Escultura de São Jerônimo restaurada com tecnologia nuclear ganha exposição no IPEN/CNEN

A exposição da escultura de São Jerônimo, restaurada por meio de uma técnica inédita no Brasil que utiliza radiação ionizante, foi inaugurada nesta terça-feira (1/7) no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), uma das unidades técnico-científicas vinculadas à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). A cerimônia contou com a presença do secretário-executivo da Casa Civil do Estado de São Paulo, Fraide Barreto Sales, de representantes do Acervo dos Palácios do Governo, da equipe científica do IPEN e de convidados. A mostra é fruto da parceria de mais de 18 anos entre o IPEN e o Acervo dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo.

A escultura, que representa o patrono dos bibliotecários, foi instalada na Biblioteca Terezine Arantes Ferraz, no Bloco A do IPEN. A obra passou por um processo inovador de consolidação estrutural utilizando radiação gama. Esse foi o primeiro caso bem-sucedido desse tipo de técnica, empregada em madeira policromada no País. O método foi desenvolvido pela equipe do IPEN/CNEN liderada pelo pesquisador Pablo Vásquez, em colaboração com a restauradora Adriana Pires, responsável pela preservação da peça. Também participou do processo a química Maria José Oliveira, que estudou a formulação da resina polimérica utilizada na recuperação.

A obra faz parte da coleção dos palácios governamentais do Estado de São Paulo desde o Palácio Campos Elíseos, sede do governo estadual no início do século XX. A escultura chega ao Palácio dos Bandeirantes em meados da década de 1970 e, nos anos 2000, encontrava-se em estado crítico, com sua estrutura gravemente comprometida por fungos e insetos que se alimentam de madeira. 

“A escultura estava em um estado tão comprometido que nenhuma técnica tradicional era suficiente. Quando vi uma apresentação sobre consolidação com resina curada por radiação, lembrei imediatamente do São Jerônimo. Foi ali que surgiu a esperança de recuperá-lo de verdade”, declara Adriana.

Por mais de uma década, a peça permaneceu sem solução de restauro, até que a equipe identificou o potencial da radiação ionizante para recuperar internamente a madeira fragilizada. “A escultura chegou com apenas 5 kg e saiu do IPEN pesando mais de 12 kg. Foi totalmente consolidada por dentro, sem alteração estética externa”, relatou Vásquez, que também elaborou o desenho técnico do equipamento utilizado no processo de impregnação da resina antes da irradiação. O equipamento foi construído pelo técnico Vagner Fernandes no Centro de Tecnologia das Radições do IPEN.

Durante o restauro, foram utilizadas técnicas de tomografia, raios X e análises físico-químicas para mapear internamente os danos. A escultura foi impregnada com resina sob vácuo e alta pressão e submetida à cura por radiação no Irradiador Multipropósito de Cobalto-60 do IPEN/CNEN. O procedimento garantiu coesão estrutural, estabilidade química e proteção duradoura contra agentes biológicos.  “Desde a formulação da resina até a consolidação da escultura, acompanhei todas as etapas ao lado do professor Pablo. Foi um trabalho minucioso, com análises por tomografia e raio-X para garantir que a resina atingisse as partes danificadas. Ver a escultura pronta hoje é motivo de orgulho para nossa equipe”, afirmou Maria José.

“É uma alegria enorme ter aqui São Jerônimo, símbolo da erudição e do conhecimento, exposto em uma instituição científica como o IPEN. Essa união entre ciência, tecnologia e cultura nos enche de orgulho”, afirmou a diretora e superintendente do IPEN, Isolda Costa. Durante o evento de inauguração, o secretário-executivo da Casa Civil do Estado de São Paulo fez um panorama histórico sobre o possível surgimento da escultura no Brasil, relacionando o contexto da obra ao processo de formação de São Paulo. “Essa é uma combinação poderosa: ciência de ponta sendo aplicada à preservação do nosso passado. A tecnologia usada aqui tem potencial para restaurar não só outras obras do nosso acervo paulista, mas também de museus e instituições em todo o país e até fora dele”, reforça Sales.

A exposição “São Jerônimo”, organizada em parceria com o Acervo dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo, ficará aberta ao público com visitas guiadas nos dias 8, 15, 22 e 29 de julho e 5 e 12 de agosto, sempre das 10h às 11h30. O agendamento deve ser feito por formulário disponível online, com inscrições que se encerram sempre às sextas-feiras, às 16h, anteriores à data da visita. Para acessar o IPEN, é necessário ter mais de 18 anos e apresentar um documento oficial com foto. Durante a visita, o público poderá conhecer detalhes da história da obra e do processo científico que possibilitou sua recuperação, guiado por um dos pesquisadores do projeto. O IPEN está localizado na Avenida Professor Lineu Prestes, 2242, na Cidade Universitária, em São Paulo (SP).

Emanuel Galdino 
Bolsista BGE-DA/IPEN-CNEN