Planetários: um século de existência

A imersão de dezenas de pessoas em uma lona esférica, escura, onde projetam-se imagens de planetas, estrelas e toda a gama de elementos do universo, visíveis e invisíveis a olho nu, é uma experiência inesquecível. E esta vivência completa cem anos nesta quarta-feira (7). Foi no dia 7 de maio de 1925, em Munique, na Alemanha, que o primeiro planetário com imagens do cosmos foi aberto ao público, atraindo multidões. E ele ainda permanece ativo e aberto ao público ainda hoje no Deutsches Museum.
Físico e educador museal da Coordenação de Educação do MAST, Douglas Falcão revela que esta experiência percorre o mundo desde então. E, no Brasil, ele destaca que o MAST ganha relevância fundamental porque foi em 1991, seis anos após a fundação do Museu, que o primeiro Planetário Móvel foi adquirido.
Com ele, milhares de pessoas dos 92 municípios do Estado do Rio e de outras cidades brasileiras puderam conhecer um mundo tão perto dos olhos e ao mesmo tempo distante da compreensão da média maioria das pessoas:
- Trata-se de uma importante ferramenta de inclusão social e que torna-se acessível no momento em que museus de ciência como o MAST se dispõem a adquirir planetários para levar conhecimento principalmente às escolas públicas e comunidades - disse Douglas, lembrando que nestes 36 anos entre 500 e 600 mil pessoas fizeram a viagem cósmica através do planetário móvel do MAST .
Douglas lembra que, embora hoje já seja possível adquirir planetários digitais produzidos no Brasil, a um custo acessível, há ainda um público gigantesco, de crianças e adultos, que a não viveu a experiência de conhecer o universo sem adentrar em uma nave espacial:
- O MAST é a única instituição em toda a zona norte do Rio que possui um planetário móvel e gratuito. Há um planetário fixo, mas fica na Zona Sul, mas lá há cobrança de ingresso. Isso torna o acesso restrito.
*Abaixo, Douglas Falcão fala sobre as três décadas do planetário móvel do MAST:
34 anos do planetário móvel do MAST
Do medo do pânico das crianças à popularização da Ciência
Por Douglas Falcão*
O primeiro planetário móvel do MAST chegou a instituição no ano de 1991 na gestão do então diretor Pedro Leitão. O equipamento, importado dos Estados Unidos, foi montado poucas vezes no seu primeiro ano porque o astrônomo responsável temia que as crianças ficassem com temor de entrar e permanecer no interior de uma semi-esfera escura, na qual se deveria adentrar por um túnel.
Já no ano de 1995, as coisas mudaram radicalmente. Depois de alguns testes com grupos escolares, não houve mais dúvidas. Tínhamos em mãos uma grande ferramenta de divulgação científica em astronomia.
Primeiramente, o MAST usava o planetário móvel quase que exclusivamente nas visitas escolares ao museu. Aos poucos o equipamento passou também a ser utilizado para a sua concepção original, que é servir como unidade móvel de divulgação científica em astronomia. Dava para colocar todo o equipamento em um carro de passeio e montá-lo em escolas do subúrbio na região metropolitana do Rio.
Não demorou muito para que o planetário alçasse voos maiores. Isso aconteceu em parceria com Fundação CECIERJ nos anos de 1990 e início dos anos 2000. Foi no projeto Praça da Ciência Itinerante que levava ações de popularização de ciência e tecnologia aos 92 municípios do estado do Rio de Janeiro. Ao longo dos últimos vinte anos, muitas instituições nacionais se inspiraram no exemplo do MAST e adquiriram planetários móveis.
Centros e Museus de Ciência e Universidades passaram a nos contactar para conhecer os procedimentos de manipulação e manutenção, questões de formação de educadores para fins de replicação do uso de planetários por todo o país.
Mas um fator atrapalhou a popularização do planetário: o equipamento, importado, era caro e demorava entre seis meses e um ano para chegar. Assim, empresas brasileiras despertaram interesse e desenvolveram versões nacionais. Hoje, existem empresas brasileiras que fabricam bons planetários que podem suprir o mercado nacional.
Outro aspecto importante do planetário móvel é o uso desse equipamento como uma importante ferramenta de inclusão científica num país com o alto grau de desigualdade social como o Brasil. A sua mobilidade permite que públicos que vivem em locais distantes dos centros de cultura científica possam usufruir de experiências que antes eram restritas às regiões privilegiadas.
A chegada de um planetário móvel a uma escola pública da periferia, em uma cidade do interior, pode ser uma experiência, infelizmente única, para muitos cidadãos, sejam crianças ou adultos. Neste sentido, a atual política pública do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para a área de Popularização de Ciência e Tecnologia tem num planetário móvel, um equipamento singular e potente de divulgação científica que se adéqua às diferentes realidades brasileiras.
* Físico e educador museal

