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Crise civilizatória e colapso ambiental: aula magna do MPGAP propõe novos caminhos para políticas públicas
Evento marca o início das atividades do Mestrado Profissional em Gestão de Áreas Protegidas da Amazônia com reflexões acerca da crise civilizatória, políticas públicas e o papel da educação ambiental. Palestrante Marta de Azevedo Irving, Foto: Igor Souza- Ascom Inpa.
Com discursos potentes e reflexivos, a aula magna do Mestrado Profissional em Gestão de Áreas Protegidas da Amazônia (MPGAP), trouxe à tona os múltiplos desafios que atravessam a preservação ambiental em tempos de incerteza. O encontro reuniu a professora Marta de Azevedo Irving e o diretor do Centro de Extensão Universitária e Divulgação Ambiental da Galícia (CEIDA), Carlos Vales Vázquez, em um diálogo marcado pela urgência de se repensar os rumos da sociedade e integrar políticas públicas com foco na sustentabilidade e na justiça socioambiental.
Durante sua apresentação, a professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social, Marta Irving provocou diversos questionamentos acerca da crise civilizatória que marca o século XXI, caracterizada por um cenário de policrise, no qual emergem discussões e problemáticas como a emergência climática, a fragmentação social, o colapso da biodiversidade e a erosão dos laços entre sociedade e natureza. Segundo ela, vivemos sob um modelo baseado em crescimento ilimitado, consumo desenfreado e combustíveis fósseis — uma engrenagem que gera desejos inalcançáveis e riscos concretos à sobrevivência humana.
A crise ambiental, nesse contexto, é também uma crise de sentidos, que exige uma reconciliação entre razão e emoção, ciência e cultura. “A pandemia, as guerras, a fragilidade da população e os efeitos das mudanças climáticas mostram que não se trata apenas de proteger o meio ambiente, mas de redefinir o que entendemos por vida digna”, destacou Marta durante sua exposição.
O debate sobre as políticas públicas voltadas às áreas protegidas ocupou um espaço central na palestra. Um dos pontos destacados foi a crescente pressão sobre terras públicas e unidades de conservação, especialmente no Brasil, onde o avanço da agroindústria tem impulsionado processos de grilagem, desmatamento e invasões ilegais em territórios legalmente protegidos. Essa expansão descontrolada foi criticamente analisada como parte de uma disputa narrativa e política sobre o uso da terra, conflito entre interesses econômicos e a função socioambiental dos territórios. A discussão reforçou a urgência de políticas públicas integradas, capazes de conciliar conservação, direitos e soberania, responsáveis pela proteção ambiental.
Na segunda parte do evento, o professor Carlos Vales Vázquez apresentou a atuação do CEIDA, na Galícia (Espanha), como exemplo de um centro de referência em educação ambiental, que articula difusão cultural, formação técnica e fortalecimento de redes colaborativas. Em sua fala, o diretor enfatizou a educação ambiental como uma ferramenta estratégica para promover a consciência crítica, a participação cidadã e a mobilização social frente à crise ecológica global. Para Vales, não se trata apenas de ensinar sobre o meio ambiente, mas de criar espaços de diálogo e articulação entre diferentes saberes e setores da sociedade, capazes de gerar mudanças concretas nos modos de vida e nas políticas públicas.
Nesse sentido, a atuação do CEIDA foi apresentada como uma prática integradora que fortalece o compromisso coletivo com a sustentabilidade. A palestra reforçou a importância de fortalecer o diálogo urgente e necessário em defesa do meio ambiente, sobretudo em contextos onde a biodiversidade e os bens comuns estão sob ameaça constante.


