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Ciência de dados, clima e saúde pública: IPEN participa do primeiro workshop do Projeto Caipora
Entre os dias 15 e 17 de abril foi realizado o primeiro workshop do Projeto Caipora, iniciativa que busca desenvolver ferramentas preditivas capazes de relacionar variáveis climáticas, poluentes, indicadores sociais e dados de saúde pública para prever doenças endêmicas e crônicas não transmissíveis no Brasil. Financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o projeto conta com a participação do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN) como uma das dez instituições de ciência e tecnologia envolvidas.
Com o título “Ciência de dados auxiliando na compreensão e relação entre clima e saúde”, o workshop apresentou os primeiros resultados da pesquisa e promoveu o intercâmbio entre cientistas brasileiros e internacionais, além de representantes de secretarias municipais de saúde. Durante o evento, foram discutidas as metodologias adotadas, as possibilidades de uso dos dados e os caminhos para que os resultados se tornem ferramentas acessíveis à gestão pública e à sociedade. “Queremos estreitar a ponte entre a academia e a gestão pública. Sentimos que ainda existe uma distância e esse workshop foi uma oportunidade concreta de diálogo”, declarou o coordenador do projeto, Gregori Moreira, ex-aluno do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Nuclear do IPEN em parceria com a Universidade de São Paulo (USP).
A participação do IPEN no projeto está vinculada à atuação dos pesquisadores do Centro de Lasers e Aplicações (CLA). Entre as contribuições da instituição, destacam-se os dados gerados por meio da tecnologia Lidar (Light Detection and Ranging), um sistema de sensoriamento remoto que utiliza feixes de laser para medir propriedades da atmosfera. Essa técnica permite estimar, por exemplo, a altura da camada limite atmosférica, um parâmetro essencial utilizado como insumo nos modelos de inteligência artificial aplicados pelo Projeto Caipora.
“O IPEN participa por meio da colaboração com o laboratório do professor Eduardo Landulfo, que fornece parâmetros importantes como a altura da camada limite. Esse dado é uma das entradas do nosso modelo de redes neurais, que prevê, por exemplo, internações por doenças respiratórias com até 90 dias de antecedência”, explicou o coordenador.
Moreira também destacou que o modelo, baseado em técnicas de deep learning, um ramo da inteligência artificial, já apresenta resultados expressivos. “Aqui em São Paulo, conseguimos prever casos de doenças respiratórias com um erro médio de apenas 30 casos, numa base de cerca de 500 casos semanais. É um resultado bastante promissor”, afirmou.
Durante o workshop, o pesquisador do IPEN, Eduardo Landulfo, destacou a importância da formação de recursos humanos e a continuidade das colaborações institucionais. “O Caipora é um projeto de um ex-aluno meu, que agora é professor em um Instituto Federal. Isso representa uma passagem de bastão, um legado das atividades que temos desenvolvido no IPEN. Mostra que o investimento em formação de pessoal e na capacitação de lideranças está dando frutos”, afirmou. Landulfo também destacou que o projeto Caipora tem gerado desdobramentos importantes como um projeto Fapesp aprovado recentemente, que também envolve o IPEN. “São desdobramentos dos nossos esforços que vêm gerando novos projetos”, declara.
Em sua apresentação, Landulfo focou na importância da validação de dados de satélite e no papel do IPEN na rede Lalinet (Latin American Lidar Network) e sua contribuição para o entendimento de fenômenos atmosféricos com impacto direto na saúde, como o transporte de poeira e a queima de biomassa. Segundo o pesquisador, a integração do Projeto Caipora com redes como a Lalinet e a Galion (Global Atmosphere Watch - Aerosol Lidar Observation Network) amplia significativamente as possibilidades científicas e a capacidade de análise em escala regional. A combinação das observações realizadas pelo IPEN com dados internacionais fortalece a precisão e a robustez dos modelos climáticos voltados à saúde pública.
Além da produção científica, o projeto Caipora também aposta em ações de divulgação científica. Um dos braços da iniciativa é o “Caiporinha”, material didático desenvolvido para escolas de educação infantil, ensino fundamental e médio, que trata de forma lúdica a relação entre clima e saúde.
Com recursos da chamada 18/2023 do CNPq, no valor de R$ 595 mil, o projeto entra agora em sua segunda fase. Os próximos passos incluem a publicação dos resultados em ambiente digital, a busca por parcerias com secretarias de saúde e a disseminação ampla das informações à sociedade. “Ainda é cedo para dizer se os gestores irão aplicar diretamente o que estamos desenvolvendo, mas houve interesse e aproximação. Esse já é um avanço”, concluiu Moreira.
Emanuel Galdino
Bolsista BGE-DA/IPEN-CNEN