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Quando a pesquisa é um bom negócio: CNEN apresenta 7 soluções tecnológicas para a indústria
Sete tecnologias de ponta para resolver desafios da indústria foram os destaques da CNEN (Comissão Nacional da Energia Nuclear), apresentados no Side Event, da NT2E - Nuclear Technology to Export. Pesquisadores das diversas unidades de pesquisa brasileiras relacionadas ao setor da tecnologia nuclear trouxeram o que há de mais avançado em termos de pesquisa que já pode ser utilizado como produto ou serviço pela sociedade. Com o slogan “Quando a pesquisa é um bom negócio”, o painel de inovações faz parte da programação da NT2E, evento produzido pela ABDAN (Associação Brasileira das Atividades Nucleares) e realizado entre os dias 20 e 22 de maio na cidade do Rio de Janeiro.
As soluções foram apresentadas para as áreas de sustentabilidade, saúde, equipamentos e indústria, treinamento e energia e compõem uma amostra de toda potencialidade tecnológica que a CNEN produz em seus laboratórios. “Conectar tecnologia de ponta ao mercado, atraindo empresários e empreendedores dispostos a colaborar, investir e impulsionar esses projetos para assim gerar impacto real na sociedade é o nosso grande objetivo”, afirmou Eduardo Ferreira, analista de negócios da CNEN.
A unidade móvel com acelerador de elétrons para tratamento de efluentes industriais, projeto desenvolvido no IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), foi o foco da apresentação de Wilson Calvo, diretor de pesquisa e desenvolvimento da CNEN, que abriu as apresentações enfatizando a possibilidade das indústrias eliminarem poluentes de forma sustentável e eficiente. China e Coreia do Sul já estão utilizando soluções semelhantes para degradar corantes e reutilizar a água, diminuindo assim o impacto ambiental. Durante o evento, o projeto, que conta com apoio da Agência Internacional de Energia Atômica, Finep, CNPq, Nuclep e Truckvan, chamou a atenção de dois potenciais parceiros brasileiros.
Também na área da sustentabilidade, a pesquisadora Sumair Araújo (IPEN), apresentou a Biorrefinaria Azul, que realiza a conversão de resíduos do mar em insumos de alto valor como quitosana, biodiesel, entre outros.
Na área da saúde, Daniel Bonifácio (IPEN) apresentou como os radionuclídeos podem ser utilizados no combate ao câncer por meio de terapias personalizadas. Utilizando inteligência artificial para monitorar em tempo real a distribuição de radiofármacos no organismo, a terapia permite ajustes precisos na dose administrada e aumento da eficácia do tratamento. A política de dose personalizada já é um prática consolidada nos Estados Unidos e regulamentada na Europa há mais de uma década e deve ser realizada no Brasil nos próximos anos.
A pesquisadora Alice Versiani, do CDTN (Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear), apresentou outra solução inovadora para a área da saúde: nanossensores capazes de detectar precocemente o câncer e outras doenças crônicas com alta precisão. Os dispositivos identificam alterações moleculares mínimas no organismo, o que permite diagnósticos rápidos e menos invasivos, aumentando significativamente as chances de sucesso no tratamento.
Na área de treinamento, o pesquisador Eugênio Martins, do IEN (Instituto de Engenharia Nuclear), explicou a proposta do laboratório de realidade virtual do instituto, que permite capacitações realistas e personalizadas sem a necessidade de deslocamento, o que é bastante útil em procedimentos de alto risco.
Ímãs de alta performance foram apresentados para as áreas de equipamentos e indústria pelo pesquisador Armindo Santos (CDTN). Com alta potência magnética, menor custo e menor impacto ambiental, a tecnologia é estratégica para o Brasil, pois tem ampla aplicação nos setores industrial e tecnológico e contribui para fortalecer a autonomia nacional.
Para fechar as apresentações, Adolf Braid, diretor executivo da Terminus Research and Development of Energy Ltda, apresentou uma solução para a área de energia: o microrreator nuclear modular. A estrutura de tamanho bastante reduzido em relação às usinas nucleares pode ser utilizado, por exemplo, para fornecer energia de forma estável e sem utilizar cabeamento em lugares de difícil acesso, em cidades de até 50 mil habitantes. A empresa já conta com a parceria do IPEN e do IEN para expandir essa tecnologia e procura novos investidores.
Wilson Calvo afirmou que há mais de sete soluções que podem ser aproveitadas pela indústria e que as unidades de pesquisa da CNEN seguem instruções e orientações internas que direcionam os núcleos de inovação tecnológica a trabalhar em equipe nesse sentido. “Dessa forma podemos levar essas tecnologias para a sociedade e dar garantia ao investidor de que a pesquisa é um bom negócio”.
Arnaldo da Silva Júnior, do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) do IPEN, destacou que eventos como este são fundamentais para aproximar ciência e mercado no Brasil, que apesar de estar entre os países que mais produzem artigos científicos, ainda enfrenta um grande desafio na transformação desse conhecimento em inovação. “Nossa legislação de patentes é recente e ainda estamos amadurecendo esse processo de conexão com a indústria. Por isso, iniciativas como essa são essenciais para fortalecer a independência tecnológica do país”, afirmou.
“Eu diria que hoje, inovação é parceria. O mundo exige esse esforço entre instituições, pesquisadores e empresas. Temos feito esse trabalho dentro da CNEN para alavancar as experiências de transferência de tecnologia. Eu acredito fortemente que esse é o caminho para o setor nuclear: inovar e entregar resultados tecnológicos úteis para a sociedade. Parabéns a todos e vamos sair daqui já com parcerias”, destacou na fala de encerramento Francisco Rondinelli Júnior, presidente da CNEN.
Tatiane Ribeiro
Bolsista BGE-DA/IPEN-CNEN