Galeria de Imagens
JULHO VERDE
Reabilitação multidisciplinar contribui para a saúde física e mental durante tratamento dos cânceres de cabeça e pescoço
Nesta matéria, você verá:
Brasília (DF) – Os cânceres que atingem a região da cabeça e pescoço, além de sua gravidade clínica, causam impactos em funções essenciais como a comunicação, a alimentação e a identidade visual dos pacientes. Isso porque, em grande parte dos casos, os tumores afetam estruturas visíveis e funcionais da face, exigindo cirurgias que deixam cicatrizes físicas e emocionais. Diante desse cenário, especialistas da Rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) reforçam a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e da assistência integral e multiprofissional.
Principais sinais de alerta para os cânceres de cabeça e pescoço
O cirurgião de cabeça e pescoço Leonardo Branco Aidar, do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), explica que os tipos de cânceres mais comuns são os de cavidade oral e de laringe, com maior incidência nos homens; e o de tireoide, com mais casos em mulheres. Os principais fatores de risco são o tabagismo e o consumo excessivo de álcool (para os cânceres que atingem a cavidade oral e laringe), e a exposição à radiação ionizante (muito comum no câncer de tireoide).
“O câncer de boca costuma aparecer como uma ferida que não cicatriza após 14 dias. No caso da laringe, o sinal de alerta é a rouquidão persistente por mais de 30 dias. Já o de tireoide, pode surgir como um nódulo no pescoço, muitas vezes só identificado por ultrassonografia”, descreve.
O diagnóstico clínico precoce, feito a partir da observação dessas lesões, possibilita uma intervenção mais rápida, informa o cirurgião Fábio Lopes, gerente de Atenção à Saúde do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr., da Universidade Federal do Rio Grande (HU-Furg). Ele alerta que, ao perceber qualquer sintoma que dure mais que três semanas, a assistência médica seja procurada.
“O tratamento do câncer de cabeça e pescoço é predominantemente cirúrgico. É o que mantém maior controle da doença e oferece a maior chance de cura”, esclarece Fábio Lopes. Ele destaca a radioterapia ou quimioterapia como complemento em casos mais graves, e os avanços recentes com o uso de terapias-alvo e imunoterapia, que vêm aumentando a sobrevida de pacientes com tumores avançados e considerados inoperáveis. Em situações mais graves, as cirurgias podem precisar retirar partes funcionais, mas há possibilidade de reconstruções com próteses 3D personalizadas.
Para a prevenção, o médico enfatiza os cuidados com a saúde de forma integral: não fumar, reduzir o consumo de álcool, manter alimentação saudável, praticar atividades físicas e vacinar-se contra o HPV.
Assistência psicológica e autoestima
Segundo Juliana Burlamaqui, psicóloga da Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) do Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí (HU-UFPI), os cânceres de cabeça e pescoço, em geral, comprometem face e voz, elementos fundamentais para a comunicação e construção da identidade. Isso impacta diretamente na vida social e emocional dos pacientes. “Há, muitas vezes, ruptura brusca na imagem corporal, gerando isolamento, esquiva social, sentimento de culpa, vergonha, além de não se reconhecer na imagem corporal alterada, afetando o que chamamos de referências identificatórios (como cada um se reconhece)”, relata.
Juliana aponta que o acompanhamento psicológico especializado é essencial desde o diagnóstico até a reabilitação: “O principal é criar espaço de escuta na tentativa de atribuir sentidos à experiência, à elaboração das perdas e desenvolver novos referenciais identificatórios.” Isso pode envolver o uso de ferramentas de comunicação alternativas, conforme conta Juliana, como gestos e escrita, ou dispositivos como válvulas fonatórias e laringe eletrônica, recursos disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Odontologia hospitalar no diagnóstico dos cânceres de boca e na reabilitação
A professora e coordenadora do Ambulatório de Estomatologia do Núcleo de Odontologia Hospitalar, do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC), Liliane Grando, explica que a odontologia hospitalar auxilia não só na prevenção e diagnóstico precoce, mas também no tratamento oncológico. “O conhecimento detalhado das estruturas da cavidade oral permite ao dentista identificar precocemente desordens orais potencialmente malignas e o câncer de boca”, afirma.
Os cânceres de boca podem acometer os lábios, gengiva, bochechas, céu da boca, acima ou embaixo da língua e a região de orofaringe. Entre os principais fatores de risco, além dos já mencionados anteriormente, está a exposição solar prolongada e sem proteção. Durante o tratamento oncológico, a odontologia auxilia no tratamento das alterações na mucosa oral provocada pelos efeitos da radio e quimioterapias.
Também, após a cirurgia, muitos pacientes enfrentam sequelas que comprometem a fala, a deglutição e a estética facial. Nessas situações, o dentista atua na eliminação de focos infecciosos e na reabilitação funcional, que pode incluir o uso de próteses bucomaxilofaciais.
Este foi o caso de Edilardo Freire, de 41 anos, paciente atendido pelo HU-UFPI. Ex-tabagista, ele procurou ajuda médica em 2022 após perceber um caroço no céu da boca (palato). Uma biópsia revelou um câncer. Submetido a duas cirurgias, Edilardo não precisou de quimioterapia ou radioterapia, mas passou a usar uma prótese obturadora. “Antes da prótese, eu não podia comer nada direito, até a água saía pelo nariz. Agora consigo comer normalmente. Agradeço primeiro a Deus e depois à equipe que cuidou de mim”, relatou. O atendimento foi realizado pelo Serviço de Odontologia Hospitalar do HU-UFPI, com atuação também de profissionais do Programa de Residência Multiprofissional em Assistência em Cuidados Intensivos.
Além dos cuidados cirúrgicos e das áreas da Odontologia e Psicologia, outras especialidades da saúde podem estar envolvidas na assistência aos tipos de cânceres de cabeça e pescoço, como a Fonoaudiologia, a Fisioterapia e a Terapia Ocupacional. O trabalho multidisciplinar é essencial para promover mais qualidade de vida ao paciente.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Marília Rêgo, com revisão de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social da Rede Ebserh