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ESPERANÇA
Transplante de medula óssea na Rede Ebserh dá novo significado às vidas de pacientes em todo o país
Nesta reportagem, você vai ver:
Brasília (DF) - A bailarina e professora de balé, Luciane Frumento, de 40 anos, vivia uma rotina intensa até sentir uma dor persistente no estômago que, após exames, revelou uma Leucemia Mieloide Aguda (LMA). Sem resposta completa à primeira quimioterapia, o transplante de medula óssea foi indicado. O doador perfeito estava dentro de casa: seu irmão Juliano, 100% compatível.
“Quando recebemos a notícia da compatibilidade, eu chorei, a equipe chorou, minha família chorou. Era esperança pura”, lembra. O transplante, realizado em julho de 2024 no Complexo do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (CHC-UFPR), veio acompanhado de medo e incertezas — risco de rejeição, infecções e complicações. Mas veio também a cura. “O transplante me deu uma nova chance. Estou viva pela doação do meu irmão. Deus me deu uma nova vida”, reforça.
Assim como no CHC-UFPR, em diferentes hospitais universitários vinculados à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), especialistas e pacientes compartilham avanços, desafios e relatos emocionantes que mostram como esse transplante pode transformar vidas.
Transplante é uma chance de cura
O transplante de medula óssea — também chamado de transplante de células-tronco hematopoiéticas — é indicado para doenças que comprometem a produção do sangue, como leucemias, aplasias, imunodeficiências e algumas doenças genéticas.
Vaneuza Funke, médica e responsável técnica pelo Serviço de Transplante de Medula Óssea do CHC-UFPR, reforça que o procedimento depende de diagnóstico preciso, indicação correta e uma estrutura hospitalar altamente especializada.
“A medula óssea é a fábrica do sangue. Quando ela não funciona, o paciente perde a capacidade de se defender de infecções, de evitar sangramentos e enfrenta anemia grave. Em casos potencialmente fatais, o transplante é a chance de cura”, explica. A especialista lembra que o transplante pode ser realizado com medula coletada do sangue periférico, diretamente do osso da bacia, ou — mais raramente — a partir de sangue de cordão umbilical. Ela destaca ainda que a segurança do doador é total.
A medula se recompõe rapidamente e não há risco de danos à coluna, como muitos ainda acreditam, explica a médica. “Existe uma confusão entre medula óssea e espinhal, esta última é que é responsável pelos movimentos e não mexemos nela. Isso é um mito. O gesto voluntário do doador é o que permite que outra vida seja salva.”
Uma fila que desafia e mobiliza o país
Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea (julho/2025), 2.679 pessoas aguardam por transplante no Brasil, sendo 948 para transplantes alogênicos (recebem doação de outras pessoas) e 1.731 para transplantes autólogos (com células da própria pessoa). Centros da Rede Ebserh integram esse esforço nacional, ampliando capacidade técnica, estruturando equipes e garantindo acesso pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O CHC-UFPR, primeiro serviço organizado de transplante da América Latina, já realizou mais de 3.455 transplantes, sendo a maioria do tipo alogênico. É referência em casos de alta complexidade, com equipe multidisciplinar experiente e estrutura robusta.
Primeiros transplantes autólogos pelo SUS do Maranhão
Em 2025, o Hospital Universitário da UFMA (HU-UFMA), alcançou um marco histórico ao realizar seus primeiros transplantes de medula óssea autólogos pelo SUS.
O hematologista e responsável técnico da Unidade de Hematologia e Hemoterapia, Yuri Nassar, destaca que, antes, os pacientes precisavam viajar para outros estados. “Hoje, conseguimos oferecer no Maranhão uma terapia de alta complexidade, antes inacessível aqui. É um passo gigantesco para o estado.”
Um novo recomeço
O transplante autólogo utiliza as células do próprio paciente após uma quimioterapia de alta intensidade com o objetivo de tratar a doença de base. O aposentado com planos de voltar à ativa Francisco Lopes Neto, 64 anos, costuma dizer que tem duas datas de aniversário: 18 de junho, a de nascimento, e 5 de novembro, a do renascimento — dia em que sua medula “pegou”. Após enfrentar dores por dois anos e receber diagnósticos incorretos, descobriu o mieloma múltiplo. Estava prestes a viajar para Recife para transplante quando soube que o HU-UFMA havia sido credenciado. “Foi uma emoção ver a medula toda rosinha voltando para mim. Tiraram a doença do meu corpo”, lembra, emocionado.
O transplante ocorreu em outubro de 2025. Ele ficou 21 dias em isolamento — um período difícil, mas decisivo. “O que cura não são só os remédios. É o amor com que somos tratados. O hospital funciona por causa de cada profissional.” Francisco está sendo acompanhado semanalmente e evoluindo bem.
Rede que conecta ciência, cuidado e esperança
O hematologista Yuri Nassar explica que o transplante de medula óssea alogênico ainda enfrenta um dos maiores desafios da área: encontrar um doador compatível fora do núcleo familiar. “A chance de compatibilidade das células, relacionadas ao sistema HLA (antígeno leucocitário humano), é de apenas 1 a cada 100 mil”, destaca.
No entanto, o Brasil possui o terceiro maior banco de doadores do mundo, o Redome. Com cerca de seis milhões de doadores cadastrados, a chance de encontrar um doador não aparentado aumenta significativamente.
Ele acrescenta que um dos grandes avanços nos últimos anos é a ampliação dos transplantes de medula óssea haploidênticos — aqueles realizados com doadores que possuem apenas 50% de compatibilidade HLA. “Esse progresso foi possível, principalmente, graças ao desenvolvimento de novos imunossupressores e ao melhor entendimento do uso dessas drogas no manejo do paciente transplantado, o que reduz o risco de rejeição”, explica.
Histórias como as de Luciane e Francisco mostram que, por trás das técnicas e protocolos, existe algo fundamental: a possibilidade real de recomeçar. Para fortalecer essa causa e ampliar a conscientização, foi instituída a Semana de Mobilização Nacional para Doação de Medula Óssea, realizada anualmente entre 14 e 21 de dezembro.
Para se cadastrar como doador voluntário é só procurar o hemocentro mais próximo, ter entre 18 e 35 anos e estar em bom estado geral de saúde. Para mais informações, confira o site do Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome ). “Você pode ser a única chance de alguém que está necessitando dessa terapia”, finaliza Yuri.
Rede Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Reportagem: Danielle Morais, com edição de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh