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Energia Nuclear é vista como solução para transição para jovens do Brics
7a Cúpula de Energia da Juventude do BRICS, em Brasília. Foto: Rafa Neddermeyer / BRICS Brasil
Nos últimos dias 6 e 7 de julho, a cidade do Rio de Janeiro sediou a reunião de cúpula do Brics, bloco que tem o Brasil e outros dez economias emergentes como membros. Os líderes desses países assinaram uma declaração-marco onde se comprometem a engajar o Sistema Monetário e Financeiro Internacional por medidas mais justas e eficazes de ampliação do financiamento climático.
A preocupação com os impactos do aquecimento global para as próximas gerações também permeou os debates da 7ª Cúpula de Energia da Juventude do Brics, realizada no Ministério da Justiça, em Brasília, no início de junho. De acordo com o presidente e diretor-geral da Agência de Energia para a Juventude do bloco (BRICS YEA), o russo Alexander Kormishin, há, por parte de representantes jovens, um entendimento a favor de que a energia nuclear é uma saída sustentável para o processo de transição energética mundo a fora:
“Muitos jovens têm se mostrado inclinados à geração nuclear, por ser limpa, tecnologicamente avançada e garantir acesso à energia limpa e acessível e gerando benefícios duradouros para as próximas gerações”, afirmou Kormishin, em entrevista concedida à Agência Brasil.
O diretor acrescenta que a população participante desse grupo deseja que, em seus países, ocorra uma transição energética justa, capaz de promover mudanças nos aspectos sociais e no acesso a oportunidade de trabalho, diferentemente da população jovem que vive no grupo das sete maiores economias do planeta (G7):
“Essa transição energética impacta profundamente as famílias e o futuro dos jovens, pois muitos estão em fase de formação acadêmica, sendo financiados por seus familiares. O G7, e também sua dimensão da juventude, estão olhando para a segurança energética através da crise europeia no fornecimento de gás e dos impactos da guerra na Ucrânia”, declara Kormishin.
O diretor do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN/CNEN), Dr. Cristóvão Araripe Marinho, comentou sobre essa defesa da população jovem ao aproveitamento dessa fonte de energia:
“Quando nós olhamos para o tema Brics, ligado à transição energética, não há dúvida de que a energia nuclear está fortemente inserida nesse contexto, e é uma das grandes opções para se levar adiante a transição energética. E quando constatamos que a juventude também tem esse olhar sobre a importância da energia nuclear na transição energética, eu posso dizer, sem dúvida, que é uma ideia visionária de futuro em que a energia será cada vez mais limpa, se nós optarmos pela energia nuclear”, afirma Cristóvão.
Impacto ambiental
Esse assunto, segundo o presidente da agência, também será discutido durante a 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá em novembro, na cidade de Belém, capital do Pará. O Brasil, ao assumir a presidência do BRICS, havia estabelecido quatro eixos temáticos principais ligados à área de energia:
- Combustíveis Sustentáveis para Adaptação Climática;
- Financiamento das Transições Energéticas e Garantia de Minerais para Energia Limpa;
- Acesso à Energia no Combate à Pobreza Energética com Soluções Acessíveis;
- Avanços Tecnológicos para Sistemas de Energia de Baixo Carbono.
Nesse sentido, a juventude representada no BRICS pretende defender ao longo da COP30, entre outros temas, a utilização dos pequenos reatores modulares diante do “crescente acesso e interesse global em tecnologias nucleares”, especialmente no que se refere ao abastecimento de complexos de data centers.
Diante da necessidade tecnológica de grandes empresas e dos governos em torno da Inteligência Artificial, a nova geração de microrreatores avançados tem a capacidade de produzir entre 1 e 20 megawatts de energia, representando uma alternativa para zerar as emissões de carbono, e para reduzir a utilização de usinas a carvão, petróleo e gás natural.
Além disso, essa ferramenta pode atender a uma das reivindicações da juventude do Brics, que busca por uma opção energética que se adapte a diferentes necessidades sociais. Por exemplo, os pequenos reatores modulares podem fornecer eletricidade em comunidades remotas ou distantes dos grandes centros urbanos, devido ao seu formato compacto e portátil.
O diretor do IEN/CNEN, que é uma unidade técnico-científica da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), lembra que o Instituto está participando da efetivação do projeto do primeiro micrrorreator nuclear brasileiro, contribuindo na instrumentação e na realização de testes de comportamento dos nêutrons dentro do reator (chamado de neutrônica) e outros aspectos da física de reatores. Vale lembrar que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) firmaram, em junho deste ano, um contrato de R$30 milhões para investir no desenvolvimento e produção desses microrreatores:
“Este apoio do IEN/CNEN a esse projeto, que é capitaneado pela empresa Diamante Geração de Energia e pela INB (Indústrias Nucleares do Brasil), é, sem dúvida nenhuma, um olhar que visa e que se alinha com esse futuro e com o que a juventude do Brics também está olhando.”.
Escrita por: José Lucas Brito (Setcos/ IEN)