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Seminário Pibiti reafirma papel do Museu Goeldi na produção de processos e produtos de inovação na Amazônia
Agência Museu Goeldi - Além de ser uma instituição de pesquisa consolidada há 159 anos, o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) tem reafirmado cada vez mais o seu papel na área da inovação científica e tecnológica. Isso, de modo geral, significa a aplicação prática dos conhecimentos gerados a partir da pesquisa científica na criação de produtos, processos, serviços ou tecnologias sociais que geram impactos diretos na sociedade, podendo solucionar problemas de alta complexidade, potencializar o desenvolvimento socioconômico e impulsionar transformações sociais significativas.
Amílcar Mendes, presidente do Comitê do Programa de Bolsas de Iniciação Tecnológica do Museu Paraense Emílio Goeldi e coordenador do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIIT Museu Goeldi) destacou a retomada do seminário e a importância da iniciação tecnológica para a instituição.
“Diferentemente da iniciação científica, a inovação tecnológica busca trabalhar com produtos, com processos inovadores que tenham escalabilidade, que possam chegar ao mercado ou então uma forma de tecnologia social, que não tem apelo de mercado, mas tem um alto poder de replicabilidade para resolver problemas sociais, econômicos e ambientais. É importante porque temos os nossos indicadores de desempenho pactuados com o Ministério [MCTI], um voltado à inovação e outro voltado à iniciação científica e tecnológica. Até então, estávamos apresentando dados de iniciação científica desde 2024, e agora, em 2025, a gente tem um reforço desses bolsistas para consolidar a presença do Museu como uma instituição que também trabalha com a inovação tecnológica, não só com a ciência, com a pesquisa básica, mas também com a aplicação desse conhecimento através das inovações tecnológicas e sociais”.
Amilcar argumenta ainda que o Museu, de algum modo, sempre esteve vinculado a processos de inovação, mas que, agora, novos indicadores exigem novas estratégias para seguir construindo projetos inovadores.
“O museu faz inovação desde o começo. Se a gente for olhar aquela faquinha que tira a seringa, foi uma inovação na época criada por Jacques Huber. Os primeiros experimentos com manejo de pirarucu foram feitos lá no Parque Zoobotânico. Então, o museu já faz inovação, só que, agora, nós temos os indicadores que precisam ser mensurados. Então, através do Pibiti, e do Programa de Capacitação Institucional (PCI) também, temos vários projetos voltados para desenvolvimento tecnológico e que gera o despertar da inovação tecnológica nos alunos de graduação”.
Exemplo de inovação ligada à instituição é a Isauatec Amazon, a primeira startup de base tecnológica criada em uma unidade de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) na região Amazônica. A startup foi formada a partir de pesquisas no Museu Goeldi, e desenvolveu o chamado ‘Tecnossolo Ancestral’, um solo tecnológico carbono neutro, criado com base científica e produção sustentável, inspirado nas terra preta arqueológica da Amazônia. Ele recompõe a fertilidade dos solos, melhora a estrutura física e ativa a microbiologia natural sem precisar de aditivos químicos, o que pode auxiliar na restauração de áreas degradadas e na produção agrícola.
O seminário - Na mesa de abertura do Seminário Pibiti, Roseny Mendonça, diretora em exercício do Museu Goeldi, ressaltou que, além da importância para a instituição, as bolsas de iniciação tecnológica do MPEG, apoiadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fapespa, também estimulam e criam oportunidades para que os estudantes de graduação se aproximem do universo da inovação, a partir do desenvolvimento de projetos orientados por pesquisadores das mais diversas áreas do Museu Goeldi.
O pesquisador Marcos Paulo Alves de Sousa, do comitê Pibiti, também esteve na mesa de abertura e reforçou a necessidade de avançar em pesquisas que tenham um olhar tecnológico e de inovação que aproximem a ciência da sociedade. “Já somos consolidados e reconhecidos pela pesquisa básica, pela pesquisa da biodiversidade e temos muito a contribuir com a biotecnologia, com o bionegócio e também com o patrimônio cultural. A gente não está falando apenas de ganhos econômicos. O Museu também tem esse protagonismo de trazer a ciência e a cultura nesse cenário. E a gente precisa transformar isso em ações que cheguem lá na ponta, que cheguem nas pessoas”.
Após a mesa, houve a palestra conduzida por Deyvison Medrado, da Fapespa, que abordou a necessidade de organização do conhecimento científico para ir além da pesquisa básica, avançando em projetos que busquem resolver os desafios amazônicos e gerar impacto social. Segundo Deyvison, programas de fomento, como o Pibiti, são cruciais para essa transição e incentivo aos jovens pesquisadores, ao enxergar suas pesquisas como potenciais modelos de negócio. Ele reforçou, ainda, a necessidade de reter e fixar talentos na região por meio de novas estruturas e programas que visam alinhar os projetos de pesquisa aos objetivos estratégicos do Estado.
Seguindo a programação do seminário, cada bolsista teve 15 minutos para apresentar o seu projeto, incluindo etapas como métodos, resultados alcançados e referências. Os bolsistas foram avaliados por Milena Carvalho, CEO da Startup Isauatec Amazon, e por Suzana Lustosa, professora do Centro Universitário do Estado do Pará (Cesupa).
Trabalhos premiados - Após as apresentações dos 18 bolsistas, houve a premiação dos três melhores trabalhos de acordo com critérios, como clareza na explicação dos métodos; técnicas e procedimentos utilizados; qualidade e relevância dos resultados apresentados; clareza nas conclusões e sua vinculação com os objetivos iniciais do projeto; organização e estrutura da apresentação; sequência lógica dos tópicos introdução, objetivos, métodos, resultados, conclusões, levando em consideração a coerência e a fluência na narrativa; qualidade dos slides; recursos visuais; uso adequado dos elementos visuais; comunicação e postura; clareza na fala; entonação e ritmos adequados; contato visual com a audiência e a capacidade de argumentação e resposta com clareza sobre os pontos que foram colocados pelos avaliadores. Esses são tópicos considerados imprescindíveis para estudantes que estão apresentando produtos e processos tecnológicos.
A partir desses critérios, a primeira colocada nas apresentações foi a estudante Beatriz Silva Santiago, orientada pela pesquisadora Monyck dos Santos Lopes, com o trabalho “Potencial de rizobactérias do endopleura uchi (huber) cuatrec em produzir celulase”. O segundo lugar ficou com o bolsista Gabriel de Queiroz Alves, orientado pela pesquisadora Cristine Amarante, com o trabalho “Protótipo de papel sustentável a partir de fibras do resíduo do açaí (Euterpe oleracea) e Aninga (Montrichardia linifera): inovação tecnológica na produção de celulose”. E o terceiro lugar foi para a bolsista Maria Eduarda França e Silva, também orientada pela pesquisadora Monyck Lopes, com o trabalho intitulado “Uso de rizobactérias para otimização do crescimento inicial da Tachigali Vulgaris Lg. Silva & H. C. Lima”. Os três primeiros colocados vão receber uma oficina personalizada para elaboração de pitchs voltados para a área de negócios.
Também houve a apresentação dos novos bolsistas Pibiti que vão iniciar seus projetos no período de 2025/2026.
Pibiti - O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI) tem por objetivo estimular os jovens do ensino superior nas atividades, metodologias, conhecimentos e práticas próprias ao desenvolvimento tecnológico e processos de inovação. O objetivo é contribuir para a formação e inserção de estudantes em atividades de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação; para a formação de recursos humanos que se dedicarão ao fortalecimento da capacidade inovadora das empresas no País, e para a formação do cidadão pleno, com condições de participar de forma criativa e empreendedora na sua comunidade.
Texto: Denise Salomão