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O mundo no Museu Goeldi durante a COP30
Museu Goeldi | COP30 com Ciência - Lugar de aprender e de passear ao mesmo tempo, o Parque Zoobotânico do Museu Goeldi, durante a COP30, em Belém (PA), reuniu pessoas de boa parte do mundo embaixo das copas de suas árvores centenárias. Ao todo, foram cerca de 40 mil visitantes, entre 8 e 21 de novembro, último dia da Conferência das Partes. Referência há quase 160 anos em pesquisa científica e em preservação do patrimônio histórico e cultural, o espaço coberto por trilhas e povoado por espécies variadas de plantas e de animais atraiu pessoas de diferentes nacionalidades e de diversos estados do Brasil. Com uma programação intensa de passeios, exposições e debates relacionados às mudanças climáticas, o Museu atravessou a COP30 sendo um dos lugares mais visitados da cidade.
Chefes de estado e gestores de organizações de várias partes do mundo vieram cumprir agendas institucionais; visitantes aproveitaram a entrada gratuita nos 12 dias da Conferência das Partes e lotaram o Parque; povos indígenas puderam se encontrar e vender seus artesanatos; e pesquisadores e demais pessoas interessadas nas mudanças climáticas transcenderam as fronteiras geográficas e trocaram experiências e saberes, numa mistura de culturas, idiomas e sotaques. A passagem da COP30 pelo Parque Zoobotânico do Museu Goeldi tornou o lugar um palco de diálogos e de construção de vínculos entre ideias e pessoas brasileiras e estrangeiras.
Avião, ônibus e carro - Para muita gente, o percurso até as sombras do Museu foi longo. Para chegar em Belém, a equatoriana Selvia Dahuatatuka primeiro precisou viajar de avião, de ônibus e de carro até Bogotá, na Colômbia. Só depois de vencer essa saga, finalmente embarcou em um voo até o Brasil. No Parque Zoobotânico, ela comemorou a venda de 80% das pulseiras, dos colares e de outros produtos que trouxe. “Sou do Equador, falante da língua Quíchua”: foi assim que Selvia se apresentou. O idioma é ancestral do Império Inca e, atualmente, tem entre oito e dez milhões de falantes, principalmente no Peru, Equador, Bolívia e Colômbia.
Ela falou sobre os desafios vencidos para se comunicar com os falantes das línguas inglesa e portuguesa interessados em adquirir suas peças. A equatoriana revelou que os gestos corporais a auxiliaram nas vendas, já que compreende pouco os idiomas diferentes do seu. Selvia explicou ainda que os produtos expostos são produzidos por várias mulheres da sua região. Ao lado dela, Marisol Garcia Pagueño, do povo indígena Kichwa, da Amazônia peruana, e Estela Noterno, também equatoriana, vendiam outros produtos no Museu Goeldi.
Com o uso de diferentes meios de transporte e com a necessidade de escalas em diversos países, Otis e Violeta ultrapassaram um oceano para chegar no Parque Zoobotânico. Ambos vieram da Zâmbia, no sul da África, e viajaram por três dias até desembarcarem em Belém. A dupla, após revelar o desejo de observar a onça-pintada, resolveu fazer grafismos nos braços, traçados por mulheres indígenas vindas do sul do Pará. Enquanto isso, uma enorme fila se formou para visitar a exposição “Brasil: Terra Indígena”. Nela, dois jovens vietnamitas disseram que também cruzaram várias fronteiras para estarem no Brasil: passaram por Doha, no Catar, e por São Paulo, antes de chegarem a Belém.
Encontro de sotaques - Entre as línguas diferentes de lugares distantes, no Parque do Museu Goeldi também foi possível perceber sotaques de diversas regiões do Brasil. As amigas Valmira Gonçalves e Juliana Cândido vieram de Santa Catarina, no Sul do país. Elas estavam com Andréa do Espírito Santo, que veio do Recôncavo Baiano. Unidas pelo mesmo objetivo - a luta por direitos dos pescadores brasileiros -, as três registravam uma foto após saírem de um evento oferecido no espaço. “Somos do Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras. O debate foi sobre território pesqueiro e a relação com as águas. Isso nos atraiu muito. Além de estarmos encantadas com o tema, também estamos encantadas com o lugar”, disse Valmira Gonçalves, educadora social da cidade de Laguna (SC).
Suíça e moradora de Manaus, capital do Amazonas, a bióloga Nora Hauswirth, na saída de um debate, falou de um tipo de conexão que o Museu Goeldi promove e que vai além dos vínculos entre pessoas de diferentes lugares do mundo. “Acho que esses espaços, onde as pessoas podem ter uma conexão com a floresta, são algo grandioso e muito importante”, ressaltou ela, que visitou o Parque pela primeira vez há sete anos e sempre costuma voltar, segundo disse. Nora estava com Thais Drummond, também bióloga, mas esta com sotaque mineiro de Belo Horizonte. Ao observar a exposição “Diversidades Amazônicas”, Thaís falou sobre o desejo antigo de visitar o acervo científico do Museu Goeldi, desejo realizado nesta COP30.
Carioca e moradora do Paraná, Ursula Dannemann revela sua felicidade de estar, enfim, tendo a oportunidade de conhecer o Parque Zoobotânico Museu Goeldi. “Esse museu é maravilhoso, é um paraíso. Se eu morasse aqui em Belém, esse seria o quintal da minha casa, eu viria sempre”, disse, na Casa da Ciência, espaço promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Ela é expositora da instalação “Transbordando a Amazônia Azul”, uma forma artística de denunciar o impacto ambiental do uso do petróleo.
Já o professor Nelson Rodrigues e seu filho, o estudante João Pedro, de 10 anos, são paraenses. Eles decidiram aproveitar uma manhã para desbravar o Museu e conhecer as atrações que estão em cartaz no Parque Zoobotânico. João Pedro declarou que sua parte predileta entre tudo o que viu foi a exposição Brasil: Terra Indígena. “Eu gostei muito de saber mais sobre o povo indígena e sobre a terra”, falou o pequeno representante do Pará nos vários encontros entre lugares que aconteceram no Museu Goeldi durante a COP30 em Belém.
Visitas orientadas - Durante a COP30, entre painéis de debates, exposições científicas e mostras de arte, o Museu Goeldi também foi espaço para trilhas temáticas, com o acompanhamento de condutores treinados para fornecer informações sobre os exemplares da fauna e da flora em exibição no Parque. No período, foram atendidos 23 grupos, que reuniram 510 pessoas beneficiadas com o serviço realizado por profissionais capacitados.
As trilhas foram de dois tipos: as programadas pelo Núcleo de Visitas Orientadas do Serviço de Educação do Museu Goeldi, estas permanentes durante todo o ano, com entrada sempre gratuita, que somaram cinco grupos com público de 326 pessoas, até o dia 20 de novembro; e as trilhas desenvolvidas especialmente para o período da COP30, pela equipe da Coordenação de Comunicação e Extensão, vinculada à área do turismo, que somaram 18 grupos com público de 184 pessoas, até o dia 19 de novembro.
Embora o período da COP30 tenha sido de férias escolares, devido ao Decreto Estadual 4.348/2024, as trilhas do Núcleo de Visitas Orientadas, que costuma atender mais alunos e professores ao longo do ano, apenas com agendamento prévio, aconteceram este mês com participantes vinculados a instituições como organizações não governamentais (ONGs), que também são público-alvo do serviço, bem como grupos comunitários, religiosos, dentre outros.
Após o agendamento, na quinta-feira (20/11), o Instituto Alana, de São Paulo, levou um grupo de 30 pessoas, entre elas, 18 jovens de escolas públicas de todas as regiões do Brasil, premiados pela instituição em um concurso de projetos sobre sustentabilidade, para vivenciar a trilha promovida pelo Núcleo de Visitas do MPEG. “Mais do que conteúdo, eles tiveram uma imersão na diversidade social e ambiental do bioma Amazônico, em um espaço tão importante para Belém e para o Brasil”, avaliou o gerente de Educação de Culturas Infanto-Juvenis do Instituto, Gabriel Salgado. “Foi uma experiência de extremo valor para a compreensão do passado, do que estão fazendo para mudar o presente e do que estão promovendo para que possamos ter um futuro mais justo para todas as pessoas”, acrescentou.
Cauane Oliveira era uma das estudantes do grupo mais interessadas nas informações fornecidas pela equipe de instrutores do Museu Goeldi. “Acho muito mais didático visitar uma trilha com instrutores. É muito legal saber de onde os animais vieram, conhecer o contexto de como eles foram retirados da natureza e trazidos para cá. E é bom demais saber que vocês estão cuidando muito bem desses animais. Eu adorei ter tido a oportunidade de conhecer a história dos bichos. A gente cria um afeto maior por eles”, disse ela, que veio de Manaus (AM).
Reuniões internacionais - Na semana anterior ao início oficial da COP30, no dia 5 de novembro, o presidente Luís Inácio Lula da Silva escolheu o Museu Goeldi para instalar o seu gabinete. Ele recebeu sete representantes de diferentes países e o presidente do banco de desenvolvimento africano. Com isso, os gestores puderam estar no Parque Zoobotânico e registrar fotografias ao lado do chefe de Estado brasileiro, diante da samaúma de quase 130 anos.
A partir desse dia, durante o período da Conferência do Clima, o Museu Goeldi foi palco de reuniões internacionais, atraindo desde o príncipe William, do Reino Unido, passando por chefes de Estado de quase todos os continentes (ver mapa na galeria de imagens), até representantes de instituições de relevância global, como a Unesco. “Foi muito importante para o príncipe conhecer mais sobre o trabalho do Museu e também das pesquisas que estão acontecendo aqui e nas outras unidades”, disse a embaixadora do Reino Unido, Stephanie Al-Qaq, ao se referir ao Campus de Pesquisa, no bairro de Terra Firme, e à Estação Científica Ferreira Penna, implementada na Floresta Nacional de Caxiuanã, em Melgaço.
Foram, pelo menos, 29 agendas institucionais estrangeiras, na maioria das vezes, com lideranças políticas de países interessados em conhecer mais o legado cultural, científico e histórico do Museu e vislumbrar oportunidades futuras de cooperações técnicas e parcerias. As comitivas foram recebidas pela diretoria do MPEG, acompanhada de uma profissional intérprete da instituição, numa agenda intensa (ver lista abaixo). Entre os países que visitaram o Museu Goeldi, estão Bélgica, China, Suíça, Suriname, Colômbia, Peru, Equador e Papua-Nova Guiné.
Já na programação de painéis oferecida no Parque Zoobotânico, diversos lugares do mundo também estiveram representados. A conferência da chilena Mercedes Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília (UnB), foi um dos destaques, assim como a roda de conversa conduzida pelo escritor e líder político Davi Kopenawa Yanomami. Entre outras intelectuais, a presidenta da Rede Bioamazônia, formada por países da América do Sul, Luz Marina Mantilla Cárdenas, também foi painelista, compondo a lista diversa de vozes que construíram a COP30 no Museu Goeldi.
Texto: Gabriela Moura e Carla Serqueira
Instituições e países estrangeiros que estiveram no Museu Goeldi na COP30
05/11 - Banco Africano de Desenvolvimento;
05/11 - Governo de República da Finlândia
05/11 - Governo de Comores
05/11 - Governo de Papua-Nova Guiné;
05/11 - Governo da República do Suriname;
05/11 - Governo da República Popular da China;
05/11 - Governo da República de Honduras;
05/11 - Comissão Europeia;
06/11 - Governo do Reino Unido - Príncipe William com jovens ambientalistas;
07/11 - Governo do Reino Unido - Príncipe William com lideranças indígenas;
07/11 - Governo da Suécia;
08/11 - Embaixada da Bélgica;
08/11 - Governo de Papua Nova Guiné, James Marape;
08/11 - Governo da Antígua e Barbuda;
08/11 - Governo de Guiné Equatorial;
08/11 - Governo do Congo;
09/11 - Governo da China;
09/11 - Embaixada de Luxemburgo;
12/11 - Banco UBS, da Suíça;
13/11 - Delegação da Aliança Verde Argentina (Córdoba, Entre Ríos, Jujuy, La Pampa, Misiones e Santa Fe);
14/11 - Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA);
14/11 - Divisão do Programa Memória do Mundo da Unesco ao Campus de Pesquisa;
15/11 - Rede Bioamazônia (Colômbia, Brasil, Equador e Bolívia);
15/11 - Embaixada da Dinamarca;
15/11 - Governo da República Tcheca;
16/11 - Comitê Econômico e Social Europeu (CESE) e Câmara Cívica da Federação Russa;
19/11 - Secretaria Executiva da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD);
19/11 - Governo da República da Coreia e
21/11 - Governo do Reino Unido