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Coordenadora de área da Capes fala sobre panoramas e desafios da pós-graduação em física no Brasil no CBPF
A coordenadora da área de Física e Astronomia da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Kaline Coutinho, foi a mais recente convidada dos Colóquios 2025 do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Nessa edição, realizada no dia 26 de setembro, a coordenadora falou para discentes e docentes da área sobre “Panoramas e desafios da pós-graduação em física no Brasil”.
Professora titular da Universidade de São Paulo (USP), Kaline Coutinho é a primeira mulher a ocupar a Coordenação da área na Capes e a direção do Instituto de Física da USP. No CBPF, compartilhou sua experiência apontando para as mudanças e tendências do novo modelo de avaliação da Capes relacionado a cursos e programas de pós-graduação stricto sensu no Brasil.
Para mostrar a importância das alterações, a professora construiu um contexto histórico, explicou as tendências – principalmente nas áreas de Física e Astronomia -, e destacou as categorias que serão avaliadas nos próximos anos.
Contexto histórico da física
Com um panorama iniciado na década de 1990, Coutinho contextualizou os processos institucionais e avaliativos a partir da coleta e análise de dados das informações acumuladas ao longo dos anos. Em 1998, houve a padronização das fichas de avaliação, criando assim parâmetros pertinentes, como a classificação do Qualis para os periódicos: “Na Física, são publicados 15 mil artigos em um quadriênio. Como é impossível olhar cada um, usamos métricas. Mas ressalto que elas não devem ser usadas para avaliar um docente no programa ou em um concurso. É uma métrica para avaliação institucional. A avaliação do docente deve ser feita considerando sua produção individual”.
Já na análise do quadriênio passado, Coutinho destacou que a física era a única área de conhecimento que apenas avaliava a produção de artigos publicados. Segundo ela, “Não pontuamos ou classificamos a produção técnica e tecnológica. Por isso, agora, estamos cobrando que toda tese e dissertação gere um produto técnico ou tecnológico. A proposta é valorizar outras importantes produções dentro da área”.
Sobre a avaliação
De acordo com as novas regras, a ficha padronizada é composta por três quesitos: programa; formação e produção intelectual; impacto na sociedade (local, regional, nacional e internacional). Os quesitos são subdivididos e cada área escolhe o indicador que vai avaliá-los.
O quesito “programa” se relaciona a condições mínimas de um curso para a formação de mestres e doutores. Os produtos e resultados do programa são medidos pela “formação e produção intelectual”. O terceiro quesito avalia o impacto econômico, social e cultural da pós-graduação na sociedade, seu alcance e visibilidade. As notas podem variar de 1 a 7 – 6 e 7 são os programas de excelência com reconhecimento internacional. Vale ressaltar que a pós-graduação do CBPF recebeu, na última avaliação, nota 7, com sua excelência e reconhecimento consolidados.
Mudanças gerais e para a física
Para o atual cenário, um grupo de trabalho está sendo formado com o objetivo de estabelecer métricas qualificadoras dos produtos.
A nova avaliação também levará em consideração o destino dos egressos, a implementação pelo programa de políticas afirmativas e a aderência aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), além da maior atenção dada à internacionalização e às ações de disseminação do conhecimento científico para a sociedade.
Nesta nova ficha de avaliação, o docente não é mais o protagonista: “As unidades que tratam o docente apenas como pesquisador não ficarão muito bem. Ele tem que ser um bom pesquisador e atuar na área de ensino, de inovação e tecnológica”.
Quanto à área, serão cobradas coisas específicas, como a necessidade da física ser mais experimental: “Sabemos que, dentro de nossa realidade, com a ausência de uma política de financiamento bem estabelecida, é mais fácil um físico teórico se manter ativo, sem sentir a instabilidade da política econômica, do que o pesquisador experimental. Mas a física é uma ciência que estuda a natureza, portanto, ela não existe sem a evidência experimental”.
Para as pós-graduações que só têm disciplinas teóricas, é o momento de planejar atividades experimentais. Apesar de não ser obrigatório a oferta de uma disciplina de seis horas, espera-se que haja uma transformação para 80% teórico e 20% experimental de algumas já ofertadas. Kaline citou o caso da Escola Avançada de Física Experimental (EAFExp) do CBPF: “Aqui, no CBPF, há tradição de escolas experimentais. Elas podem ser curricularizadas, contar como disciplina e os alunos levarem para sua matriz curricular”.
A produção de conhecimento e o impacto social
Pela primeira vez, as atividades de extensão virão como item e quesito na ficha de avaliação, ou seja, serão cobradas. Será necessário informar o que é feito como iniciativa de um docente ou como política institucional. Com base nessas informações, a Capes começará a coletar dados e propor indicadores para o próximo quadriênio.
A professora afirmou a importância de entender que o processo de coletar e transmitir informação é de todo o corpo docente e não apenas do coordenador. Com as informações organizadas coletivamente, pode-se pensar no planejamento das atividades e na captação de recursos.
Parte desse planejamento envolve também refletir e analisar a formação de alunos – mestres e doutores – da física e da astronomia e acompanhá-los. Além das mudanças, Kaline Coutinho destacou a nova metodologia de distribuição de bolsas, a política de redistribuição de programas pelo país e dados mais específicos sobre profissionais formados na área de Física e Astronomia.
| Na Avaliação quadrienal 2025-2028, com relação à Astronomia e Física, os indicadores apontam para: maior flexibilidade nos objetivos e perfil formativo do discente; maior inserção da Física Experimental – disciplinas, discentes titulados e produção; valorização de Física Aplicada com produção tecnológica, inovação, interação com empresas, startup etc.; valorização da atuação inter e multidisciplinar; maior qualidade das publicações e menor ênfase na quantidade; novos indicadores do impacto social; estímulo a maior participação e representatividade feminina e de jovens pesquisadores. |
Para assistir ao Colóquio completo, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=IFjQbK75Yuc

