Proposta do projeto
Uma análise recente publicada por Amorim et al. (2022) contou com a participação de 36 autores (a maioria compõe a equipe desta proposta) de 16 instituições nacionais e estrangeiras. Os resultados mostraram que em um ponto da floresta amazônica, a 60 km ao norte de Manaus, uma amostra de quinze dias de coletas, 61,6% das espécies de Diptera coletados no dossel (entre 8 e 32 metros) não foram coletadas no nível do solo. Para algumas ordens (Blattaria, Hemiptera, Neuroptera, Trichoptera e Lepidoptera) a abundância no dossel foi em torno de 80%. Surpreendentemente, a abundância foi ainda mais alta para alguns grupos de Diptera, atingindo 90.0% em Clusiidae, 92.6% em Lauxaniidae e 94.1% em Tachinidae, um resultado surpreendente e inédito na literatura científica. Isso significa que no terceiro milênio o homem ainda convive com um mundo ainda muito desconhecido de sua fauna e, exatamente, com a fauna mais biodiversa, a dos insetos.
Extrapolando isso para o bioma Amazônia, o mais preservado do Brasil e o mais rico do planeta, significa que o homem não conhece a maioria das espécies de insetos com as quais convive. As espécies que compõem esta imensa riqueza sequer possuem nomes, não conhecemos seu papel na natureza e nem onde habitam. Já é tempo de desvendar este mundo científico, assustadoramente desconhecido, para quepossamos explorar potenciais tecnológicos e de inovações utilizando ferramentas tradicionais e atuais da taxonomia integrativa (dados morfológicos e dados moleculares).
O Dr. Dalton Amorim (FFCLRP) é colaborador do projeto do Prof. Rudolf Meier, do Museum für Naturkunde, Berlin, que lidera um projeto de coleta em larga escala utilizando armadilhas Malaise em manguezais, em Cingapura, com sequenciamento de todos os exemplares das amostras, à semelhança desta proposta. A equipe do Prof. Meier gerou uma base de dados gigantesca sobre a fauna de insetos em mangue. O projeto depois foi estendido para outros ambientes naturais na ilha de Cingapura (floresta alagada, floresta tropical, floresta urbana etc.).
Os resultados são únicos pela extensão do sequenciamento e pelo fato de fazer inferências de riqueza de espécies a partir de barcoding de todos os exemplares coletados (Yeo et al., 2021). Do ponto de vista do acesso à fauna de insetos em copas de árvores em florestas, a equipe do INPA, liderada pelo proponente, encontrou soluções para coleta em larga escala utilizando torres metálicas instaladas na floresta. Essa solução vai permitir novos projetos com amostragens de insetos do dossel de diferentes áreas e biomas do país ou em países em outras regiões.
A experiência atual dos membros da equipe e, certamente, de outros pesquisadores, é com a fauna que habita próximo ao solo e, agora, podemos avançar sobre o conhecimento da fauna do dossel utilizando os protocolos desenhados neste projeto de maneira a serem utilizados depois, em larga escala, na área de entomologia florestal, com identificação rápida e precisa de pragas e em projetos que detectem espécies que prestam serviços ecossistêmicos em diferentes culturas, dentre outros. A equipe é altamente qualificada e vai analisar, com base em uma larga amostragem taxonômica, a biodiversidade nativa nos ambientes naturais explorados. Possui vasta experiência de campo que vai permitir o avanço nas estratégias de coleta e logística para estudos de biodiversidade em larga escala. Possuir muita experiência em taxonomia, o que vai permitir que a discussão de metodologia de pesquisa tenha um processo de infiltração rápida sobre as questões a serem respondidas, sobre os protocolos e maneira de tratar dados e publicar centenas de artigos científicos sobre os táxons coletados.