Notícias
Saúde e Segurança no Trabalho
Workshop realizado no IPEN reforça cultura de segurança e prevenção de riscos no setor nuclear
O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN) sediou, entre os dias 5 e 8 de agosto, um workshop internacional sobre os Programas de Observação do Comportamento (BOP – Behavioral Observation Program) e Aptidão para o Trabalho (FFD – Fitness for Duty), em parceria com o INS (International Nuclear Security), na sede do Instituto em São Paulo.
O encontro reuniu profissionais de diferentes regiões do Brasil para discutir estratégias de prevenção de ameaças internas em instalações nucleares devido aos riscos provocados por pessoas com acesso autorizado, como funcionários e prestadores de serviço.
“Esse é um encontro que dá continuidade ao mesmo workshop que foi realizado no ano passado, aqui no IPEN. A ideia de aprofundar o assunto nasceu do grupo de estudos que foi criado a partir do workshop de 2024 e que tem trabalhado questões relacionadas à cultura de segurança na área” explica Paulo Bianchi, coordenador de Planejamento e Gestão do IPEN.
Com abordagem preventiva, o workshop, ministrado por Jhon Landers e Riyaz Mohamed Natha, ambos do INS, destacou dois programas essenciais: o BOP (Behavioral Observation Program), que capacita profissionais a identificar sinais de comportamento atípico entre colegas, como mudanças de humor, isolamento ou estresse extremo, e o FFD (Fitness for Duty), que avalia se o trabalhador está física e mentalmente apto para exercer suas funções, por meio de exames médicos, testes toxicológicos e avaliações psicológicas.
“Todos nós que trabalhamos com segurança, seja física, radiológica ou cibernética, sabemos que uma das maiores vulnerabilidade é justamente o ser humano, que devido ao comportamento pode criar uma falha nos processos mesmo de forma involuntária. Por isso que a implantação de uma cultura de segurança se torna bastante necessária, já que muitas das atitudes que favorecem os procedimentos seguros têm que ser voluntárias”.
Dentro do IPEN, o grupo já realizou ações como uma autoavaliação piloto para refinar a metodologia de aplicação de formulário capaz de avaliar o nível de cultura de segurança institucional. O resultado indicou que a instituição estava no estágio de “pré-contemplação”, fase inicial em que a necessidade de mudança ainda não é plenamente reconhecida e a adoção de práticas seguras ocorre mais por obrigação do que por iniciativa própria. O workshop busca justamente apoiar a transição para estágios mais maduros, nos quais a segurança seja incorporada como valor central da organização.
“Nossa ideia é sempre tratar o tema de forma positiva, para que as pessoas colaborem e se sintam acolhidas em suas dificuldades. Isso aumenta a satisfação em trabalhar na empresa e reduz a probabilidade de que ocorram atos de sabotagem ou situações semelhantes”, afirmou Paulo.
A pesquisadora e supervisora de radioproteção do IPEN, Yasko Kodama, que também integra o grupo, afirmou que a participação em treinamentos de Nuclear Security, voltados para cientistas, técnicos e engenheiros, traz muitos benefícios para as instituições. “Já consegui certificações para o IPEN e esses treinamentos também têm contribuído muito para eu aprimorar os procedimentos de proteção física da instalação do irradiador multipropósito, que é classificado como categoria 4 pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)”, explica. “Quanto mais pessoas entenderem a importância desse tema para a instituição, melhor será nossa segurança.”
Colaboração internacional
O IPEN mantém um acordo com a agência nuclear, por meio do qual atua como Centro Colaborador em Segurança. Esse convênio estabelece o instituto como um polo de ensino e capacitação em segurança na América Latina. Com isso, os membros do grupo de estudos realizam atividades rotineiras voltadas à divulgação e ao desenvolvimento do conceito de segurança que serve tanto no Brasil quanto em outros países da região.
“Percebemos que a falta de informação uniforme e padrões claros de comportamento e de execução das atividades, impacta diretamente a segurança. Ao identificar essas falhas, é preciso tratá-las criando políticas que mantenham o tema vivo no cotidiano, para que as pessoas parem, reflitam e internalizem esse conhecimento. A ideia é que, com o tempo, essas práticas se tornem automáticas, integradas à vida e ao trabalho” explicou Renato Lima Franca, técnico do IPEN.
Um exemplo citado no curso foi o uso do cinto de segurança que, no início, foi necessário ser imposto por uma política de uso, mas hoje as pessoas colocam o cinto sem nem pensar no motivo, porque virou um hábito. “É isso que buscamos, introduzir os conceitos de segurança de forma rotineira, até que sejam aplicados naturalmente”, frisou o pesquisador.
O workshop contou com a presença de 14 participantes de diferentes instituições, além do IPEN, e foi estruturado principalmente em rodadas de discussões. Após apresentar os conceitos, os palestrantes traziam exemplos práticos e exercícios para estimular os participantes a analisar casos e identificar possíveis formas de evitar determinadas ações. No decorrer dos dias, também foram apresentadas ferramentas que facilitam a observação comportamental.
“Estou muito feliz de estar aqui. O evento está maravilhoso. O pensamento aqui é muito amplo, as pessoas têm a mente aberta, então sempre surgem novas ideias. Como o evento funciona como um bate-papo, todos se sentem à vontade para falar sobre seu próprio trabalho, compartilhar experiências e aprender uns com os outros”, disse Lourena Siqueira Campos, que trabalha na Eletronuclear e é especialista em segurança de área protegida.
“Vou levar daqui para a alta administração da empresa a importância da parte comportamental, que é fundamental, e a necessidade de que eles estejam envolvidos nessa política. Tivemos estudos de casos fantásticos sobre acontecimentos em instalações ao redor do mundo, o que torna a experiência do workshop extremamente enriquecedora.”
A diretora e superintendente do IPEN, Isolda Costa, enalteceu o workshop com base nos depoimentos positivos dos participantes e agradeceu ao INS, instituição que financiou o evento. “Esperamos que retornem para realizar a terceira, quarta edição, e assim por diante. Para nós, isso significa contribuir com um conhecimento que será disseminado por meio de vocês, que serão os núcleos de informação desse aprendizado,” destacou.
"Houve muitos incidentes que aconteceram ao redor do mundo, e nós nem sequer trouxemos 10% deles para cá. No entanto, a pergunta principal é sempre como aprendemos com esses problemas. Talvez a única coisa positiva em relação a esses incidentes, inclusive em relação ao que ocorreu no IPEN este ano, seja a conscientização de como podemos nos tornar melhores”, enfatizou Riyaz. Por isso, agradeço a oportunidade de trabalharmos juntos ao longo desses anos, pensando em novas ideias sobre esse tema, que é o nosso verdadeiro objetivo. Tivemos a sorte de colaborar nesse processo."
Tatiane Ribeiro
Bolsista BGE-DA/IPEN-CNEN