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EPIDEMIOLOGIA
Hospitais da Rede Ebserh se destacam em assistência e pesquisa contra Doenças Tropicais Negligenciadas
30 de janeiro foi escolhido pela Assembleia Mundial da Saúde para ser o Dia Mundial das Doenças Tropicais Negligenciadas, doenças infecciosas e parasitárias que prevalecem em regiões tropicais e subtropicais. Imagem ilustrativa: freepik
Brasília (DF) – “Hoje estou me sentindo outra pessoa”. Esse é o relato do paciente Waldomiro Antônio Filho, 64 anos, após iniciar o tratamento de leishmaniose tegumentar no Hospital Universitário da Universidade Federal de São Carlos (HU-UFSCar/Ebserh). A leishmaniose é uma das patologias que integra o grupo de Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs). São cerca de 20 tipos de enfermidades que afetam mais de 1 bilhão de pessoas no mundo e são impulsionadas pela desigualdade social.
De acordo com o Ministério da Saúde, a leishmaniose tegumentar é uma doença infecciosa não contagiosa, caracterizada pela formação de úlceras na pele e nas mucosas. A transmissão da doença para os seres humanos ocorre por meio da picada de fêmeas infectadas de flebotomíneos, um tipo de inseto semelhante a uma pequena mosca.
“Os sintomas começaram após uma ida minha a um rancho que eu tenho próximo ao Rio Mogi Guaçu, no município de São Carlos, gosto de pescar por lá”, detalha Waldomiro, que mostrou fotos do ferimento na perna e a sua cicatrização após o início do tratamento no HU-UFSCar. “Passei por maus bocados, mas depois que fui para o hospital as coisas mudaram, o tratamento foi excelente”, comemorou, avisando que já tem um retorno marcado para o HU em fevereiro.
Conscientização
O 30 de janeiro foi escolhido pela Assembleia Mundial da Saúde para ser o Dia Mundial das Doenças Tropicais Negligenciadas, doenças infecciosas e parasitárias que prevalecem em regiões tropicais e subtropicais. O termo “negligenciadas” vem do baixo empenho na erradicação desse grupo de patologias que acometem desproporcionalmente pessoas pobres, cujo acesso a estruturas sanitárias são precarizadas. As DTNs provocam cerca de 100 mil mortes por ano em todo o mundo, de acordo com dados da Global Burden of Disease.
Informações do Ministério da Saúde (MS) apontam que as doenças mais comuns no Brasil são: hanseníase, febre chikungunya, esquistossomose, filariose linfática, geo-helmintíases, oncocersose, tracoma, doença de Chagas, leishmanioses, raiva, hidatidose, escabiose (sarna), micetoma e cromoblastomicose. Elas ocorrem nas diversas regiões do país, sendo o Norte e Nordeste - áreas mais pobres do Brasil - as principais afetadas.
“Por serem doenças tipicamente de países em desenvolvimento, há pouco interesse da indústria farmacêutica no financiamento de pesquisa na área, visto que o retorno financeiro é incerto”, explica Fábio Neves, médico Infectologista e superintendente do HU-UFSCar. “Nesse contexto, cabe ao estado financiar o desenvolvimento de novas tecnologias para o combate a esses agravos. A universidade pública deve ser a entidade executora desses estudos, sempre focados nas necessidades do sistema de saúde”, completa.
Avanços no combate à doença de Chagas
No Norte do Brasil, Luana Layane enfermeira do Centro de Pesquisa do Hospital Universitário da Universidade Federal do Amapá (HU-Unifap/Ebserh) é a responsável por uma pesquisa que tem repercutido no cenário nacional sobre doença de Chagas adaptada à região Amazônica. A adaptação é devido às características únicas da região, que envolvem alta endemicidade, presença de vetores, populações vulneráveis e soladas, desafios logísticos e impacto ambiental e social.
“A relevância deste estudo para o segmento de pesquisa do HU-Unifap e para os pacientes do SUS está diretamente ligada ao avanço no conhecimento sobre a Doença de Chagas e à melhoria na qualidade do atendimento”, destaca Layane. “Para o HU-Unifap, o estudo fortalece a instituição como um polo de pesquisa científica, promovendo o desenvolvimento de métodos de avaliação clínica e operacional que poderão ser utilizados em futuros ensaios clínicos”.
O estudo, motivado pelas limitações dos tratamentos disponíveis, bem como pelos efeitos colaterais insatisfatórios, tem como objetivo analisar dados demográficos, a evolução clínica e as características da doença em pacientes com Chagas aguda, visando contribuir para o desenvolvimento de tratamentos futuros e avaliar a viabilidade de ensaios clínicos.
Cuidado e atenção
No Tocantins, o Hospital de Doenças Tropicais da Universidade Federal do Tocantins (HDT-UFT/Ebserh) também tem desempenhado papel importante sendo referência na prevenção e tratamento das DTNs. O HDT tem como algumas de suas demandas principais os casos de hanseníase, sendo o Brasil o 2º país no mundo entre os que registram casos novos. Outras doenças, como leishmaniose, doenças de chagas e raiva também são comuns.
A atuação desempenhada pelo HDT, em conjunto com os demais hospitais que integram a Rede Ebserh, dialoga com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nº 3, que até 2030 visa acabar com a epidemia de doenças tropicais negligenciadas. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) é ferramenta primordial na busca por esses resultados, tendo em vista que o tratamento de boa parte dessas doenças está vinculado a programas governamentais organizados nas diversas esferas do SUS, como observa Alessandra Silvério, médica do HDT-UFT.
“Ao trazer atenção renovada para as DTNs, chamamos a atenção para gerar vontade política, mobilizar recursos, e colocar os indivíduos e as comunidades no centro. Desta maneira é possível gerar coletivamente a atenção e os recursos necessários para o enfrentamento desses agravos, bem como promover mudanças no cenário social das comunidades mais afetadas”, conclui.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Redação: Elizabeth Souza com revisão de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social da Rede Ebserh