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Reportagem do Jornal Nacional aborda a produção de energia nuclear nos EUA
Repórter Felipe Santana, correspondente do Jornalismo da TV Globo nos Estados Unidos, entrando em uma área controlada da usina de Indian Point, em Buchanan.
Na edição do último dia 11 de novembro, o Jornal Nacional, da TV Globo, exibiu uma reportagem sobre a produção de energia nuclear estar no foco das decisões do Governo dos Estados Unidos, visando atender à alta demanda por eletricidade e para abastecer as redes de data centers das grandes empresas e startups de tecnologia do país.
A matéria conduzida pelo repórter Felipe Santana lembra o anúncio feito em maio pelo presidente norte-americano Donald Trump e pelo secretário do interior dos Estados Unidos, Doug Brugum, de ampliar em quatro vezes a capacidade da produção nuclear, revertendo um processo, de anos atrás, que levou à interrupção de algumas usinas nucleares no território estadunidense, como a de Indian Point, em Buchanan, que foi visitada pela equipe de reportagem.
É importante ressaltar, a partir dessa pauta jornalística, que as fontes nucleares são uma importante alternativa para a produção de energia limpa e segura, em oposição aos combustíveis fósseis que ampliam a emissão de gás carbônico na atmosfera. Essa temática, por sinal, estará em evidência na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), que acontece até o dia 21 de novembro, em Belém, capital do Pará.
Dentro do evento, no “Blue Zone”, haverá a “Nuclear for Climate”, espaço dedicado às discussões e palestras sobre a contribuição da energia nuclear para o processo de transição energética ao redor do planeta.
VEJA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA DA NUCLEAR FOR CLIMATE NA COP30
Além disso, na sexta-feira, dia 14, entre 14h e 15h, o fórum da Seção Latino-Americana da Sociedade Nuclear Americana (LAS/ANS), no pavilhão “Futuros da Energia Limpa” da International Youth Nuclear Congress (IYNC), estará aberto com o tema “Energia Nuclear: pelo clima, pela energia, pelo futuro”, com o objetivo de demonstrar como as aplicações nucleares contribuem para o avanço dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) por meio de energia limpa, melhoria da saúde, aumento da produtividade agrícola e proteção ambiental.
Nesse mesmo pavilhão e no mesmo dia, acontecerá ainda o debate “Da ação local ao impacto global: o movimento nuclear juvenil latino-americano”, organizado pelo Observatório Latino-Americano de Geopolítica da Energia (OLAGE), vinculado à Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) que busca sinergias entre redes de jovens e o diálogo intergeracional global, a fim de destacar o papel da juventude na promoção de uma transição energética justa e sustentável na América Latina.
Vale lembrar que o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Dr. Francisco Rondinelli Júnior, e o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da autarquia, Wilson Aparecido Parejo Calvo, participaram do Atoms4Climate, evento na COP30, organizado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), cujo foco foi a proteção ambiental e o acesso da população mundial à água limpa.
A presença da energia nuclear no centro de discussões da COP30 sinaliza o compromisso das nações para que sua expertise esteja a serviço da população mundial somente para fins pacíficos e voltando-se para auxiliar na desaceleração das mudanças climáticas.
O professor e pesquisador Dr. Amir Zacarias Mesquita, do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), unidade técnico-científica da CNEN em Minas Gerais, esclarece que o urânio, elemento usado como combustível para as usinas nucleares, não fica radioativo para sempre, como foi mencionado na reportagem. Segundo o especialista, todos os radioisótopos decaem com o tempo e sua atividade pode chegar a zero. “Embora alguns resíduos possuam meias-vidas longas e exijam armazenamento seguro, nenhum material permanece radioativo indefinidamente”, explica Zacarias.
Reforça-se que as usinas e instalações nucleares ao redor do mundo devem seguir rigorosos protocolos de segurança determinados pela Agência Internacional de Energia Atômica tanto para o seu funcionamento quanto, porventura, para a sua descontinuidade.
Outro ponto a ser explicado é que o armazenamento e gerenciamento de resíduos e combustíveis nucleares utilizados precisam passar pelos seguintes processos:
Isolamento geológico: O combustível usado pode ser imobilizado (selado) e armazenado em depósitos de resíduos localizados em formações geologicamente estáveis, garantindo a contenção segura da radioatividade por longos períodos.
Reprocessamento: Consiste na separação química dos elementos presentes no combustível irradiado. Após o reprocessamento, cerca de 95% do material recuperado é urânio-238, aproximadamente 1% é urânio-235 e 1% é plutônio-239 — todos passíveis de reutilização como combustível nuclear. O restante, cerca de 3%, são imobilizados e armazenados conforme descrito no item anterior.
Transmutação: Processo em que radionuclídeos de longa meia-vida são bombardeados por nêutrons em um reator nuclear (especialmente em reatores de nêutrons rápidos). Essa técnica converte os elementos transurânicos em produtos de fissão com meias-vidas significativamente mais curtas.
“A compreensão correta dos processos de decaimento, reciclagem e manejo do combustível nuclear é fundamental para um debate público equilibrado sobre o papel da energia nuclear na transição para fontes de energia de baixo carbono”, conclui Dr. Amir Zacarias.
Escrita por: José Lucas Brito (Setcos/IEN)