Notícias
INCLUSÃO
Saúde com identidade: Rede Ebserh aproxima saberes indígenas e atenção hospitalar
Nesta reportagem, você vai ver:
Brasília (DF) – No dia 19 de abril é celebrado o Dia Nacional dos Povos Indígenas. De acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com mais de 260 povos indígenas, população de cerca de 1,7 milhão de pessoas. Grande parte dela está concentrada no Norte (44,48%), seguida pelo Nordeste (31,22%) e pelo centro-oeste (11,80%). A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), por meio dos hospitais universitários federais, promove assistência à saúde voltada para este público.
Conforme a lei nº 8.080/90, as populações indígenas devem ter acesso garantido ao Sistema Único de Saúde (SUS), em âmbito local, regional e a centros especializados, de acordo com suas necessidades, compreendendo a atenção primária, secundária e terciária à saúde. Dentro dos cuidados, além dos programas e políticas inerentes a atenção à saúde, também é seguida a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI).
De acordo com Alídio Duarte, enfermeiro especialista em Saúde Indígena do Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM-UFMT/Ebserh), as patologias mais comuns nos atendimentos ambulatorial e hospitalar nos Hospitais Universitários Federais (HUF) da Rede Ebserh são as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs), doenças de pele e afecções respiratórias. Para atendê-los, os HUF buscam realizar uma atenção à saúde diferenciada, em respeito às especificidades de saberes e práticas tradicionais e a articulação com sistema oficial de saúde.
Humanização do atendimento
No HUJM-UFMT, a atenção aos povos indígenas está sendo estruturada por meio de parcerias com o Distrito Sanitário Especial Indígena de Cuiabá-MT (DSEI-Cuiabá). O objetivo é qualificar o atendimento à saúde indígena, com foco na humanização do cuidado, por meio de acolhimento, escuta atenta, ampliação do acesso, acompanhamento dos casos e respeito às especificidades culturais dos povos originários.
Entre as ações, destacam-se os atendimentos de algumas especialidades médicas com maior prevalência, como é o caso da Infectologia, Endocrinologia, Pediatria e Dermatologia. Ainda de acordo com o enfermeiro Duarte, dentro do contexto hospitalar, há inúmeros desafios que vão além da barreira linguística no processo de assistência em saúde e o cuidar. “As nuances envolvendo o fazer saúde indígena perpassa o caminho teórico para o lidar da prática assistencial no campo de atuação”, enfatizou o enfermeiro.
Ambulatório de saúde indígena
O Hospital de Doenças Tropicais da Universidade Federal do Tocantins (HDT-UFT/Ebserh) conta com um ambulatório de saúde indígena que funciona todas as sextas-feiras, a partir das 14h. O equipamento foi criado por meio de uma parceria entre DSEI Tocantins, UFT e HDT. No local, são atendidos crianças e adultos indígenas por meio da consulta com o médico de família (médico de família e comunidade, junto com os acadêmicos de medicina) e os pacientes são encaminhados para outras especialidades quando necessário.
De acordo com o médico de família e comunidade Filipe Brahiam, “foi criado um mecanismo de regulação para que os pacientes mais necessitados de consultas, assistidos pela Casa de Saúde Indígena (CASAI e os Polos Bases do DSEI Tocantins) possam ser atendidos aqui no hospital”.
Ainda segundo o médico, o equipamento também possibilita que os alunos possam vivenciar a prática e ter contato com os povos indígenas no hospital. “Ter esse contato faz parte da formação médica, algo que, felizmente, vem sendo acrescentado nas grades curriculares das melhores instituições. É muito diferente o atendimento de quem conhece a realidade de um povo, do que para quem não os conhece”, finalizou.
Intérprete de língua
O Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD) presta atendimento de forma acolhedora e humanizada valorizando os aspectos étnicos e culturais envolvidos na determinação das doenças, visando minimizar os conflitos entre o saber biomédico e o tradicional indígena. O Comitê de Saúde Indígena do hospital (CSIN) foi reestruturado em 2022. No ano passado, até o mês de novembro, foram realizados 1.200 internações, 1.009 consultas, 128 cirurgias e mais de 524 partos em pacientes indígenas.
Uma das ações do comitê foi a identificação de oito colaboradores falantes do idioma guarani para auxiliar com interlocuções. Além disso, em março de 2025 o HU-UFGD passou a contar com intérpretes da língua guarani, visando eliminar barreiras linguísticas que dificultavam a comunicação entre pacientes indígenas e profissionais de saúde. Outra ação realizada foi a inclusão de traduções no idioma guarani nas placas internas de maior circulação de pacientes, acompanhantes e visitantes indígenas.
Já o projeto de extensão “Por uma vinda bem-vinda”, idealizado por residentes em Obstetrícia, possibilita visita das gestantes à Unidade da Mulher e da Criança e rodas de conversas nos postos de saúde nas aldeias de Dourados (MS). O projeto busca ser um espaço permanente de diálogo e formação, com foco na divulgação dos direitos das grávidas e de seus familiares, promovendo um parto humanizado e um acompanhamento perinatal de excelência.
O HU-UFGD também está implementando o projeto de telessaúde para a população indígena, visando ampliar o alcance da assistência, facilitar o acesso destes pacientes, diminuir filas reduzindo o tempo de espera para o atendimento, reduzir os custos envolvidos nos atendimentos e otimizar recursos. De acordo Luciana Comunian, enfermeira especialista em saúde indígena, já estão sendo ofertadas teleinterconsultas de Psiquiatria, Reumatologia e Endocrinologia para a aldeia Jaguapiru do Polo Base de Dourados, além de atendimento em Ginecologia/Obstetrícia para gestantes de alto risco para o Polo Base de Japorã.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Redação: Paulina Oliveira, com edição de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social da Rede Ebserh