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27 de maio de 1970
CNBB: do apoio à denúncia
Em Brasília, no dia 27 de maio de 1970, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) encerrou a sua 11ª Assembleia Geral, na qual a Igreja Católica tomou posição contra o autoritarismo do Estado brasileiro e divulgou um documento denunciando os abusos da ditadura militar sobre os direitos humanos e sociais. Em contraste ao posicionamento de apoio firmado pela cúpula católica ao general Castello Branco, por ocasião do Golpe de 1964, a hierarquia religiosa foi gradativamente posicionando-se contra às violações aos direitos humanos e sociais cometidas pela ditadura brasileira – como podemos observar nos dois primeiros documentos em destaque.
No dia seguinte à divulgação do documento da CNBB, o arcebispo de Olinda e Recife, dom Hélder Câmara, então candidato ao Prêmio Nobel da Paz, denunciava as torturas ocorridas nas delegacias e prisões do Brasil para uma plateia de mais de dez mil pessoas no Palácio do Esportes, em Paris. Àquela altura, dom Hélder já vinha se posicionando fortemente contrário à ditadura, sendo monitorado de perto pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), juntamente a padres e organizações progressistas ligadas à Igreja, conforme comprova o terceiro documento.
A Igreja foi se tornando alvo da repressão devido à ação dos setores progressistas. Entre setembro e outubro de 1970, foi invadida a sede do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento (IBRADES), centro de ensino ligado à CNBB e mantido pelos jesuítas. Na ocasião, alunos e padres relacionados à Juventude Operária Católica (JOC) e à Ação Popular (AP) foram presos arbitrariamente por policiais do 1º Exército, sede do DOI-CODI no Rio de Janeiro, e muitos materiais do Instituto foram apreendidos. Durante a invasão, a prisão de dom Aloísio Lorscheider, secretário-geral da CNBB, teve grande repercussão, inclusive internacional. A alegação era que o IBRADES se constituía na célula principal da subversão católica no Brasil. O Exército deflagrou Inquérito Policial Militar, o “IPM/IBRADES”, que posteriormente foi arquivado pela Justiça Militar devido à falta de provas.
Com o endurecimento da repressão atingindo mais diretamente os seus quadros, o final da década de 1960 e, sobretudo, os anos 1970 foram catalisadores para que a Igreja Católica assumisse um papel crucial nas denúncias contra as graves violações da ditadura e em defesa dos direitos humanos.
Rafaella Bettamio e Alejandra Estevez.
Documentos (SIAN):
br_rjanrio_eh_0_fot_prp_08388_d0009de0011.pdf (fotografia bispos em apoio ao golpe/Castello Branco)
br_rjanrio_eh_0_fot_prp_08388_d0011de0011.pdf (fotografia de D. Hélder com Castello Branco)
br_dfanbsb_v8_mic_gnc_aaa_70014174_d0002de0003.pdf (Monitoramento do Discurso de D. Hélder em Paris em maio de 1970)
br_rjanrio_tt_0_mcp_pro_0237_d0001de0001.pdf (IPM/IBRADES)
BR_RJANRIO_TT_0_MCP_AVU_0096_d001.pdf (Relatório sumário do 1º Exército – DOI-CODI -sobre os fatos que originaram as prisões de padres na Guanabara em setembro de 1970)
Para mais informações sobre as relações entre a Igreja Católica e a ditadura militar no Brasil, veja:
AZEVEDO, Dermi. A Igreja Católica e o seu papel político no Brasil. Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP). Estud. Av. 18 (52), dez. 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/PxyzJ9rN5q4CQGBPxfpbNqG/
Como citar este artigo:
BETTAMIO, Rafaella; ESTEVEZ, Alejandra. CNBB: do apoio à denúncia. Arquivo Nacional-Memórias Reveladas, 27 maio 2025. Disponível em: [link]. Acessado em: [data do acesso].



