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Seminários da Amazônia: A importância das abelhas para a sustentabilidade e a biodiversidade
Foto: Carol Sackser
“Essenciais para a vida”, é assim que Gislene Zilse, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), apresenta um dos animais mais importantes para o equilíbrio ecológico do planeta, as abelhas. Em sua palestra nos Seminários da Amazônia com o tema “Abelhas e Amazônia: informações e implicações”, Zilse, que é coordenadora do Grupo de Pesquisas em Abelhas (GPA) do Inpa, compartilhou sua paixão por elas, abordando a importância desses insetos para a biodiversidade amazônica e resultados dos mais de 20 anos de pesquisas do GPA sobre o tema.
“A abelha está no início da cadeia fazendo todo o serviço de polinização que permite a reprodução das plantas das quais dependemos para a nossa alimentação. Assim, elas podem ser apontadas como as principais promotoras dos serviços ecossistêmicos utilizados para construir o entendimento de como as coisas se relacionam na terra”, conta Zilse.
Segundo a pesquisadora, estudos apontam que 87 das principais plantações para a produção de alimentos no mundo dependem diretamente da polinização realizada pelas abelhas para produzirem comida. Assim, a agricultura é fortemente influenciada pelos desequilíbrios ecológicos que causam a redução das espécies de abelhas e outros polinizadores no mundo.
A espécie Apis mellífera, a abelha com ferrão, é apontada como a principal polinizadora das culturas alimentares globais. “De uma única espécie de abelha depende quase toda a cadeia alimentar do planeta e isso é preocupante. Então, temos que pensar em toda a diversidade de abelhas que existem que podem ajudar nessa área”, explica a coordenadora do GPA.
Embora sejam importantes para a sociedade e para a economia, segundo levantamentos o valor econômico da polinização por abelhas no Brasil gira em torno de R$43 milhões, uma cifra que demonstra sua relevância para o setor agrícola, as populações de abelhas vem diminuindo com o tempo. Zilse aponta que a poluição, o uso excessivo de pesticidas e a destruição de habitats naturais são fatores que têm reduzido significativamente a diversidade desses animais.
Diversidade de espécies e produção de conhecimento
A abelha faz parte da “fofofauna”, termo utilizado para se referir a animais que esbanjam carisma e fofura despertando o interesse e a curiosidade das pessoas para seus modos de vida, e vem ganhando espaço na cultura popular fazendo sucesso nas redes sociais. “É uma microfauna carismática”, descreve a pesquisadora. No entanto, apesar do crescente interesse, o desconhecimento sobre esses animais ainda é grande.
Das mais de 20.000 espécies existentes de abelhas, a abelha com ferrão é a que é melhor conhecida e reúne mais estudos sobre seus hábitos de vida. “Mas existe uma diversidade gigantesca de espécies que só sabemos o nome ou que existe e nada além”, diz a pesquisadora.
Somente no Amazonas são conhecidas 128 espécies de abelhas sem-ferrão, estimativas indicam que há 259 no Brasil, a maior variedade do mundo em uma região. Porém, aponta a pesquisadora, ainda há muitas lacunas no conhecimento geral sobre esses animais e no acesso a informações qualificadas sobre eles. Para ela é importante conhecer os hábitos de cada espécie para que seja possível criar estratégias para preservação das espécies que sejam realmente eficazes, especialmente em contexto urbano.
O GPA busca suprir essas lacunas de conhecimentos sobre as abelhas nativas. Além das pesquisas, o gupo realiza a difusão do conhecimento sobre as abelhas com atividades de sensibilização sobre a importância desses insetos para os ecossistemas e atua no desenvolvimento de técnicas para criação e manejo das espécies sem-ferrão, realizando a meliponicultura, com a finalidade de dar novas alternativas comerciais e de manutenção das populações nativas.
Dentre as descobertas realizadas pelas pesquisas do GPA, em mais de 20 anos de atuação, estão a de uma nova espécie de abelha sem-ferrão no Bosque da Ciênca do Inpa, a Scaptotrigona hylaeana. A equipe descobriu também que, além de polinizadores, as abelhas sem-ferrão atuam como dispersoras de sementes. Ainda, realizou o aperfeiçoamento, e testes em larga escala em campo, da Caixa Inpa padronizada em módulos verticais peculiares ao bom desenvolvimento das abelhas para proporcionar um melhor manejo das colmeias na meliponicultura assim como estimular a produção e colheita de mel e outros produtos utilizando abelhas nativas.
“As abelhas são inerentes à nossa cultura fazendo parte cada vez mais da agricultura familiar, do entretenimento, recreação, paisagismo, questões políticas, e promove momentos de desaceleração e transcendência quando uma pessoa simplesmente contempla o voo de uma abelha, ela se sente bem melhor e se volta ao Seu Criador”, afirma Zilse.
