Notícias
CIÊNCIA E ACOLHIMENTO
Tatiane Alonso Arrieche: trazendo confiança e dignidade a cada paciente
Rio Grande (RS) – A enfermeira Tatiane Alonso Arrieche traz a perspectiva de quem acompanhou de perto a transformação do tratamento da infecção por HIV no HU-Furg. Com duas décadas de dedicação e profissionalismo, ela vive uma das mais importantes conquistas recentes: o pioneirismo da Enfermagem no tratamento preventivo da tuberculose (ILTB). Tatiane compartilha os desafios da ciência e a satisfação do cuidado humanizado, onde, muitas vezes, a medicação mais eficaz ainda é a empatia. Nas palavras emocionadas de Tatiane:
Como começou sua trajetória no HU-Furg e na Infectologia?
“Sou enfermeira do Hospital Universitário há 20 anos. Iniciei na Unidade de Clínica Médica, acompanhando pacientes que vivem com HIV e já estavam com Aids. Foram nove anos vivenciando a doença de forma intensa. Aqui no SAE Infectologia, faço parte da equipe há aproximadamente três anos e meio. Minha função principal é atuar como enfermeira no Hospital-Dia e nas consultas de Enfermagem, iniciando o acolhimento dos pacientes quando chegam ao Serviço.”
O que significa para você trabalhar com acolhimento no Hospital-Dia?
“É gratificante porque aqui trabalho com saúde, não apenas com doença. Acolher os pacientes significa ajudá-los a compreender o processo de viver com HIV, manter a adesão ao tratamento e entender o impacto disso em suas vidas. Profissionalmente, vir para a Infectologia foi um presente. Trabalhar aqui é muito prazeroso e me faz sentir feliz com o que faço.”
Você também atua no tratamento preventivo da tuberculose, o ILTB. Pode explicar como funciona?
“As enfermeiras da Infectologia realizam o tratamento preventivo da tuberculose, voltado principalmente para pessoas que vivem com HIV, cujo sistema imunológico pode estar mais vulnerável. Começamos a estruturar esse programa no ano passado, definindo a melhor forma de abordar e conduzir cada paciente. A medicação, administrada geralmente uma vez por semana durante 12 semanas, reduz em quase 90% o risco de desenvolver tuberculose ativa. É um trabalho pioneiro no estado, pois as enfermeiras prescrevem e acompanham todo o tratamento, solicitando exames e garantindo a adesão dos pacientes.”
Qual a principal orientação para pacientes que iniciam o tratamento?
“O mais importante é salientar que se trata de um tratamento preventivo. O paciente não tem tuberculose ativa; o objetivo é impedir que a doença se manifeste. Explicamos cada etapa: como a medicação funciona, a frequência das doses, possíveis efeitos colaterais e a importância de manter a adesão durante todo o período. Todo o acompanhamento é feito de forma personalizada. Monitoramos os exames, conversamos sobre dúvidas, apoiamos emocionalmente e esclarecemos cada ponto para que o paciente se sinta seguro e confiante. Além disso, a medicação fornecida pelo SUS, garantindo acesso universal e igualdade no cuidado. Para nós, cada paciente que inicia esse tratamento é uma oportunidade de prevenir complicações futuras e promover saúde, transformando o cuidado preventivo em um gesto de atenção e responsabilidade que pode salvar vidas.”
Como é o trabalho em equipe no SAE Infectologia?
“Trabalhamos de forma multidisciplinar, onde cada profissional complementa o trabalho do outro, atuando juntos, compartilhando informações e definindo estratégias para oferecer um cuidado completo ao paciente. A Enfermagem tem papel central, especialmente no acompanhamento do ILTB, conduzindo o tratamento preventivo da tuberculose, orientando sobre a medicação, monitorando exames e garantindo adesão. Mas o trabalho em equipe vai além: os psicólogos apoiam o paciente emocionalmente, ajudando a lidar com medos, estigma e ansiedade; os nutricionistas contribuem com orientações para manter a saúde e a imunidade; e os médicos acompanham a evolução clínica e realizam ajustes necessários no tratamento. Essa integração permite que cada paciente seja atendido de forma individualizada, considerando suas necessidades físicas, emocionais e sociais. Nosso objetivo é conduzir o tratamento da melhor forma possível, garantindo que os pacientes compreendam a importância de cada etapa e sigam com saúde e qualidade de vida. No SAE Infectologia, o trabalho em equipe não é somente uma prática profissional, é uma forma de cuidado que salva vidas e fortalece vínculos.”
Como manter o cuidado humanizado diante das novas tecnologias e avanços científicos?
“Aqui, ciência e humanização caminham juntas. Cada paciente tem sua história, suas vivências e suas particularidades, e o atendimento precisa respeitar isso. Não se trata apenas de aplicar protocolos ou prescrever medicações: é preciso escutar, observar e compreender o contexto de vida de cada pessoa, suas dificuldades, medos e expectativas. Por exemplo, mesmo com novos exames, como o teste Igra para tuberculose latente, ou com tratamentos mais modernos para HIV, nós nunca deixamos que a tecnologia substitua o contato humano. O paciente continua sendo o centro do cuidado, e cada etapa do tratamento é acompanhada com atenção individualizada, esclarecimento das dúvidas e incentivo à adesão. O acompanhamento personalizado faz toda a diferença: envolve orientar sobre os efeitos dos medicamentos, discutir o impacto na vida cotidiana, oferecer suporte emocional e fortalecer a confiança do paciente no tratamento. É assim que conseguimos unir avanços científicos e cuidado humanizado, garantindo que a tecnologia sirva para potencializar a saúde e o bem-estar, e não substituir a empatia e a atenção que cada pessoa precisa.”
Você poderia compartilhar algum momento marcante ou emocionante no SAE?
“Foram muitos momentos que me marcaram, mas um que guardo com carinho aconteceu durante o acolhimento de uma paciente idosa, recém-diagnosticada com HIV. Ela chegou acompanhada da família, visivelmente assustada e apreensiva. Era possível perceber o medo tanto dela quanto dos familiares, diante de uma doença que ainda carrega muito estigma e incerteza. Ela estava adoecida, tanto física quanto emocionalmente, e naquele instante, senti que o mais importante não eram somente exames ou medicações, mas o acolhimento humano. Então, dei-lhe um abraço. Foi um gesto simples, mas intenso: naquele abraço, senti a tensão diminuir, o medo se tornar mais leve e, aos poucos, a paciente e seus familiares começaram a se sentir seguros, acolhidos e compreendidos. Hoje, essa paciente vive com HIV, mas mantém boa saúde e um cuidado admirável consigo mesma. Acompanhar essa trajetória, ver a transformação da doença em saúde, a recuperação da confiança e do autocuidado, é para mim uma das principais recompensas do trabalho no SAE. Esse momento me lembrou que, muitas vezes, a empatia e o acolhimento são tão essenciais quanto qualquer medicação.”
E sobre o futuro do SAE Infectologia, quais são seus sonhos e expectativas?
“Estamos sempre buscando novas formas de trabalhar, de levar prevenção e educação além das paredes do SAE. A ideia é ir ao encontro das pessoas, esclarecer dúvidas, desmistificar informações sobre o HIV e mostrar que é possível viver com HIV e qualidade de vida. O futuro será cheio de desafios, mas também de muitas conquistas e, principalmente, de satisfação por ver a transformação na vida dos pacientes. Um dos meus maiores sonhos é que o estigma e o preconceito em relação ao HIV diminuam. Hoje, o tratamento é eficaz, moderno e simplificado, muitas pessoas podem controlar a doença com apenas um comprimido ao dia, mas o preconceito ainda é muito presente. Meu desejo é que ciência e acolhimento continuem andando lado a lado, garantindo que cada pessoa viva com saúde, dignidade e esperança. As pessoas que vivem com HIV são como todas as outras. Nosso papel é ajudá-las a compreender sua condição, cuidar de si mesmas e seguir vivendo plenamente. Ver que podemos oferecer esse suporte, que podemos transformar medo em segurança, doença em cuidado e preconceito em acolhimento, é o que move meu trabalho todos os dias. Isso é o que dá sentido ao que fazemos no SAE Infectologia.”
Sobre a Ebserh
O HU-Furg faz parte da Rede Ebserh desde julho de 2015. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Andreia Pires
Apoio de Leonardo Andrada de Mello/UCR15 e Alan Bastos/UAO5
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh