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Caatinga: Guardiã do Clima e da Vida no Semiárido
A Caatinga é essencial na regulação climática e na garantia da resiliência das populações do Semiárido. - Foto: Camila Gurjão
Um estudo recente publicado na Science of the Total Environment trouxe novas e solidas evidências sobre o papel da Caatinga no enfrentamento da crise climática global. Intitulado "A comparative analysis of GHG inventories and ecosystems carbon absorption in Brazil", o trabalho revela que, em 2022, a Caatinga foi responsável por cerca de 50% de todo o sequestro líquido de carbono do país, compensando uma fração significativa das emissões nacionais de gases de efeito estufa. Este dado surpreendente reafirma a relevância do bioma, não apenas para a região Semiárida, mas para o equilíbrio climático de todo o território nacional.
A Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, ocupa cerca de 11% do território do país e abriga uma biodiversidade singular, com elevado grau de endemismo, ou seja, espécies que só existem ali. São plantas, animais e microrganismos que desenvolveram estratégias únicas de sobrevivência diante das adversidades do clima semiárido, marcado por longos períodos de estiagem e chuvas irregulares. Essa riqueza natural, no entanto, permanece pouco conhecida por grande parte da sociedade e historicamente foi subestimada nos debates ambientais nacionais.
Mais do que um mosaico de vida resistente, a Caatinga se revela como um ativo estratégico para o Brasil no cumprimento das metas de neutralidade climática. Sua vegetação, adaptada para resistir à seca, desempenha papel fundamental no sequestro de carbono, ajudando a mitigar os impactos das mudanças climáticas. Ao mesmo tempo, oferece soluções baseadas na natureza que unem conservação, mitigação e adaptação, aproximando ciência, políticas públicas e comunidades locais.
O estudo ganha ainda mais relevância por consolidar e expandir as evidências já apontadas pelas pesquisas desenvolvidas no âmbito do INCT – Observatório do Carbono, da Água e da Energia no Bioma Caatinga (ONDA-CBC). Esse observatório reúne cientistas, instituições e esforços colaborativos que, ao longo dos anos, vêm demonstrando como a Caatinga é essencial na regulação climática, no fornecimento de serviços ecossistêmicos e na garantia da resiliência das populações do Semiárido.
Entre os principais achados, destaca-se que a Caatinga não é apenas resiliente diante das adversidades: ela é proativa na captura de carbono e na manutenção do equilíbrio ambiental. Isso significa que, ao conservar e restaurar áreas degradadas, o Brasil potencializa sua capacidade de reduzir emissões líquidas de gases de efeito estufa, fortalecendo seu protagonismo nas negociações climáticas internacionais e contribuindo para a agenda de desenvolvimento sustentável.
Além disso, a valorização da Caatinga traz benefícios diretos para milhões de pessoas que vivem no Semiárido. O fortalecimento de práticas agroecológicas, a restauração de áreas degradadas e a promoção de cadeias produtivas sustentáveis garantem não apenas ganhos ambientais, mas também sociais e econômicos. Ou seja, investir na Caatinga é investir em justiça climática, em soberania alimentar e em qualidade de vida para comunidades historicamente vulneráveis.
A mensagem que este estudo transmite é clara e inspiradora: cuidar da Caatinga é cuidar do clima, da biodiversidade e do futuro do Brasil. Ao reconhecermos e valorizarmos esse patrimônio natural, reforçamos o compromisso com uma transição justa e sustentável, onde ciência e sociedade caminham lado a lado para enfrentar os desafios da crise climática.
O Semiárido brasileiro, tantas vezes lembrado apenas por suas dificuldades, se mostra agora como um território de esperança e inovação. A Caatinga, com sua força silenciosa e sua capacidade de regeneração, é uma guardiã indispensável do clima e da vida. Preservá-la e restaurá-la é mais que um dever ambiental: é um gesto de responsabilidade histórica com as próximas gerações.