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LAPOC/CNEN compartilha boas práticas de gestão do conhecimento em painel da NT2E
LAPOC/CNEN participada do Nuclear Trade & Tecnhology Exchange - NT2E 2025
A importância da gestão do conhecimento no setor nuclear, um campo no qual o saber técnico muitas vezes é construído na prática e passa de geração em geração, foi o tema central de um painel realizado na NT2E, maior evento da área nuclear da América Latina, que acontece entre os dias 20 e 22 de maio, no Rio de Janeiro. O debate intitulado “Gestão do Conhecimento no Setor Nuclear” foi realizado no dia 21 e reuniu especialistas de instituições públicas e privadas que apresentaram estratégias e ferramentas para mitigar a perda de expertise diante do avanço das aposentadorias e da transformação digital. Participaram do painel Leandro Xingó (ENBPar), Tomé Machado (Amazul), Francisco Sánchez (Westinghouse), Ricardo Alfenas (LAPOC /CNEN) e Bruno Muniz (Atech).

- LAPOC/CNEN compartilha boas práticas de gestão do conhecimento em painel da NT2E
Representando a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Ricardo Alfenas compartilhou a experiência do Laboratório de Poços de Caldas (LAPOC /CNEN), unidade localizada no sul de Minas Gerais, que atua com inspeções e análises no setor nuclear. Com um time pequeno, com 29 servidores e média de idade de 54 anos e 27 anos de casa, a unidade se viu diante de um desafio urgente: reter conhecimentos críticos que não estão registrados em manuais, mas são essenciais para a continuidade segura das atividades.
A fala de Alfenas resgatou um conceito central dos Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia: o conhecimento tácito. Trata-se de um saber que não se transmite apenas por documentos, artigos ou normas, mas por meio da convivência, da prática e do contato direto entre pessoas. “Nosso principal objetivo é evitar a perda de conhecimentos essenciais para a existência e segurança da unidade, especialmente aqueles baseados na experiência individual, difíceis de formalizar e transferir”, afirmou.
Para enfrentar esse cenário com criatividade e poucos recursos, o LAPOC desenvolveu uma série de soluções práticas: gravação de vídeos com técnicos explicando detalhadamente os procedimentos, instalação de QR codes nos laboratórios para acesso direto ao conteúdo, criação de um portal interno no ambiente SharePoint e uso do Power BI para sistematização e reuso da informação. Desde 2018, já foram produzidos 26 vídeos técnicos e mais de 6.400 pessoas foram impactadas pelas iniciativas.
A experiência também tem sido reconhecida internacionalmente. Em 2023, o LAPOC recebeu a medalha de prata no International Digital Workplace Awards e foi premiado no Green Learning Awards na categoria de inovação global. “A gestão do conhecimento não precisa ser perfeita nem cara, mas precisa ser feita. Conhecimento só tem valor se for usado”, destacou Alfenas.
Conhecimento que não se perde
Os participantes do painel destacaram preocupações comuns entre instituições públicas e privadas: como manter o setor nuclear em pleno funcionamento diante do número crescente de aposentadorias? Como garantir que o conhecimento acumulado ao longo de décadas transborde entre gerações, promovendo continuidade e segurança? Para eles, o conhecimento não é herdado, é compartilhado, cultivado e transferido intencionalmente.
Foram discutidos temas como planos de sucessão, estratégias de retenção de saberes especializados e a gestão do conhecimento como alicerce da inovação. Um dos destaques foi o papel emergente da inteligência artificial (IA) nesse processo. Ferramentas baseadas em IA já são utilizadas para mapear lacunas de conhecimento, identificar pontos críticos de aprendizagem por meio das perguntas feitas a chatbots corporativos e orientar a produção de materiais sob demanda.
Os palestrantes reforçaram que a gestão do conhecimento precisa ser tratada como política contínua, integrada às estratégias organizacionais. Em áreas como a nuclear, na qual a renovação de pessoal é mais lenta e os saberes são altamente especializados, a perda de expertise é uma ameaça ao próprio desenvolvimento do setor.
Texto e Foto: Emanuel Galdino - Bolsista BGE-DA/IPEN-CNEN