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Gestores da Ásia e das Américas discutem resíduos eletrônicos em evento organizado pelo CTI Renato Archer

- Representantes do CTI Renato Archer, do governo brasileiro e dos dez países participantes na foto oficial da IEMN 2025.
Com o crescimento do consumo de aparelhos eletroeletrônicos ao redor do globo, aumenta também a quantidade de celulares, computadores, televisores e outros equipamentos jogados no lixo quando chegam ao fim de sua vida útil. Cheios de elementos tóxicos como cádmio, chumbo e mercúrio, esses resíduos podem contaminar o meio ambiente se descartados de forma inadequada. Se reciclado, entretanto, o e-waste torna-se uma fonte valiosa de recursos preciosos, como ouro e prata, além, claro, de todos os componentes que podem ser reaproveitados na confecção de novos dispositivos.
É para debater os desafios e oportunidades representados pelos resíduos eletrônicos que foi criada a International E-Waste Management Network (IEMN), rede internacional de gestores públicos dedicada a discutir políticas e avanços tecnológicos relacionados ao gerenciamento desse lixo. Criada em 2011 pela EPA – a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos – em parceria com o Ministério do Meio Ambiente de Taiwan, a IEMN faz reuniões anuais em diferentes países-membros.
“Desde o IEMN de 2017, em Jacarta (Indonésia), sediar o IEMN no Brasil era um sonho”, diz Marcos Pimentel, servidor do CTI Renato Archer e participante assíduo das reuniões da rede. Em 2025, esse sonho finalmente tornou-se realidade: gestores de dez países desembarcaram em São Paulo, entre os dias 15 e 18 de setembro, para acompanhar uma programação intensa de palestras, debates, apresentações e visitas técnicas.
O evento foi promovido pelos EUA e Taiwan e organizado pelo CTI Renato Archer, que desde 2006 desenvolve tecnologias em prol da economia circular. "Mesmo antes do marco regulatório, a gente já fazia pesquisa sobre recuperação de eletroeletrônicos", lembrou a diretora da instituição, Juliana Daguano, em seu discurso na abertura da reunião, referindo-se à Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010. Além de Pimentel, os servidores Sebastião Eleutério Filho, Gabriel Brasil e Allan da Silveira, da Divisão de Projetos, Análise e Qualificação de Circuitos Eletrônicos, articularam as atividades da semana, que iniciou com um dia inteiro de visita às plantas de logística reversa da Reciclo Inteligência Ambiental e da Ambipar.
A abertura oficial ocorreu no dia seguinte, com mensagens em vídeo de Victoria Tran, representante do Office of International and Tribal Affairs da EPA, e de Peng Chi-ming, Ministro do Meio Ambiente de Taiwan. Em seguida, discursaram Thaianne Fabio, Diretora de Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), e Hugo Valadares, diretor do Departamento de Ciência, Tecnologia e Inovação Digital no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que destacou a parceria com o CTI Renato Archer em ações de integração entre tecnologia e sustentabilidade.
Botando IA no e-waste
Em seu discurso, Valadares focou no Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, instrumento coordenado pelo MCTI para o desenvolvimento tecnológico com foco em ética, segurança, inclusão e transparência. “Do ponto de vista da IA, estamos uma corrida pela compra de grandes computadores de alto desempenho, e pouco está sendo pensado sobre o que vai ser feito com esses computadores quando acabar a sua vida útil. Então é importante que a gente faça debates como esses e que a gente chegue num consenso mundial, discutindo com as outras organizações e países”, afirmou.
IA também foi o tema de uma rodada de apresentações e de um workshop ministrados por uma equipe da Divisão de Metodologias da Computação do CTI Renato Archer, liderada pelo pesquisador Rodrigo Bonacin. Na atividade em grupo, os gestores internacionais presentes receberam estudos de caso e utilizaram diferentes ferramentas de visão computacional, de síntese e tratamento de dados e de geração de conteúdo na concretização de tarefas relacionadas ao gerenciamento de resíduos. O objetivo da oficina foi demonstrar as potencialidades da Inteligência Artificial em diversos setores da administração do e-waste, da identificação de componentes em resíduos à conscientização do público, passando pela formulação de políticas públicas e pela sintetização de documentos complexos em informações estruturadas.
Além do foco em IA, tecnologias como o Digital Product Passport – mecanismo de rastreamento capaz de acompanhar todo o ciclo de um produto, da fabricação ao descarte - foram pauta de outros painéis, que colocaram em diálogo acadêmicos, empresários e representantes do terceiro setor.

- Rodrigo Bonacin, Fernando Zagatti, André Regino e Filipe Loyola, da DIMEC, na apresentação sobre IA e e-waste.
Políticas do lixo
O cerne da reunião IEMN, entretanto, é a troca de informações e experiências em políticas públicas. Gestores da Argentina, Chile, Colômbia, Filipinas, Malásia, Tailândia, Taiwan, Estado Unidos e Vietnã puderam compartilhar as diferentes abordagens de seus países em relação ao problema do lixo eletrônico, das mudanças legislativas aos desafios de implementação de políticas.
O Brasil teve um dia inteiro dedicado às suas ações, com apresentações e debates que envolveram representantes do MCTI, do MMA e dos Ministérios do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e das Comunicações (MCOM). Além do CTI Renato Archer, outra Unidade de Pesquisa do MCTI marcou presença no evento: o Centro de Tecnologia Mineral (CETEM), na figura de Lucia Helena Xavier. A pesquisadora fez uma apresentação sobre mineração urbana no Painel Acadêmico, no qual participou ao lado de Sebastião Eleutério Filho – que falou do projeto REMATRONIC de recuperação de materiais estratégicos a partir de placas eletrônicas descartadas, desenvolvido no CTI Renato Archer –, com mediação da diretora do CTI, Juliana Daguano.
“Consideramos o evento um grande sucesso. Recebemos inúmeros elogios dos participantes brasileiros e, especialmente, dos representantes internacionais” afirma Pimentel. “Alcançamos nosso principal objetivo: demonstrar como a inovação, por meio de tecnologias digitais e da inteligência artificial, pode transformar e otimizar significativamente o gerenciamento de resíduos eletrônicos em escala global. Queríamos plantar essa semente entre os convidados, pois, como tecnologistas, acreditamos profundamente nesse caminho”, concluiu.

- Oficina ministrada pela equipe da DIMEC sobre ferramentas IA aplicadas ao gerenciamento de resíduos.
Saiba mais: https://www.gov.br/cti/pt-br/assuntos/noticias/reuniao
