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Estudo demonstra o potencial da agroecologia para promover a sustentabilidade e a geração de renda no semiárido brasileiro
Pesquisa desenvolvida no INSA recebe prêmio internacional da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD)
Uma pesquisa realizada no Instituto Nacional do Semiárido (INSA/MCTI) foi uma das vencedoras da competição global Investing in Drought Resilience, “Investindo em Resiliência à Seca”, em tradução livre, promovida pela Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD). O estudo intitulado “Agroecologia no Semiárido brasileiro: estratégias inovadoras para regenerar territórios, ecossistemas e renda, fortalecendo resiliência e sustentabilidade climática” foi conduzido pelo pesquisador Aldrin Pérez Marín, titular da pasta de Desertificação e Agroecologia do INSA e correspondente de ciência e tecnologia do Brasil na UNCCD. O anúncio dos ganhadores foi realizado na última sexta-feira (21).
O estudo foi selecionado entre trabalhos de vários países na categoria “casos econômicos e de negócios”, que reúne experiências exitosas na articulação entre o conhecimento científico e o compromisso social. Após a divulgação do resultado, o pesquisador Aldrin Marín foi convidado para apresentar o trabalho no CRIC-23, evento que acontece na Cidade do Panamá entre os dias 01 e 05 de dezembro. De acordo com o pesquisador, “o CRIC-23 é a principal sessão intersessional da UNCCD dedicada a avaliar o progresso global na implementação da Convenção, debatendo temas como neutralidade da degradação das terras, políticas sobre tempestades de areia e poeira, gênero, governança fundiária e orientações ciência-política”.
Na edição de 2025 do evento, Marín terá a oportunidade de apresentar o estudo vencedor do prêmio da UNCCD no painel Money Meets Resilience: Innovative Investment Pathways for Drought Action, “Onde o dinheiro encontra a resiliência: caminhos inovadores de investimento para enfrentar a seca”, em tradução livre, que congregará especialistas de todos os continentes para debater estratégias de resiliência climática, enfrentamento à desertificação e convivência com a seca.
Sobre o estudo
A pesquisa premiada pela UNCCD direcionou o olhar para algumas práticas agroecológicas adotadas por agricultoras e agricultores familiares que vivem no semiárido brasileiro. Os cientistas realizaram estudos de campo com os produtores e desenvolveram uma metodologia que combina conhecimentos técnico-científicos aos saberes construídos e transmitidos de geração em geração pelas comunidades rurais. A partir desse intercâmbio, o trabalho pôde constatar a grande eficácia de técnicas agroecológicas como a diversificação de culturas agrícolas, o armazenamento de sementes, água e alimentos, o manejo sustentável da caatinga e o gerenciamento coletivo das tarefas e dos recursos naturais.
“O resultado não surpreendeu quem vive no Semiárido, mas surpreendeu o mundo: agroecossistemas diversificados são mais resilientes, mais eficientes e mais lucrativos do que modelos agrícolas dependentes de insumos e vulneráveis às secas. A ciência confirmou o que a vida já sabia. Como registraram os dados [do estudo de caso], a cada R$ 1 investido, agroecossistemas agroecológicos retornam R$ 2 a R$ 3 em alimento, renda, saúde do solo, biodiversidade e autonomia. Não é apenas produção: é regeneração de territórios e de condições de vida”, explicou Aldrin Marín. Para o pesquisador, o reconhecimento concedido pela UNCCD às experiências relatadas no estudo não apenas chancela o uso da agroecologia como alternativa sustentável, lucrativa e socialmente justa como também coloca as experiências com a caatinga no centro do debate climático global.
Marin destaca, nesse sentido, o papel que o semiárido brasileiro passa a ocupar como uma referência mundial em resiliência à seca, uma pauta central diante do avanço das áreas suscetíveis à desertificação (ASD) em todo o mundo. Segundo o cientista, enquanto o planeta ainda ensaia construir alternativas para lidar com a emergência climática, o semiárido brasileiro já acumula diversas experiências bem-sucedidas de convivência com os desafios ambientais decorrentes da variabilidade climática e da escassez hídrica. Nesse contexto, o INSA, como uma instituição de pesquisa aplicada ao semiárido brasileiro, também assume um protagonismo na agenda internacional de combate à desertificação e de adoção de soluções baseadas na natureza.
Além de colocar o semiárido brasileiro e o INSA no mapa das soluções climáticas globais, o estudo desenvolvido por Marín e a equipe de pesquisadores do INSA também joga luz sobre a importância de produzir ciência e tecnologia voltadas para o território e para as comunidades que nele vivem. “Ao colocar em prática o que chamamos de ‘ciência cidadã’, o INSA reafirma sua vocação: produzir ciência comprometida com a vida, com o território e com as pessoas”, concluiu o pesquisador.