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“Impressões da floresta”: no sábado, Museu Goeldi recebe exposição que usa plantas em estamparia
Agência Museu Goeldi - O Castelinho do Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), no centro urbano de Belém-PA, será palco da exposição “Impressões da floresta”, que será aberta ao público a partir deste sábado (8/11), com a presença das idealizadoras, Ana Leal e Laura Calhoun. A mostra é resultado de um projeto artístico-cultural com compromisso socioambiental. São onze painéis em cetim e musseline de seda, produzidos por meio da técnica conhecida como impressão botânica, que usa pigmentos de folhas de plantas.
A exposição se soma a outras abertas à visitação no Museu Goeldi durante o período da Conferência das Partes (COP30). De acordo com as idealizadoras do projeto – que inclui oficinas para comunidades e ações educativas – a mostra levanta questões como biodiversidade, moda sustentável e valorização do meio ambiente. “A gente quer manter a floresta em pé e, por meio da arte, queremos evidenciar isso”, afirmou Ana Leal.
Para construir a exposição, as artistas fizeram uma imersão na Floresta Nacional de Caxiuanã, no município de Melgaço-PA, de onde coletaram a matéria-prima das peças. Nesse caminho, contaram com a colaboração dos mateiros e da própria comunidade. Essas pessoas conhecem a flora e ajudaram a identificar as espécies. Posteriormente um botânico do MPEG fez a identificação científica das espécies utilizadas.
“Nas margens do rio e nas trilhas de Caxiuanã, cada planta coletada carrega um segredo de cor. No espaço de experimentação, esses fragmentos vivos se transformam em pigmento, textura e linguagem. Com olhar científico e gestos de artista, experimentamos as plantas coletadas, observando como cada pigmento reage ao tecido, à água e ao tempo. Para então, com dados reunidos da nossa pesquisa, realizar as oficinas”, explicou Laura Calhoun.
O projeto conta com o apoio do Museu Paraense Emílio Goeldi, o patrocínio da Emgea e a realização do Ateliê da Anna, via incentivo a projetos culturais, do Ministério da Cultura, do Governo Federal.
Processo de impressão botânica
Segundo Ana Leal, as obras foram produzidas usando o processo de estamparia conhecido como eco print ou impressão botânica: “É uma técnica que transfere os pigmentos e as formas das plantas para o tecido. Inicialmente, ele fica de molho nos mordentes (que são os preparados para fixar as cores no tecido). Ao invés de fixar o final, a gente prepara o tecido para receber os pigmentos”.
De acordo com a artista, o próximo passo da estamparia exige uma experimentação que determina quais matérias são adequadas para a impressão: “Existem folhas mais ásperas, folhas que têm riscos vermelhos, que têm pigmentos no talo, enfim, você tem algumas dicas de coisas que podem funcionar, mas que nem sempre funcionam. Às vezes, uma planta da mesma árvore tem um lado que pega mais sol do que o outro, e os resultados são diferentes”.
Em seguida, conforme a artista, essas plantas são dispostas no tecido da maneira desejada, e esse “pacote” é amarrado bem apertado a um suporte (que pode ser um cano, um pedaço de bambu) ou simplesmente dobrado bem apertado. “Então, eles vão para um caldeirão, fervem por uma hora com outras plantas que reagem entre si. Depois, retiramos e deixamos descansar por mais 24 horas. A gente vai experimentando, acertando, errando… E aí, ao final desse processo, nós ficamos com algumas espécies que realmente funcionaram muito bem e que serão expostas ao público” contou Ana.
Oficinas de estamparia em Melgaço
Todo esse processo foi ensinado pelas artistas a aproximadamente 50 moradores de comunidades ribeirinhas da região do município de Melgaço, por meio de duas oficinas gratuitas, uma com crianças e educadores da Comunidade da Pedreira e outra com adolescentes e adultos na Estação Científica Ferreira Pena, base de pesquisa científica do Museu Goeldi. Os encontros aconteceram entre os dias 20 e 27 de setembro.
Nas oficinas de estamparia, foi utilizado o método como uma alternativa em bioeconomia, de fácil acesso e baixo custo para produção de estampas artesanais. Dessa forma, as pesquisadoras utilizaram a vegetação nativa para que a comunidade possa continuar com as impressões de maneira independente e sustentável.
Quem são as artistas
Ana Leal é artista, pesquisadora e gestora do projeto Impressões da Floresta. É fundadora do Ateliê da Anna e da marca artesanal KAÁ, e dedica-se ao estudo de plantas tintórias brasileiras, da impressão botânica e do tingimento natural em diferente biomas como Cerrado e Amazônia, seu trabalho propõe diálogo com comunidades dos territórios que atua e os saberes ancestrais. Participou de exposições coletivas, como “Palavra de Pintura” (2008) e “Por um Fio” (2012) e destaca os projetos "Bons Ventos" (2019/2020) e "Impressões da Floresta" (2025).
Já Laura Calhoun é curadora, artista e instrutora das oficinas do projeto. Nascida em Los Angeles e radicada em Belém, Laura tem uma carreira consolidada em artes visuais com especialização em impressão botânica e tingimento natural. Seu trabalho destaca a conexão entre arte e ecossustentabilidade, e promoção de conscientização ambiental, atuando também como educadora. Com obras em diversas exposições, Laura destaca as instalações “Árvores dos Pedidos” e “Resting Trees” com circulação internacional.
SERVIÇO - Abertura da exposição “Impressões da Floresta”, com a presença das artistas
Data/Hora: 8 de novembro (sábado), a partir das 11h.
Local: Castelinho do Parque Zoobotânico do Museu Goeldi.
Endereço: Avenida Avenida Governador Magalhães Barata, 376 – São Brás, Belém-PA.
Ingresso: entrada gratuita
Texto: Anna de Souza
Edição: Andréa Batista
