Notícias
NEURODEGENERATIVA
Demência por corpos de Lewy: entenda a doença que afeta o cantor Milton Nascimento
A demência por corpos de Lewy (DCL) é uma das principais doenças causadas pela degeneração dos neurônios, caracterizada por alterações no raciocínio e no comportamento. O recente diagnóstico do cantor Milton Nascimento, de 82 anos, divulgado pela família, reforça a importância de informar sobre essa condição. Por isso, especialistas de Hospitais vinculados à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) explicam quais são os principais sintomas e os tratamentos disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e na Rede Ebserh.
De acordo com o neurologista Pedro Braga Neto, do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (CH-UFC), a DCL é uma doença causada pelo acúmulo anormal de uma proteína chamada alfa-sinucleína no cérebro. Ela forma aglomerados (corpos) que afetam o funcionamento dos neurônios. O nome “Lewy” é dedicado ao neurologista que descobriu a doença, em 1912. Essa mesma proteína também está presente na doença de Parkinson, o que torna as duas condições semelhantes em alguns aspectos.
Diferenças entre corpos de Lewy, Parkinson e Alzheimer
Conforme explica Pedro Braga Neto, “no Parkinson, o acúmulo da proteína ocorre em regiões associadas ao movimento, o que leva a sintomas como tremores e lentidão motora. Já na demência por corpos de Lewy, a deposição ocorre em áreas responsáveis pelo raciocínio e pela cognição, resultando em um quadro demencial”.
Ele destaca ainda que a DCL também se diferencia da doença de Alzheimer. “Enquanto no Alzheimer o principal comprometimento é da memória, na demência por corpos de Lewy o prejuízo é mais voltado à atenção e à flutuação cognitiva. O paciente pode ter momentos de lucidez alternados com períodos de confusão ou aparente sonolência ao longo do dia”, afirma.
Observar para diagnosticar e tratar
Dessa forma, a demência por corpos de Lewy apresenta quatro características principais, segundo o neurologista: o comprometimento cognitivo (demência), com dificuldades no raciocínio e na atenção; o distúrbio do sono, causando agitação enquanto dorme e pesadelos; os sintomas motores semelhantes ao Parkinson, como rigidez na musculatura e lentidão; e as alucinações, frequentemente envolvendo visualização irreal de pessoas, especialmente crianças pela casa, por exemplo.
O diagnóstico é clínico, baseado no histórico e na observação de pelo menos duas dessas características. Exames de imagem, principalmente a ressonância magnética do cérebro, e exames laboratoriais ajudam. A DLC não tem cura, mas o tratamento busca aliviar os sintomas. São utilizados medicamentos semelhantes aos receitados para o Alzheimer, além de antipsicóticos, mas com maior cautela, porque os pacientes com Lewy são mais sensíveis a essas substâncias. Todos os medicamentos estão disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Sobre os fatores de risco, Pedro Braga Neto afirma que a DCL é uma doença que os especialistas chamam de “esporádica”, sem um fator genético claro, mas que algumas mutações podem aumentar a predisposição ao desenvolvimento da doença. O especialista recomenda hábitos saudáveis, como atividade física regular, alimentação balanceada, abandono do tabagismo e do álcool, além do estímulo intelectual como tentativas de prevenção.
Acompanhamento multidisciplinar
Além dos medicamentos, o tratamento envolve a atuação de diferentes áreas da saúde. Um exemplo da oferta desse trabalho multidisciplinar é o Programa Renascer, no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (HUGG-Unirio/Ebserh), que atende pacientes com diferentes tipos de demência, incluindo a por corpos de Lewy. A equipe é composta por fisioterapeutas, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, geriatras, cardiologistas, profissionais de educação física, psicólogos e assistentes sociais. “Cada um entra com sua capacidade técnica para a continuidade do cuidado, não somente dos idosos que estão abrindo e evoluindo com quadros demenciais, como também para os familiares e cuidadores”, explica a fisioterapeuta Diana Junqueira, do HUGG-Unirio.
Segundo a especialista, esse acompanhamento envolve o tratamento clínico e a reabilitação física e funcional, além do suporte emocional e social a quem cuida. “Avaliamos o ambiente, a rotina, de que forma está sendo feito o gerenciamento do paciente, além de avaliarmos a saúde do cuidador, pois, em qualquer tipo de demência, ele pode ficar extremamente sobrecarregado caso não seja devidamente acompanhado e orientado”, destaca Diana.
Segundo ela, são utilizadas escalas para avaliar o grau de funcionalidade, que verificam o desempenho nas atividades básicas e instrumentais, além de testes de equilíbrio e cognição. As atividades básicas são as ações essenciais para a sobrevivência, como tomar banho, trocar de roupa, se alimentar e manter a mobilidade. Já as instrumentais estão relacionadas à interação social, como o gerenciamento de contas, o uso do telefone e o deslocamento em meios de transporte.
Adaptações no ambiente doméstico, como a instalação de barras de apoio no banheiro e ajustes na iluminação para facilitar a visibilidade são recomendadas. Além disso, os especialistas avaliam outras questões, como a capacidade de deglutição, acompanhada por fonoaudiólogo; a adaptação da rotina, com a terapia ocupacional; as orientações relacionadas à nutrição; e o apoio psicológico. O objetivo do acompanhamento multidisciplinar é preservar a autonomia e a qualidade de vida, tanto dos pacientes quanto de suas famílias.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Marília Rêgo, com apoio de Felipe Monteiro e edição de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh