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Tecnologia e ciência aliadas ao manejo florestal: Seminários da Amazônia discutem soluções sustentáveis para a indústria madeireira
Banner: Carol Sackser - Ascom Inpa.
Durante a 4º edição dos Seminários da Amazônia, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) recebeu o renomado pesquisador do Inpa, Niro Higuchi, que apresentou avanços científicos e tecnológicos no campo do manejo florestal sustentável. Em sua palestra, Higuchi destacou os resultados do Projeto INCT Madeiras da Amazônia, iniciativa que integra ciência, inovação e parcerias institucionais visando enfrentar os desafios da indústria madeireira na região.
Segundo o pesquisador, os dados atuais indicam um cenário preocupante: entre 60% e 70% de uma tora de árvore são desperdiçados, sendo menos de 30% aproveitado pela indústria. “Esse modelo é insustentável”, afirma Higuchi. A solução, segundo ele, está no investimento em tecnologia e pesquisa aplicada.
A partir do trabalho desenvolvido no Laboratório de Manejo Florestal (LMF), novas ferramentas vêm sendo aplicadas para melhorar o uso dos recursos florestais. Entre elas, destacam-se sensores, drones e algoritmos, que ajudam a mapear, monitorar e otimizar o processo de extração e transformação da madeira. Essa abordagem tecnológica permite não apenas reduzir o desperdício, mas também aumentar a produtividade de forma responsável com o meio ambiente.
Além disso, o LMF tem desenvolvido alternativas sustentáveis para o aproveitamento de resíduos florestais, com aplicações voltadas à construção civil, ao setor moveleiro e à educação ambiental. Um dos exemplos mais inovadores é a transformação de madeiras de pequeno diâmetro — oriundas de árvores naturalmente caídas — em painéis interativos de escalada. “No Bosque da Ciência, como um exemplo do projeto, foi instalado um muro de escalada interativo. O painel é feito de lamelas cruzadas com cavilhas (PLCC). Lamelas são pequenas tábuas e cavilha é o elemento de ligação de madeira (tipo prego). ”, explica Higuchi.
As espécies utilizadas nas lamelas, cavilhas e agarras são abundantes na floresta amazônica, mas ainda pouco conhecidas comercialmente. “Para garantir a segurança do muro de escalada, o INCT – Madeiras da Amazônia teve que engenheirar o painel”, completa o pesquisador. O projeto também prevê parcerias com a SEDUC e a SEMED, já que a escalada é um projeto para fazer parte do processo interativo da grade curricular do ensino fundamental e médio.
Outro foco das pesquisas é o estudo da biomassa e dos estoques de carbono da floresta. “Após derrubar e pesar mais de 500 árvores (raízes, inclusive), nós conseguimos desenvolver um modelo estatístico que estima a biomassa da árvore viva em pé com uma incerteza de 5%. Do material coletado, nós estimamos os teores de água e carbono das diferentes partes (raízes, tronco, galhos e folhas) da árvore”, afirma Higuchi. Com base nesses dados, foram realizados inventários de biomassa em diversos municípios do Amazonas para estimar o estoque de carbono das florestas estaduais.
Com isso, parcelas permanentes vêm sendo monitoradas para calcular as variações desses estoques ao longo do tempo, o que permite avaliar o sequestro de carbono — processo crucial para entender e mitigar as mudanças climáticas. “Estoques e sequestros de carbono das florestas do Amazonas estão equacionados”, reforça.
Os estudos também avançam na análise da troca gasosa entre as árvores e a atmosfera. “Depois de monitorar 87 árvores durante 855 dias, nós temos a primeira estimativa, que é 14 vezes — ou seja, as árvores trocam com a atmosfera 14 vezes o peso delas em água. A capacidade de troca em relação ao CO₂ está muito próxima”, explica Higuchi. Essa pesquisa deve ser validada em áreas da ZF2, além de FLONAs no Amapá, Pará e Rondônia.
“Essas pesquisas relacionadas com serviços ecossistêmicos têm que convergir para o manejo florestal sustentável, para agregar mais valor à madeira e para a modelagem do clima global”, completa Higuchi, destacando que essa última etapa é feita em parceria com o Lawrence Berkeley National Laboratory, do Departamento de Energia dos EUA, e com forte participação de discentes da pós-graduação.
A integração entre ciência, tecnologia e educação reafirma o compromisso da instituição com a sustentabilidade da Amazônia. Projetos como o INCT Madeiras da Amazônia mostram como é possível desenvolver soluções que conciliem conservação ambiental e desenvolvimento socioeconômico na região.


