Abertura da II Conferência Livre: Ciência pela Integridade da Informação destaca desafios da desinformação

Realizou-se na manhã desta terça-feira (6/5), no auditório do CNPq, a abertura da II Conferência Livre: Ciência pela Integridade da Informação, que reuniu representantes de instituições públicas de ciência, tecnologia e inovação para debater os desafios da desinformação e o papel da ciência na promoção de uma sociedade mais informada e resiliente. A programação teve início com a cerimônia de abertura, seguida da palestra inaugural da professora Dora Kaufman.

Durante a cerimônia, o diretor do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), Tiago Braga, destacou o caráter coletivo da iniciativa, fruto da articulação entre o grupo Poliedro — formado pelo Ibict, o CNPq, o Ipea, a Capes, a Finep, e outros parceiros institucionais como a Secom e o Ministério da Justiça. Braga ressaltou a importância da integridade da informação como um bem público e pilar para o desenvolvimento social, ambiental e econômico do país. "A informação é a matéria-prima capaz de permitir que a sociedade evolua. E é nosso papel, como comunidade científica, garantir que ela continue sendo utilizada para promover avanços", afirmou.

Braga também enfatizou a necessidade de resiliência institucional diante da corrosão dos mecanismos de acesso à informação, apontando o grupo Poliedro como uma resposta coletiva da ciência brasileira frente aos riscos representados pela desinformação. "Estamos sinalizando que a comunidade científica está, como sempre esteve, disposta a buscar mecanismos de garantia da integridade da informação", concluiu.

O presidente do CNPq, Ricardo Galvão, anfitrião do evento, apresentou, em sua fala, os desafios de comunicar ciência em tempos de negacionismo. Galvão abordou estudos recentes e obras de referência sobre o avanço da pseudociência e a manipulação de controvérsias científicas por interesses econômicos e ideológicos. "Há uma forma muito ardilosa de se explorar o caráter falseável da ciência. Negacionistas usam esse princípio como argumento contra a própria credibilidade científica", alertou.

Ele também destacou o impacto da inteligência artificial na propagação de informações falsas, especialmente entre os mais jovens. "Ao contrário dos mecanismos de busca tradicionais, que oferecem múltiplas fontes, os chats baseados em IA respondem diretamente, muitas vezes sem indicar referências. Isso pode reforçar vieses e facilitar a disseminação de desinformação", apontou.

Além de Tiago Braga e Ricardo Galvão, participaram da mesa de abertura a presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Denise Pires; o chefe de gabinete da Presidência da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Fernando Peregrino; a representante do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Luciana Servo; o secretário de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, doutor João Brant; e o diretor do Departamento de Projetos e de Políticas de Direitos Coletivos e Difusos do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Vitor Guimarães.

Encerrando a programação da manhã, a professora Dora Kaufman proferiu a palestra inaugural, com uma reflexão sobre os impactos sociais da inteligência artificial. Dora propôs uma abordagem crítica ao desenvolvimento tecnológico, ressaltando a importância de pensar a IA como um projeto sociotécnico. "O problema da IA não está na tecnologia em si, mas em como ela é projetada e regulada. Precisamos refletir sobre a escolha dos dados, os objetivos dos sistemas e suas consequências para a sociedade", afirmou.

Ela também alertou para o risco de captura da IA por interesses econômicos, que priorizam modelos opacos e concentradores. "É necessário que o debate sobre regulação inclua a sociedade civil e leve em conta aspectos éticos, políticos e culturais. Sem isso, a tecnologia continuará reproduzindo desigualdades e reforçando poderes concentrados", disse.

A Conferência Livre: Ciência pela Integridade da Informação segue com programação ao longo desta quarta-feira (7), reunindo especialistas, gestores públicos e pesquisadores para pensar caminhos concretos de enfrentamento à desinformação e fortalecimento da ciência como referência confiável para a sociedade.