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SAÚDE AUDITIVA
Hospitais da Rede Ebserh tratam surdez em usuários do SUS
Liz com seus pais, Iana Marinho e Douglas Menezes. Foto: arquivo pessoal.
- A surdez é dividida em três tipos.
- O implante coclear é um procedimento cirúrgico capaz de tratar surdez profunda.
- A terapia fonoaudiológica é indispensável no tratamento da perda auditiva.
- Comissão de Intérpretes do HUB-UnB, em Brasília, promove acessibilidade comunicacional.
- Em Aracaju, o HU-UFS é referência em implante coclear.
Brasília (DF) – Em 2021, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que, no Brasil, 2,3 milhões de pessoas tinham algum grau de surdez. Muitas ainda são as barreiras de inclusão na sociedade, mas a rede de hospitais vinculados à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) reforça a acessibilidade e a garantia de tratamentos para perdas auditivas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), neste Dia Nacional do Surdo (26), instituído pela Lei Federal nº 11.796/2008.
O médico otorrinolaringologista Marcos Rabelo, do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (CH-UFC/Ebserh), explica que a surdez pode acontecer por três causas, caracterizadas pela região em que são atingidas. Uma surdez relacionada à condução do som, ou seja, quando algum mecanismo condutor é afetado (tímpano e ossos do ouvido, por exemplo); outro tipo é considerado neurossensorial e acomete a cóclea, a estrutura mais interna do ouvido responsável pela função auditiva, ou o nervo e as vias auditivas. Um terceiro caso é de causa mista, com a surdez provocada por alterações tanto na condução do som, quanto na parte neural, decorrente de doenças como a otosclerose (degeneração que atinge o osso chamado estribo e pode se propagar pela cóclea). Diante desses três tipos, uma pessoa já pode nascer com surdez (por uma condição congênita) ou ela pode ser adquirida ao longo da vida (por algum trauma e tumor, por exemplo).
Tratamentos e reabilitação
O especialista Marcos Rabelo explica que os tratamentos variam de acordo com o tipo de surdez. Se a perda auditiva for provocada, por exemplo, por uma perfuração no tímpano, o procedimento cirúrgico no local resolverá o problema. No caso de problemas neurosensoriais, ele alerta que as perdas são irreversíveis e a reabilitação se dará por meio de aparelhos de amplificação sonora individuais. Esse é o caso da perda de audição provocada pelo envelhecimento (chamada tecnicamente de presbiacusia).
Quando a surdez é muito profunda e os aparelhos não são suficientes, existe a opção do implante coclear, analisado em cada paciente. Nesse procedimento, o médico explicou que um dispositivo é colocado no ouvido interno: “Através da cirurgia, um eletrodo é colocado no interior da cóclea, que é a estrutura mais interna sensorial do ouvido. Um mês depois, é ativado com um segundo dispositivo colocado atrás da orelha, com uma antena que captura o som e transmite para o dispositivo interno que vai estimular o nervo auditivo”.
Esse foi o método indicado para Letícia Teixeira, de 31 anos, paciente do HUWC submetida à cirurgia em 14 de setembro de 2023, a primeira etapa de seu tratamento. Ela era ouvinte, mas passou por um forte tratamento com antibióticos, em 2022, que resultou na perda auditiva profunda. Letícia está se recuperando bem e o próximo passo será dado em outubro, após o tempo médio de cicatrização, para a colocação do dispositivo externo. Dessa forma, a paciente poderá voltar a ouvir normalmente: “Estou bem melhor e ansiosa para voltar a escutar”, expressou.
Faz parte do processo de reabilitação auditiva a terapia fonoaudiológica para desenvolver a comunicação, melhorando a qualidade de vida do paciente. A fonoaudióloga Jeane Lima, do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza (HUBFS), do Complexo Hospitalar Universitário da Universidade Federal do Pará (CHU-UFPA/Ebserh), explica que, no caso de implante coclear em crianças, a terapia terá o objetivo de desenvolver e/ou estimular as habilidades auditivas (detecção, discriminação, reconhecimento e compreensão) e a linguagem oral. Em adultos que eram ouvintes, perderam a audição e receberam o implante, situação que Letícia do HUWC/Ebserh vivencia, o treinamento auditivo estimula as habilidades auditivas com o objetivo de reaprender a ouvir e favorecer a compreensão da fala e a comunicação, já que possuem repertório linguístico e memória auditiva.
Aracaju (SE) - Quem também foi beneficiada pelo implante coclear foi a pequena Liz Sophia, de apenas três anos. Sua mãe, Iana Vitória Marinho, de 26, contou que, por volta dos sete meses de idade da filha, começou a perceber que havia algum problema de audição, porque ela não correspondia aos chamados. Em fevereiro de 2022, Liz foi diagnosticada com surdez profunda bilateral. No dia 30 de março de 2022, foi submetida ao implante coclear no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS/Ebserh) e, em 4 de maio, o dispositivo externo foi ativado. Naquele momento, Liz pôde, pela primeira vez, ouvir os seus pais e todo o mundo ao seu redor e começar a desenvolver a fala: “O implante nos possibilitou ouvir um ‘amo mamãe’ e foi um dos momentos mais lindos que vivemos”, relatou Iana.
O serviço de implante coclear ou de prótese ancorada no osso, os dois tipos de cirurgia disponíveis no HU-UFS/Ebserh, existe desde 2016. Os procedimentos funcionam no sistema de “portas abertas”, sem necessidade de regulação pelo gestor local do Sistema Único de Saúde (SUS). O serviço recebe portadores de deficiência auditiva de Aracaju e de todas as regiões de Sergipe. Em Macambira, no agreste central, distante cerca de 58km de Aracaju, uma comunidade inteira de pessoas surdas, afetadas por um problema genético, tem sido beneficiada pelo ambulatório especializado.
Depois de implantado no HU-UFS/Ebserh, o paciente é acompanhado pela equipe multiprofissional em caráter indefinido. “O processo de reabilitação é muito pautado pela fonoaudiologia. Aprender a ouvir, aprender a falar, tudo faz parte de um caminho cuja extensão depende de cada paciente. Em caráter posterior, um paciente totalmente reabilitado comparece ao serviço, pelo menos uma vez ao ano, para que possamos acompanhar a evolução da sua audição e das suas necessidades”, detalhou a fonoaudióloga Fabiola Santos.
Inclusão e acessibilidade na saúde
Além da garantia ao tratamento e à reabilitação, a pessoa surda tem o direito à acessibilidade comunicacional. É nesse sentido que atua a Comissão de Intérpretes do Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB/Ebserh), da qual a técnica de enfermagem Kenia Watanabe, lotada na Unidade Saúde da Mulher (UMUL), é membro. Ela é pós-graduada como intérprete em Libras e tem ajudado a traduzir os atendimentos, quando solicitados, em consultas, exames e procedimentos cirúrgicos: “Nós estamos promovendo a autonomia e a liberdade para que o surdo seja inserido de forma justa no serviço de saúde”. Kenia explicou que existe também o interesse dos profissionais em aprender a língua de sinais e, por isso, a Comissão tem como projeto realizar capacitações para os trabalhadores da saúde.
Sobre o HU-UFS/Ebserh
O Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS) faz parte da Rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) desde outubro de 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Marília Rêgo, com revisão de Andreia Pires e Danielle Campos
Com informações da Unidade de Comunicação Regional 2 - Sergipe
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh