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DE OLHO NA PESQUISA
Pesquisa que muda a prática em hérnias no HUGG
Nesta edição do De Olho na Pesquisa, o Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), destaca a construção de protocolos assistenciais e a produção de evidências em hérnias da parede abdominal. A iniciativa aproxima dados do serviço, ensino e rotina clínica para fortalecer a segurança do paciente e os desfechos no SUS.
Médico cirurgião e coordenador do CEP do HUGG, Rodrigo Felippe Ramos explica que a agenda nasceu do cotidiano assistencial. “Meu interesse em pesquisar sobre hérnias da parede abdominal surgiu da necessidade de melhoria na qualidade do atendimento dos pacientes com esta condição altamente prevalente. Enquanto eu observava que em outros países as decisões clínicas sobre as hérnias eram baseadas em protocolos e evidências científicas, em nosso meio as condutas são costumeiramente baseadas na tradição e oralidade”. A partir dessa constatação, veio o passo seguinte: “Por tal motivo, em 2018 criamos o Ambulatório de Hérnias de Parede Abdominal, com o intuito de padronizar e melhorar o atendimento a estes pacientes. Através deste ambulatório, teríamos o controle dos nossos dados com o intuito inicial de auditarmos nossos resultados, mas que também possibilitem a produção científica no tema”.
Do diagnóstico à padronização do cuidado, o foco é transformar conhecimento em prática. “O objetivo central dos nossos estudos é a melhoria da nossa assistência a estes pacientes. Inicialmente adotamos protocolos consagrados no assunto, como o da Sociedade Europeia de Hérnia, o que nos trouxe um enorme salto de qualidade e melhoria em nossos desfechos clínicos”. A maturidade do serviço levou à adaptação local: “Com o passar do tempo, entretanto, compreendemos a necessidade de criar nosso próprio protocolo de atendimento, adequando as melhores evidências científicas internacionais à nossa realidade. A adoção de um protocolo adequado às nossas necessidades enquanto serviço trouxe mais segurança e melhoria em nossos resultados”.
A pesquisa também enfrenta desafios que começam na porta de entrada. “O nosso maior desafio é desconstruir a ideia de que o paciente possui ‘apenas uma hérnia’”. Segundo ele, esse equívoco repercute no pós-operatório: “Em geral, recebemos pacientes muito fragilizados, que por não terem passado por uma avaliação criteriosa no pré-operatório e nem por cirurgias baseadas em protocolos científicos, apresentam histórico de várias recidivas herniárias, tornando hérnias que inicialmente poderiam ser tratadas de forma mais simples e eficaz em verdadeiros desafios cirúrgicos, aumentando muito a morbidade pós-operatória”.
O preparo clínico e a educação do paciente são parte do resultado: “Muitos pacientes sequer foram esclarecidos quanto ao controle de fatores de risco para recidiva, como obesidade e tabagismo, fatores estes modificáveis e que impactam em muito no resultado pós-operatório”. Por isso, a abordagem é multiprofissional: “Estes pacientes chegam muitas vezes frustrados pelo insucesso de tratamentos anteriores e com a autoestima muito abalada pelo impacto que estas hérnias causam em seus corpos, limitando muito a sua vida social. Por isso é essencial a abordagem transdisciplinar, com apoio de nutricionistas, endocrinologistas, psicólogos e outras áreas do saber em Saúde”.
Esse movimento de mão dupla entre assistência e ciência se potencializa no ambiente do hospital universitário. “O HUGG oferece um ambiente privilegiado justamente por integrar, de forma orgânica, ensino, pesquisa e assistência. Na prática, isso significa que todo ato assistencial pode gerar reflexão, aprendizado e oportunidades de investigação”. A presença de estudantes e residentes amplia perguntas e projetos: “A vivência assistencial alimenta a pesquisa com problemas reais. E, quando o ciclo se completa, os resultados da pesquisa retornam à beira do leito, qualificando o cuidado.” Para ele, o impacto se reflete dentro e fora do hospital: “Integrar ciência à rotina assistencial é fundamental porque melhora a tomada de decisão, amplia a segurança do paciente, aumenta a previsibilidade dos resultados e fortalece o papel social do hospital como produtor de conhecimento que beneficia o SUS e toda a sociedade. Somos frequentemente convidados a apresentar nossos dados e resultados em eventos científicos, onde podemos compartilhar experiências com outros centros, trazendo melhoria e qualidade ao nosso atendimento no HUGG”.
Sobre a Ebserh
O Hospital Universitário Gaffrée e Guinle faz parte da Rede Ebserh desde 2015. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Felipe Monteiro
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh