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ENSINO E PESQUISA
Obesidade agrava doença renal em pacientes em tratamento, revela pesquisa no HU-UFJF/Ebserh
Juiz de Fora (MG) – A obesidade é considerada um fator de risco para pacientes com doenças renais, principalmente aquelas relacionadas ao processo de filtração dos rins. Essa é uma afirmação da pesquisa realizada pelo nefrologista Fernando Sales, que mostrou como o excesso de peso aumenta em 26% as chances de danos aos rins. Foram estudados 417 casos de pacientes atendidos, ao longo de 25 anos, no Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), gerido pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). O grupo analisado eram pessoas com diagnósticos relacionados às doenças glomerulares, conjunto de condições que comprometem a filtragem do sangue e podem levar à perda progressiva da função renal.
A dissertação de mestrado “Perfil epidemiológico e desfechos renais em uma coorte brasileira de 25 anos de doenças glomerulares” foi defendida no Programa de Pós-Graduação em Saúde da Faculdade de Medicina da UFJF. O pesquisador coletou dados clínicos, laboratoriais e biópsias, realizados entre 1998 e 2023 na instituição. “O estudo conseguiu reunir um dos maiores bancos de dados sobre glomerulopatias da região, oferecendo informações valiosas tanto para a prática clínica quanto para a formulação de estratégias em saúde pública”, ressalta Sales.
A pesquisa exigiu um trabalho minucioso de coleta de informações e revisão, em função de dificuldades como a perda de seguimento de alguns pacientes e a necessidade de análise de prontuários médicos para obtenção dos dados clínicos e laboratoriais, pontua.
O estudo também revelou que, além da obesidade, foram encontrados outros dois fatores, ao início do acompanhamento, que pioram as doenças renais: disfunção renal já estabelecida e marcadores de cronicidade histológica. Outro achado importante da pesquisa foi a presença de histórico familiar em 23,3% dos pacientes, um indício de possíveis fatores genéticos como agravantes das doenças glomerulares.
O que são doenças glomerulares?
As doenças glomerulares são um grupo de patologias relacionadas aos glomérulos renais (estruturas fundamentais para a filtração de sangue). São doenças raras, mais conhecidas como “nefrites”.
Essas condições podem ser classificadas em primárias, quando a lesão é restrita ao rim; ou em secundárias, quando decorrem de uma doença sistêmica (que afeta outros órgãos do corpo), como processos infecciosos.
A obesidade é um fator de risco bem estabelecido para doenças renais, inclusive para as glomerulopatias. Quando existe excesso de gordura no corpo, ela pode liberar substâncias que causam inflamação, e essa inflamação, por sua vez, piora o dano aos rins.
Os resultados da pesquisa terão impacto direto na assistência, no ensino e na pesquisa do HU-UFJF/Ebserh e do Sistema Único de Saúde (SUS). Na assistência, ajudam a identificar precocemente os pacientes em maior risco de progressão da doença, permitindo que sejam adotadas medidas preventivas e terapêuticas mais eficazes, afirma o médico.
“No ensino, fornecem material de grande valor para a formação de residentes e estudantes da área de saúde, que poderão aprender com dados reais da população que atendem, fortalecendo o papel do hospital como centro formador de profissionais comprometidos com a saúde pública. Já na pesquisa, consolidam o HU-UFJF como um centro de referência em glomerulopatias, possibilitando o desenvolvimento de novas linhas de investigação, inclusive em colaboração com outros centros do Brasil”, acrescenta o nefrologista.
Devido a importância do tema, há o interesse em dar continuidade à pesquisa. Os próximos passos incluem a atualização contínua do banco de dados do Ambulatório de Glomerulopatias do HU-UFJF e a participação em estudos multicêntricos nacionais, comparando os dados locais com os de outras regiões do Brasil.
Fernando Sales complementa a informação de que também está em pauta a investigação de novas terapias biológicas e imunossupressoras que vêm surgindo, além de pesquisas voltadas para aspectos genéticos e psicossociais, como qualidade de vida, adesão terapêutica e saúde mental dos pacientes, finaliza.
Avaliar o comportamento epidemiológico de uma doença é conhecer seu diagnóstico, sua evolução, as dificuldades encontradas para acessar tratamento especializado para que os profissionais de saúde envolvidos no processo fiquem atentos as características da patologia em questão. Em uma visão ampla, serve de suporte para auxiliar a implantação de políticas públicas. Esse foi o principal mérito da pesquisa, assegura a orientadora da pesquisa e também nefrologista, Natália Fernandes. “Ressalto que esse olhar para a epidemiologia das patologias que fazem parte do nosso dia a dia auxilia no processo de ensino não só da saúde como da gestão administrativa em nosso meio”, afirma.
Fatores de Risco
Entre os principais fatores de risco para Doença Renal Crônica (DRC) estão a hipertensão arterial, o diabetes mellitus, as doenças cardiovasculares prévias (como infarto e AVC), a obesidade, o tabagismo, o sedentarismo e o uso prolongado de medicamentos potencialmente tóxicos aos rins, especialmente anti-inflamatórios. A idade acima de 60 anos e as doenças autoimunes, como o lúpus eritematoso sistêmico, também aumentam o risco. Além disso, a história familiar de doença renal (tais como pais, irmãos ou filhos com DRC, em diálise ou transplantados renais) é um importante fator de predisposição, exigindo vigilância e acompanhamento médico regular.
Sinais e sintomas de alerta
Embora muitas vezes assintomática nos estágios iniciais, a DRC pode apresentar alguns sinais e sintomas de alerta, como inchaço em pernas, tornozelos, rosto ou pálpebras; alterações no volume e na frequência urinária (urina espumosa, escura ou avermelhada); cansaço, fraqueza, falta de apetite, náuseas, vômitos, e pressão arterial elevada de difícil controle. A dor lombar persistente também pode ter correlação com acometimento renal, tais como contextos de litíase renal (“pedras nos rins”), e deve motivar investigação médica.
É importante estar atento também aos sinais que podem sugerir doença glomerular. As manifestações mais típicas são a presença de sangue na urina (hematúria), urina espumosa devido à perda de proteínas (proteinúria), edema facial ou em membros inferiores e elevação súbita da pressão arterial, especialmente em pessoas jovens. Nesses casos, é fundamental encaminhar o paciente ao médico nefrologista para avaliação e exames específicos em sangue e urina, como creatinina e ureia séricas, exame de urina (EAS) e dosagem de proteína urinária.
Medidas de prevenção
Como medidas gerais de prevenção e promoção da saúde renal, recomenda-se manter boa hidratação (exceto em casos de restrição médica), evitar automedicação e uso contínuo de anti-inflamatórios, controlar adequadamente a pressão arterial, o açúcar no sangue e o colesterol, manter peso saudável, praticar atividade física regular, adotar uma alimentação equilibrada com pouco sal e alimentos ultraprocessados, não fumar e limitar o consumo de bebidas alcoólicas. Realizar avaliação médica periódica é especialmente importante para indivíduos com fatores de risco ou história familiar positiva.
Sobre a Ebserh
O Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF) faz parte da Rede Ebserh desde 2014. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Alice Lannes (estagiária) sob supervisão de Alessandra Gomes