Galeria de Imagens
HUMANIZAÇÃO
Pequenos gestos de doação transformam o cuidado nos hospitais da Rede Ebserh
Brasília (DF) – Era madrugada, auge da pandemia, quando o anestesiologista Nilfácio Bezerra atendeu ao chamado de uma cesárea de urgência. “A paciente chegou triste e sozinha, então me pediu para ouvir Scorpions. No clímax de ‘Send me an Angel’, a bebê chegou como um anjo, igual à música. Agora, com um sorriso no rosto, a mãe me pediu para fazer uma fotografia, justamente um dos meus hobbies favoritos”, declarou o médico. Há oito anos, Nilfácio fotografa famílias durante partos que assiste na Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac), da Universidade Federal do Ceará. Histórias como essa revelam que cuidar também é ouvir e acolher.
A Meac é um dos 45 hospitais administrados pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) no país, com atendimento exclusivo pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A Rede investe não apenas na qualidade do atendimento, mas também na formação de profissionais comprometidos com a humanização da saúde. A empatia e a escuta ativa são vivências cotidianas que incentivam a gentileza e atravessam a formação e o trabalho de gestores, residentes, estudantes, técnicos, servidores e terceirizados.
É o caso de Ander Cavalcante, auxiliar de lavanderia do Hospital Universitário Onofre Lopes, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Huol-UFRN), que provou que a gentileza também pode ser um remédio eficaz. Nas datas comemorativas, Ander e outros colegas da equipe de Hotelaria dobram toalhas personalizadas em formatos lúdicos para as crianças internadas, a exemplo dos coelhinhos feitos na Páscoa, dos milhos no São João, das camisas no Dia dos Pais e dos ursinhos no Dia das Crianças. “Agora vamos pensar no design das toalhas para o Natal. É uma forma de alegrar as crianças com um gesto de carinho que oferece aos pacientes uma internação mais humanizada”, afirmou.
Aprendizado além da técnica
Nos corredores e leitos dos hospitais, um sorriso pode não curar uma doença, mas pode ajudar a enfrentar um dia difícil. E, às vezes, isso é o primeiro passo para qualquer tratamento dar certo. Nas residências e nos estágios supervisionados, os estudantes vivenciam situações em que o contato humano se torna decisivo. Comunicar más notícias, confortar familiares, lidar com o medo e a dor são momentos nos quais cada gesto de gentileza é ao mesmo tempo um ato de empatia e um exercício pedagógico.
A convivência hospitalar é um aprendizado sobre ciência e sensibilidade, e os estudantes já entenderam na prática que quem é bem acolhido adere melhor ao tratamento. “Cada paciente tem diferentes necessidades econômicas, emocionais, psicológicas e sociais. Então entender o sujeito na sua individualidade melhora o atendimento e a comunicação, além de evitar ou ajudar a mediar conflitos”, avaliou a assistente social Jaaresias Nascimento, residente do 1º ano do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Adulto e do Idoso do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes, da Universidade Federal de Alagoas (HUPAA-Ufal).
Para Izabelly Nunes, residente do 2º ano de Enfermagem do mesmo Programa de Residência, a interação com o paciente gera uma relação de confiança mútua. “Tratar o paciente pelo nome, perguntar como ele gosta de ser chamado, conhecer seu time de futebol, saber o que gosta de comer, tudo isso é diferencial na humanização do atendimento e na construção de prontuários afetivos. Eles se sentem mais confortáveis e confiantes no tratamento”, declarou.
Humanização também gera gentileza
A Política Nacional de Humanização (PNH) é uma iniciativa do SUS que busca qualificar a atenção e a gestão em saúde, promovendo o diálogo entre gestores, trabalhadores e usuários. Ela atua incentivando a participação cidadã, o respeito aos direitos, a valorização dos trabalhadores e a construção de ambientes de saúde mais acolhedores e resolutivos. Nesse sentido, os Grupos de Trabalho de Humanização (GTH) dos hospitais da Rede Ebserh atuam incentivando, também, a prática da gentileza dentro da comunidade hospitalar.
Para a coordenadora do GTH do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), Rosângela Caratta, humanizar o atendimento ajuda a cuidar não apenas da doença, mas também das emoções e da dignidade de cada paciente. "À medida que o GTH incentiva as ações de humanização — seja através da melhoria dos espaços físicos, do respeito às questões culturais de cada indivíduo ou da promoção da qualidade de vida —, torna-se possível perceber o olhar mais atento e cuidadoso dos profissionais com os pacientes, fazendo com que a gentileza gere gentileza”, avaliou.
Marcella Vaz tem 27 anos e, desde os seis, faz tratamento para insuficiência aórtica, uma condição cardíaca que tem sintomas como falta de ar e palpitações, podendo levar até a morte súbita. Ela contou que desde a infância “vivia mais no HC-UFU do que em casa” e que o acolhimento de toda a equipe fez com que o tratamento se tornasse menos doloroso ao longo de duas décadas.
“Não me lembro desses momentos com dor, pois o apoio da equipe me fez passar por isso de forma muito leve. Enquanto esperava a hora dos exames, eu fazia oficina de pintura, me divertia na brinquedoteca, recebia lanche da equipe. São pequenos gestos de gentileza e empatia que, pra gente, significa muito. Por isso, lembro desses momentos com muito carinho e gratidão até hoje”, relatou Marcela, que agora só precisa ir ao hospital uma vez ao ano.
No Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí (HU-UFPI), o Grupo de Trabalho de Humanização Hospitalar (GTHH) faz sucesso com o projeto “Aniversário Feliz”, no qual a equipe providencia bolo, balão de festa com cartaz de felicitação e canta “Parabéns” aos aniversariantes internados. A coordenadora do GTHH do HU-UFPI, Roxana Mesquita, contou que muitos deles nunca tiveram aniversário celebrado fora do hospital. “Esses momentos são muito terapêuticos e acabam contagiando toda a equipe a adotar gestos de gentileza não somente dentro das ações do Grupo de Trabalho, mas no dia a dia dos atendimentos aos pacientes”, garantiu Roxana.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Suzana Gonçalves, com edição de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh