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29 DE JANEIRO
Dia da Visibilidade Trans destaca luta por direitos e combate à transfobia
Nesta reportagem, você vai ver:
Passos para um atendimento mais respeitoso e inclusivo
Avanços nas políticas públicas
Brasília (DF) – Um apelo por direitos e respeito. Essa frase resume o objetivo do Dia da Visibilidade Trans, celebrado oficialmente em 29 de janeiro. A data, instituída em 2004 pelo Ministério da Saúde (MS), tem como principal objetivo promover a conscientização sobre os direitos e os desafios enfrentados pela população transgênero, reforçando a importância da inclusão, do respeito e da igualdade.
Na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), ações são desenvolvidas para acolher, tratar e acompanhar as pessoas trans nos 45 hospitais universitários da rede. "A Ebserh tem uma grande importância nacional em vários espaços voltados ao cuidado à população trans. Nosso atendimento possui três eixos. O primeiro é o Transgesta, que realiza o pré-natal e o parto para homem trans, um cuidado que pede muita sensibilidade. Lançamos em 2024 a caderneta de pré-natal de homem trans, a primeira do Brasil, e estamos ampliando o programa para os hospitais da nossa rede que realizam pré-natal e parto”, afirmou a diretora de Atenção à Saúde da Ebserh, Lumena Furtado.
A diretora acrescentou que o segundo eixo é o cuidado transexualizador, um atendimento ambulatorial e cirúrgico feito em várias unidades para pessoas trans e intersexo. “O terceiro é mais abrangente e consiste em garantir atendimento dentro da nossa rede em qualquer área que as pessoas trans necessitem, sem preconceito e de forma equânime", completou Lumena.
Passos para um atendimento mais respeitoso e inclusivo
O Programa Transgesta foi iniciado na Maternidade Climério de Oliveira (MCO-UFBA), em Salvador, no ano de 2021, tornando-se, desde então, referência no atendimento à população trans na Bahia. A unidade também lançou, de forma inédita, a caderneta de pré-natal de homem trans com parceria de outros serviços. Desde a criação do programa, 11 pessoas foram atendidas.
“Essa caderneta favorece a comunicação, compreende as peculiaridades de uma gestação de pessoas trans e aborda questões de identidade de gênero e orientação sexual. Ela é baseada na caderneta da gestante do MS, mas com uma linguagem neutra, garantindo o entendimento de que outros corpos gestam, não apenas pessoas cis heteronormativas”, afirmou Fanny Barral, chefe da Unidade de Saúde da Mulher da MCO.
Ela destacou que um dos temas abordados na caderneta é o aleitamento. "Em casais trans, nem sempre a pessoa que pariu será quem amamenta. A parceria também pode exercer esse papel. Por isso, trabalhamos a indução da lactação, que é um direito dessas pessoas. Esse tipo de aleitamento não é cruzado, pois há um grau de parentalidade. Essa ainda é uma grande barreira enfrentada, inclusive entre profissionais da saúde", esclareceu Fanny. Confira caderneta na íntegra clicando AQUI
Como forma de contribuir para um melhor acolhimento, a maternidade deu uma atenção especial também à ambiência. “Quando o público trans chega à maternidade, muitas imagens retratam mulheres amamentando ou casais heteronormativos, o que pode causar uma sensação de não pertencimento. Aqui na MCO, buscamos criar um ambiente mais acolhedor, onde no Banco de Leite Humano (BLH) há representatividade de diferentes tipos de casais. Essa é uma forma de humanizar e melhorar o acolhimento", explicou a chefe da unidade.
Boas práticas se multiplicam
A Maternidade Escola da UFRJ foi a segunda da Rede Ebserh a implementar o Transgesta, ao realizar, em dezembro de 2024, seu primeiro parto de homem trans. O chefe da Divisão Médica e responsável pelo parto, Jair Braga, explicou que toda a equipe multiprofissional passou por treinamento para o adequado acolhimento dessas pessoas, especialmente no uso correto dos pronomes e tratativas.
"Tive o privilégio de realizar o primeiro parto, uma experiência enriquecedora e emocionante. Ver essas pessoas incluídas de forma digna na sociedade, conforme preconiza a Constituição, é gratificante", afirmou Jair. Foi um parto cesário de 39 semanas. Segundo o médico, o paciente também optou por amamentar sua bebê. “O contato pele a pele durante a cesariana foi um momento especial. Ele amamentou logo após o nascimento e continua amamentando”, completou Jair, frisando que o paciente segue seu acompanhamento no pós-operatório.
O médico destacou que a unidade já está inserida no Sistema Estadual de Regulação como referência para o pré-natal Transgesta e no sistema municipal (SISreg), promovendo a inclusão de pessoas trans no atendimento pré-natal. “Já estamos com o segundo homem trans em acompanhamento junto com o seu parceiro. Estamos preparados para receber o cidadão com muito respeito. Só desejamos que tenham uma experiência boa e inclusiva e que possamos compartilhar essas boas práticas com outras unidades hospitalares que queiram fazer a mesma coisa”, frisou Jair.
Avanços
Em dezembro de 2024, o Programa de Atenção à Saúde da População Trans (Paes Pop Trans) da Secretaria de Atenção Especializada à Saúde (Saes), do Ministério da Saúde, anunciou investimentos de R$ 152 milhões até 2028, sendo R$ 68 mi em 2025. A estimativa é de 36 serviços ambulatoriais e 23 serviços cirúrgicos habilitados para 2025, e a ampliação para 153 serviços ambulatoriais e 41 serviços cirúrgicos habilitados até 2028.
Transformando vidas
Em Sergipe, o Hospital Universitário de Lagarto (HUL-UFS) é o único especializado no processo transexualizador na modalidade ambulatorial no SUS. Atua desde 2016, mas só a partir de 2018, com a adesão à Ebserh, foi possível a ampliação dos atendimentos e serviços ofertados.
De acordo com a chefe da Unidade de Ambulatório Transexual, Amanda Vitório Oliveira, já foram atendidas 450 pessoas. Ele funciona com porta aberta, toda quinta-feira, e conta com equipe multidisciplinar: enfermagem, nutrição, terapia ocupacional, farmácia, fonoaudiologia, endocrinologia, psicologia, psiquiatria, urologia, ginecologia e obstetrícia.
“Realizamos atendimentos aos usuários pelo nome social, com pronomes adequados, de forma integral, com profissionais preparados, temos oferta de consultas, serviço de teleatendimentos, oferta de exames de laboratório e imagens, como também dispensação e administração dos hormônios pelo próprio ambulatório”, destacou Amanda.
No Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (HUGG-Unirio), são realizados, em média, dois procedimentos por mês para a afirmação de gênero. São as cirurgias que ajustam o corpo do paciente à sua identidade de gênero. Mayra Vasconcelos Rangel, 28 anos, recepcionista, é uma mulher trans e passou pela cirurgia de redesignação genital em novembro.
“Fui bem acolhida desde a entrada no hospital, pelo pessoal da nutrição, enfermeiras, as meninas que levavam nossa comida, pessoal da limpeza, psicóloga, assistente social e os médicos. Fui totalmente assistida e amparada, em todos os oito dias que fiquei internada. É um hospital público e recebi um atendimento impecável e humano, tanto no pré, quanto no pós-cirúrgico”, frisou Mayra, que iniciou a terapia hormonal aos 18 anos.
De acordo com o cirurgião responsável pelos procedimentos no HUGG-Unirio, André Cavalcanti, o paciente passa por um processo de transição, que se inicia normalmente com a questão social. Depois, esse paciente é acompanhado pela endocrinologia e pela saúde mental. No Sistema Único de Saúde (SUS), o paciente tem que percorrer uma trajetória de dois anos, com acompanhamento multidisciplinar, para que venha a realizar o procedimento cirúrgico.
Os pacientes pós-cirúrgicos continuam recebendo atendimento especializado no HUGG-Unirio. “Hoje me sinto como uma borboleta que passou por todo o seu processo, desde lagarta criando seu casulo e, finalmente, podendo voar livre por aí. Acho que essa é a sensação que me define hoje. Liberdade de poder ser quem sou, com minha autoestima totalmente elevada, realizada e feliz. Gratidão por ser uma mulher guerreira, por não ter desistido de caminhar para chegar até onde cheguei, com toda a minha bagagem de vida e trajetória”, finalizou Mayra.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Redação: Danielle Morais, com contribuição de Pollyana Freitas e revisão de Danielle Campos e Vanda Laurentino
Coordenadoria de Comunicação Social da Rede Ebserh