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12 de outubro de 1976
Padre Burnier: vítima da ditadura em MT
Publicado em
12/10/2025 00h00
Atualizado em
13/10/2025 16h33
Em 12 de outubro de 1976, falecia o padre jesuíta João Bosco Penido Burnier. Horas antes, havia sido baleado por um policial militar em MT. Natural de MG, Padre Burnier era parente do Brigadeiro João Paulo Penido Burnier, apontado como torturador de presos políticos durante a ditadura.
Entretanto, a trajetória do padre foi bem distinta. Missionário, viveu seus últimos anos no norte de Mato Grosso, onde atuava junto a comunidades indígenas, como Beiços-de-pau, Bakairi, Merure e Bororo.
Dias antes de sua morte, o cabo Félix Pereira de Castro, conhecido por seus atos de violência na região, havia sido assassinado. As tensões na região se intensificavam devido à expansão da agropecuária, ostensivamente apoiada pelos militares. A morte do cabo revoltou as forças policiais que reagiram perseguindo e torturando familiares dos suspeitos.
Para interceder pelas mulheres camponesas presas e torturadas, Padre Burnier e o Bispo Dom Pedro Casaldáliga foram à Delegacia do atual município de Ribeirão Cascalheira (a 772 km de Cuiabá), onde foram recebidos com truculência. O Padre disse que informaria as arbitrariedades ali cometidas à hierarquia superior dos policiais, quando foi baleado por um deles. O caso está descrito no Inquérito Policial da Delegacia Especial de Barra das Graças (MT), do Fundo do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica do Arquivo Nacional.
Em 2009, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) reconheceu o Padre Burnier como vítima da ditadura. O voto da relatora concluiu que o caso, “sem sombra de dúvidas”, teve motivação política, revendo assim o indeferimento em 1997. O Fundo da CEMDP é custodiado pelo AN e está disponível pelo SIAN.
Padre Burnier foi um dos que tiveram a causa morte oficialmente corrigida em 2025. O atestado de óbito, que antes denominava “acidente”, detalha hoje: “Morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população, identificada como dissidente política por regime ditatorial instaurado em 1964”.