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Pesquisa do INSA/MCTI desenvolve protocolos para preservação de plantas ameaçadas de extinção
Os resultados da pesquisa são promissores e apontam para o uso de bioinsumos mais acessíveis aos produtores locais. Na foto, a pesquisadora responsável, Luane Portela. - Foto: Maria Raquel
Uma pesquisa desenvolvida no Laboratório de Cultivo In Vitro (LACIP) do Instituto Nacional do Semiárido (INSA/MCTI), tem criado protocolos eficientes para a proteção e preservação de plantas nativas e endêmicas da região, inclusive aquelas ameaçadas de extinção. Os resultados alcançados são promissores e apontam também para o uso de bioinsumos mais acessíveis aos produtores locais.
Conforme explica a bióloga Luane Portela, pesquisadora da área, o cultivo in vitro, ou cultura de tecidos vegetais, utiliza técnicas biotecnológicas que visam à cultura de células e tecidos vegetais ou plantas inteiras, em ambiente e condições controladas. “O objetivo da minha pesquisa no LACIP é desenvolver um método sustentável para a conservação e a multiplicação in vitro de espécies nativas do Semiárido, especialmente cactáceas, utilizando bioinsumos como fonte de nutrientes para as plantas in vitro”, explica.
Ela reforça que estes bioinsumos podem ser uma alternativa bastante satisfatória quando comparados a reagentes analíticos e não ecológicos, utilizados via de regra nos protocolos tradicionais e que muitas vezes não são eficientes para atender às necessidades nutricionais e fisiológicas das plantas nativas do Semiárido. “A utilização de bioinsumos na produção de plantas in vitro pode oferecer uma abordagem mais justa e acessível à essa biotecnologia, com baixo custo e fácil implementação. Além disso, pode promover o desenvolvimento socioeconômico inclusivo e sustentável no Semiárido entre produtores de bioinsumos agrícolas, biofábricas e viveiristas”, enfatiza.
Em detalhes - Como o nome sugere, cultivo in vitro é o cultivo de material vegetal dentro de recipientes de vidro fechados, contendo um meio de cultura - um substrato gelatinoso composto por nutrientes, vitaminas, sacarose, ágar e reguladores de crescimento. A pesquisadora Luane Portela detalha que estes recipientes são mantidos em salas de crescimento, onde são rigorosamente controladas a intensidade luminosa, a temperatura e a umidade. Assim sendo, o material é preparado e mantido em condições de alta assepsia, evitando a presença de patógenos, como fungos e bactérias, para garantir a excelente qualidade sanitária das plantas.
Dentre as aplicações da técnica, destacam-se a conservação ex situ e a micropropagação. Na conservação ex situ, segundo Luane, as plantas são cultivadas fora de seu habitat natural, em condições artificiais, na forma de bancos de germoplasma - conjunto de amostras de materiais genéticos que guardam as características de uma espécie. Esta técnica serve como uma salvaguarda das espécies e desta forma contribui para a conservação da biodiversidade vegetal.
Já a micropropagação, também conhecida como multiplicação ou clonagem in vitro, visa a produção em larga escala de mudas livres de doenças de forma rápida e eficiente, em um espaço reduzido. “Isso é feito utilizando apenas fragmentos de plantas, como folhas, caules ou raízes. Essa técnica baseia-se na totipotência celular vegetal, que é a capacidade da única célula vegetal de se dividir e diferenciar em todos os tipos de células que compõem a planta, permitindo a regeneração de uma planta completa, a partir de um fragmento do tecido vegetal”, acrescenta a pesquisadora.
A etapa final é a reintrodução das plantas cultivadas in vitro, ao ambiente natural. O momento ideal para essa reintrodução depende de vários fatores e deve ser planejado com cuidado, salienta Luanne. “As plantas precisam ter caule, folhas e raízes bem desenvolvidos e robustos para garantir sua sobrevivência fora do ambiente controlado. Após isso, elas passam por um processo de aclimatização, onde são gradualmente expostas a condições ambientais mais naturais”, completa.

- A utilização de bioinsumos na produção de plantas in vitro pode oferecer uma abordagem mais justa e acessível, com baixo custo e fácil implementação. Fotos: Maria Raquel
Introdução de novas espécies - Outra meta da pesquisa realizada no INSA é a introdução de novas espécies nativas, além de consolidar uma coleção de plantas in vitro de relevância para a região. Atualmente, a coleção do LACIP/INSA possui mais de três mil exemplares de plantas, abrangendo 43 espécies diferentes. Destas, 17 espécies são endêmicas do Semiárido, como Discocactus zehntneri subsp. boomianus, Melocactus salvadorensis, M. pachyacanthus e 10 espécies estão ameaçadas de extinção, incluindo Melocactus azureus, M. glaucescens, M. conoideus, M. ferreophilus, M. lanssensianus e M. brederooianus.
Mais informações sobre o cultivo in vitro estão disponíveis na cartilha “Conhecendo o cultivo in vitro das cactáceas”, direcionada sobretudo a crianças e adolescentes, principal público visitante do INSA, que se encanta ao ver de perto as plantas no processo de crescimento. A cartilha está disponível AQUI.
Sobre a pesquisadora - Luane Portela é bióloga, com mestrado e doutorado em Recursos Genéticos Vegetais pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Sua pesquisa se concentra nos efeitos de bioestimulantes derivados de macroalgas no cultivo in vitro de plantas, um trabalho que foi reconhecido internacionalmente por contribuir significativamente para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 14 e 17. Tem experiência na cultura de tecidos de plantas ornamentais ameaçadas de extinção da Chapada Diamantina, BA e atualmente é pesquisadora no INSA, onde lidera o LACIP. Aceitou o desafio de cuidar da coleção de plantas in vitro do INSA, com foco especial nas cactáceas ameaçadas de extinção, e desenvolver um bioinsumo como produto biotecnológico voltado para o semiárido.
*Este é um conteúdo de popularização da ciência produzido pela área de Gestão da Informação e Popularização da Ciência, com apoio do Laboratório de Cultivo In Vitro (LACIP)/Área de Biodiversidade. Ambas integram as áreas de atuação do Instituto Nacional do Semiárido (INSA/MCTI).