atenção para a necessidade de adotar planos de ação que mobilizem governos, comunidades locais, organizações da sociedade civil e instituições de pesquisa em torno de estratégias para mitigar os efeitos da desertificação e reduzir os impactos socioeconômicos junto às populações afetadas. O boletim propõe algumas iniciativas que seguem as diretrizes estabelecidas pela UNCCD para o enfrentamento à desertificação, como a recuperação de ecossistemas degradados, a ampliação da infraestrutura hídrica, o fomento a práticas produtivas resilientes, como a agroecologia e a criação de animais adaptados ao semiárido, e o monitoramento e alerta precoce sobre a degradação do solo e eventos ambientais associados.
Nesse sentido, informações contextualizadas e acessíveis, como as disponibilizadas no boletim da Sudene, se revelam essenciais para a compreensão do fenômeno e para a formulação de respostas políticas e institucionais eficazes. “O relatório aponta que a desertificação não é só um problema ambiental, mas um desafio social e econômico que ameaça a segurança alimentar, provoca migrações forçadas e aprofunda desigualdades. O Brasil tem avançado em políticas públicas e programas como o Plano de Ação Brasileiro de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAB-Brasil 2025), que está sendo conduzido pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), mas o fenômeno exige resposta urgente, integrada e territorializada”, finalizou Pérez Marín.
Confira o Boletim Temático: Desertificação na íntegra clicando aqui.