Ignácio Sánchez: da matemática doméstica à inteligência artificial no Nordeste
Quem não tem um professor que marcou a sua vida? Seja pela exigência e rigor, seja pelo carinho, cuidado e atenção conosco. Ou ainda, por servir como uma inspiração, como motivação profissional. O pesquisador do Cetene, Ignacio Sánchez Gendriz teve dois e um deles era seu pai, também Ignácio Sánchez. Foi em casa, no interior de Santiago de Cuba, que o professor de matemática Ignácio começou a adicionar e multiplicar a admiração e curiosidade do filho pelos números, cálculos e algoritmos.
Esse entusiasmo impulsionou o menino nos anos escolares iniciais. Lá, ele também encontrou terreno fértil, que estimulava a participação dos alunos em olimpíadas de conhecimento. Também nesta época, já aos 14 anos, ele conheceu o segundo professor que lhe marcaria, José Arce Salinas, também de matemática. “Eu fiz parte de um grupo bastante multidisciplinar, que tinha colegas competindo em física, química, biologia e história, mas também em matemática. Essa formação me estimulou a aprofundar estudos e pesquisas”, relembra Ignácio.
A consequência dessa relação foi a escolha pela graduação em Engenharia Automática, na Universidad de Oriente (Cuba), onde também fez seu mestrado em automação. Nessa fase, começava a consolidar a sua interlocução com outros campos científicos, em específico a área de saúde. A migração para o Brasil aconteceu com o doutorado, na USP, o que também transformou sua pesquisa. Nesse momento, ingressou de vez no campo da inteligência artificial e machine learning, focando em análise de dados e modelagem computacional.
Esse perfil de atuação trouxe o pesquisador até o Cetene. “Quero desenvolver tecnologias de inteligência artificial, métodos e algoritmos de aprendizagem de máquina que possam dar suporte às pesquisas estratégicas do Nordeste, em áreas como saúde, epidemiologia e ecologia. Mas também consolidar a importância e a identidade dessa área aqui no Centro”, afirma. Para ele, dados não são apenas números frios: "Dados carregam informações essenciais de qualquer aspecto social. Essa abordagem de usar de forma certa modelos de IA pode dar suporte para diversas áreas estratégicas".
A Inteligência Artificial que Ignácio emprega no laboratório é a mesma que ele já enxerga e percebe como espalhada no cotidiano de crianças, idosos, das pessoas em geral. Por isso mesmo, acredita que esta é uma tecnologia com forte potencial para melhorar a qualidade de vida da população. Ao mesmo tempo, ressalta o uso estratégico desse tipo de aplicação na gestão de políticas públicas, como por exemplo no controle na área de saúde em geral.
Ao fim, o que Ignácio também pretende promover é o diálogo entre sociedade, em sua vida diária e a ciência e tecnologia. Permitindo com isso que as pessoas se apoderem e compreendam do valor do conhecimento, renovando o ciclo que o levou de uma comunidade no interior cubano ao Centro de inovação nordestino.
“Acredito que em cada rincão de cada lugar existem talentos que podem crescer quando se tem oportunidades. Desses lugares podem sair sempre excelentes pesquisadores, excelentes pessoas. Gostaria que a minha atuação contribuísse com isso. Fazer com que essa ciência e tecnologia toque as pessoas", conclui.