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Mulheres na ciência foi o tema da quarta edição dos Encontros de Tecnologia e Inovação
“Ciência, tecnologia e inovação: transformando a vida das mulheres”. Foi esse o tema da quarta edição dos Encontros de Tecnologia e Inovação, evento mensal promovido pelo CTI Renato Archer para apresentar para os servidores e para o público as diversas pesquisas realizadas na Instituição. Realizado na quarta, dia 20 de agosto, no auditório da Unidade de Pesquisa, o encontro reuniu no palco a diretora Juliana Daguano, as servidoras Paula Midori Kaneko e Clarissa Loureiro e, pela primeira vez, uma convidada externa: Carla Macario, pesquisadora da Embrapa Agricultura Digital.
Daguano deu início ao ciclo de palestras com um apanhado histórico sobre a presença feminina no CTI Renato Archer desde a sua fundação, em 1982. Na época, apenas 11 das 34 pessoas que integravam o seu quadro de profissionais eram mulheres. Hoje, passados 43 anos, a proporção permanece a mesma: são 120 mulheres, entre bolsistas, servidoras e colaboradoras, em um total de 357 pessoas. Como a primeira mulher diretora da Instituição, Daguano tem se esforçado para mudar essa realidade, apontando mulheres para cargos de chefia e de liderança internos. Foi durante a sua gestão que tomaram posse as duas primeiras mulheres negras em cargos de tecnologista. Ela também destacou a paridade de gênero entre os bolsistas do CTI – são 51 mulheres e 53 homens.
Em seguida, Carla Macario trouxe dados sobre a agricultura no Brasil, celebrando o papel decisivo das pesquisadoras Johanna Döbereiner e Mariangela Hungria no aumento da produtividade agrícola brasileira. Também ressaltou o papel das mulheres na agricultura familiar e destrinchou o projeto de inclusão digital para mulheres do campo desenvolvido por ela na Embrapa. Macario lembrou que, no início, a Embrapa Agricultura Digital ficava situada dentro do CTI Renato Archer, e sugeriu que as duas instituições colaborem no desenvolvimento de tecnologias que beneficiem as mulheres na agricultura: “tem muita coisa que dá para a gente fazer junto”, afirmou.
Paula Midori Kaneko deu continuidade às apresentações com um relato dos inúmeros obstáculos que teve que atravessar enquanto mulher ao longo da sua formação e carreira: a ideia que engenharia “não é lugar para mulher”, a preponderância de homens nos corpos docentes e discentes das universidades e entre colegas de trabalho, situações de discriminação e assédio. Ela trouxe ainda uma série de notícias e dados sobre desigualdade salarial, o impacto da jornada dupla (no trabalho e em casa) na progressão profissional e a escassez de lideranças femininas na tecnologia. “Para chegar até aqui, nós mulheres sofremos muita coisa. A gente é obrigada a ser mais forte, mas nem todas vão ter essa estrutura; essa realidade é o que a gente não quer que se repita”, declarou.
Finalizando a rodada de painéis, Clarissa Loureiro ecoou o posicionamento de Kaneko, observando que as violências e obstáculos relatados “é o que impede que mulheres façam o trabalho em tecnologia”. A tecnologista sublinhou o papel social da ciência, ainda mais premente no contexto de instituições públicas, e advogou por bancas de seleção de concursos e de projetos mais diversas. Ela apresentou o projeto de imersão científica voltado a meninas do ensino médio que ganhará sua primeira edição em janeiro de 2026: durante quatro semanas, 15 adolescentes farão parte de uma jornada de aprendizados em C&T dentro do CTI Renato Archer. O projeto inclui ainda banca de estudos, mentorias e possibilidade de estágios.
As apresentações foram seguidas por um debate entre as painelistas e o público, no qual foi defendida a importância de ampliar iniciativas de inclusão para outros grupos marginalizados, como ações voltadas especificamente para mulheres trans e para pessoas não-brancas. Da plateia, a servidora Letícia Muniz lembrou: “ambientes mais diversos favorecem a inovação” – e inovar, afinal, é a vocação do CTI Renato Archer.

