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Seminários da amazônia
Estresse climático e sobrevivência das florestas é tema da última edição dos Seminários da Amazônia 2025
Foto: Bruno Marques/ Ascom Inpa
Como as árvores da Amazônia sobrevivem a eventos cada vez mais frequentes de seca e altas temperaturas? Essa foi a pergunta central da última palestra do ciclo Seminários da Amazônia 2025, realizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). Encerrando uma programação que contou com 17 palestras em 2025, o pesquisador do Inpa Israel Sampaio Filho apresentou o tema “Estresse e Sobrevivência: Estratégias hidrofisiológicas de árvores tropicais e o futuro incerto”, trazendo uma imersão científica sobre os limites e as estratégias de adaptação das florestas tropicais frente às mudanças climáticas.
Na apresentação, Sampaio explicou como as árvores respondem ao chamado estresse ambiental, especialmente em cenários de seca prolongada e calor intenso. Sua linha de pesquisa é voltada à ecofisiologia de plantas tropicais, área que investiga o funcionamento interno das árvores e a forma como elas regulam a água, a respiração e o crescimento para tentar sobreviver a condições extremas.
Um dos principais pontos abordados foi o papel do hormônio vegetal ácido abscísico (ABA), produzido nas folhas quando a planta percebe falta de água ou temperaturas elevadas. Esse hormônio funciona como um sinal de alerta ao ser ativado, provocando o fechamento dos estômatos, pequenos poros presentes nas folhas por onde ocorre a troca de gases e a perda de água. Ao fechar esses poros, a árvore reduz a desidratação e tenta se manter viva. No entanto, a estratégia tem um custo pois se a planta respira menos, reduz seu crescimento e sua capacidade de absorver carbono da atmosfera.O pesquisador destacou que o mecanismo é semelhante ao papel do cortisol no ser humano, pois se trata do mesmo componente, mas em quantidades e respostas diferentes, permitindo adaptações específicas para enfrentar situações de estresse. “Não existe uma resposta única entre as árvores. Diferentes espécies e indivíduos reagem de formas distintas, dependendo de fatores como tipo de solo, disponibilidade de água, temperatura e características fisiológicas próprias”, explicou Sampaio.
Durante o seminário, foram apresentados resultados de estudos realizados em Manaus, no Amazonas, na Bahia e na Austrália, comparando como árvores de diferentes biomas variam em resiliência, regulação estomática e capacidade fotoprotetiva. Os dados revelam um cenário complexo, em que o futuro das florestas tropicais depende tanto da capacidade de adaptação fisiológica das plantas quanto do avanço do conhecimento científico para compreender esses processos em múltiplas escalas.
Além dos impactos diretos sobre a sobrevivência das árvores, a palestra abordou consequências globais. Quando as florestas reduzem sua capacidade de capturar carbono, mais CO₂ permanece na atmosfera, intensificando o aquecimento global. Segundo o pesquisador, em cenários mais extremos, a floresta pode deixar de atuar como aliada do clima e passar a liberar carbono, agravando ainda mais a crise climática. Isso contribui para o aumento das temperaturas, a intensificação de secas e ondas de calor e a instabilidade do clima.
“Compreender o funcionamento interno das florestas é essencial para pensar estratégias de conservação e enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas”, destacou o pesquisador.
Serviço
Os Seminários da Amazônia são uma iniciativa do Inpa que promove palestras gratuitas e abertas ao público, reunindo pesquisadores e comunidade acadêmica para discutir temas ligados à ciência, meio ambiente e sociedade. A programação de 2025 foi encerrada com a realização de 17 palestras.
