Carla Oliveira: uma profunda identidade com o Nordeste
Antônia Carla de Jesus Oliveira carrega o Piauí por todos os caminhos que percorre. É assim com a pedra de opala presente em seu colar, como também no propósito de desenvolver novos produtos sustentáveis que possam colaborar tanto com o desenvolvimento e melhorias de processos industriais no Nordeste, quanto com a melhoria da qualidade de vida da população local. “Somos uma região muito rica, muito diversa, mas ainda com áreas de grande vulnerabilidade”, resume.
Biomédica de formação, pela Universidade Federal do Piauí, Carla logo iniciou uma transição para a área de materiais e para a chamada química verde. Parte importante dessa virada se deve à professora Durcilene Alves, que a orientou num programa de iniciação científica. Avançou nesse contexto a partir do estudo de biopolímeros advindos do bioma caatinga, com o mestrado em biotecnologia, também na UFPI, onde estudou aplicações para a goma do caju. Depois seguiu com o doutorado em inovação terapêutica, realizado na UFPE.
A curiosidade para fazer e investigar as possibilidade de superar problemas por meio do conhecimento e da pesquisa já estavam presentes desde a infância. “Eu lembro de contar à minha mãe que queria ser cientista desde os meus 6, 7 anos. Naquela época minha motivação era a de ‘descobrir as coisas’ e hoje eu continuo me sentindo muito realizada em investigar materiais, observar estruturas, testar misturas e reações”, conta a pesquisadora.
Antes de sua chegada ao Cetene, ela criou um espaço para fazer as suas experimentações quando foi uma das fundadoras da startup GumLifeBrasil, focada na produção sustentável de biopolímeros, que podem ser entendidos como bioplásticos com usos variados na indústria, mas com baixo impacto ambiental: uma postura que reafirma seu perfil de impactar de forma concreta e prática o seu contexto de atuação.
Ao chegar ao Cetene, sua intenção é a de consolidar seus esforços para promover o desenvolvimento social da região com foco em bioeconomia. Neste cenário se articula por um lado a reutilização de resíduos das cadeias produtivas locais, como a leiteira, da cana-de-açúcar, ou vinícola, por exemplo, o que valoriza as vocações regionais. Por outro, a produção de novos bioprodutos baseados em elementos do bioma caatinga para substituir materiais mais caros e mais poluentes.
“Eu enxergo o uso da biotecnologia como uma ferramenta de melhoramento, que visa substituir algo derivado do petróleo. Sacolas plásticas, embalagens, trazer alternativas para o mercado. O futuro é verde. Além disso, se passarmos a produzir tudo isso localmente, é possível buscar o barateamento desses insumos”, defende.
Esse conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes reforçam a crença de Carla Oliveira de que o papel da ciência é o de contribuir para uma soberania nacional, ao mesmo tempo em que busca soluções para problemas sociais e contribui para o bem-estar, dignidade humana e melhoria da qualidade de vida.