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CLIMA E SAÚDE
O clima está mudando e sua saúde também. O que fazer para se proteger?
Foto: Freepik
Brasília (DF) – A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) reafirma seu compromisso com a saúde pública, diante dos novos desafios impostos pelas mudanças climáticas. Composta por 45 hospitais universitários federais, a Rede atua no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) para informar, orientar e apoiar a população na redução dos impactos dessas mudanças na saúde.
Nesta segunda reportagem da série especial “Clima e Saúde”, especialistas destacam cuidados necessários para proteger os grupos mais vulneráveis, como crianças e idosos, em períodos de calor extremo.
Riscos associados ao calor intenso
O verão de 2025 trouxe recordes de temperaturas elevadas, sendo o terceiro mais quente da história mundial, com temperaturas 0,63°C acima da média, segundo o relatório do Copernicus Climate Change Service (C3S). Como explicou o médico do Hospital Universitário Antônio Pedro da Universidade Federal Fluminense (Huap-UFF), Ronaldo Gismondi, as altas temperaturas podem trazer riscos à saúde, como desidratação, insolação e agravamento de condições crônicas.
“O corpo humano possui mecanismos de termorregulação que ajudam a manter a temperatura interna estável, mesmo com variações no ambiente. No entanto, em condições de calor extremo, esses mecanismos podem ser insuficientes, gerando riscos à saúde”, apontou.
Segundo o médico, o aumento da transpiração no calor leva à perda de líquidos. “A hidratação é fundamental para esse equilíbrio. Se puder ser com líquidos gelados e de fácil absorção, melhor. Bebidas açucaradas podem não ajudar, pois a osmolaridade acaba ao final ‘tirando’ os benefícios do líquido ingerido”, afirmou. A desidratação pode causar perda da função renal, taquicardia, hipotensão e até levar à morte.
Outro risco é a hipertermia, caracterizada pelo aumento da temperatura corporal acima do limite interno. Isso ocorre quando há muito calor externo e o corpo não consegue se refrescar adequadamente. O médico explicou que áreas com baixa umidade, como regiões semiáridas, são mais propensas a esse problema. “Pode haver queimadura de sol na pele, lentidão no raciocínio, enjoo, fraqueza e até colapso, com desmaio”, disse.
Entre os sinais de alerta para essas condições estão boca seca, redução no volume de urina, urina concentrada e aumento da frequência cardíaca. Em casos de emergência, como insolação ou desidratação grave, o médico orienta levar a pessoa para um local ventilado e com temperatura mais amena. “A ingestão de líquidos por via oral ou venosa é essencial. Um banho com água em temperatura mais baixa (mas não muito gelada) também pode ajudar”, explicou Ronaldo.
Atenção redobrada com crianças e idosos
Duas especialistas da Rede Ebserh destacam que crianças e idosos estão entre os grupos mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas. A pediatra Luciana Leyraud, do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr., da Universidade Federal do Rio Grande (HU-Furg), e a geriatra Eliane Baião, do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), ofereceram orientações sobre como minimizar esses riscos.
Luciana Leyraud explicou que as variações bruscas de temperatura afetam a capacidade do corpo de regular sua própria temperatura, especialmente em crianças. “Mudanças com amplitude térmica acima de 10°C podem trazer prejuízos à saúde, como aumento de doenças respiratórias, transmissíveis por vetores e cardiovasculares”. Também alertou para a necessidade de hábitos saudáveis para fortalecer o sistema imunológico, como “manter uma alimentação equilibrada, hidratar-se, praticar exercícios e usar protetor solar”.
Já Eliane Baião enfatizou que os idosos enfrentam dificuldades específicas no calor extremo. “Com o envelhecimento, o corpo perde eficiência na regulação térmica, aumentando o risco de hipertermia e desidratação”. Eliane reforçou a importância de manter os idosos hidratados e em ambientes frescos: “Além da água, líquidos como sucos leves, chás frios e água de coco auxiliam na hidratação. Também é importante evitar bebidas alcoólicas e cafeinadas”.
Recomendações para enfrentar períodos de calor
As médicas destacaram que medidas preventivas simples podem fazer grande diferença na saúde de crianças e idosos. Algumas orientações são:
- Mantenha ambientes frescos e ventilados.
- Use roupas adequadas ao clima; no calor, devem ser leves e claras.
- Evite o sol entre 11h e 16h, quando a radiação é mais intensa.
- Use protetor solar (FPS 30 ou superior), chapéus e roupas com proteção UV.
- Beba água regularmente, mesmo sem sede.
- Faça refeições leves e balanceadas.
- Mantenha os alimentos bem refrigerados para evitar intoxicações.
- Para idosos acamados, ofereça líquidos com frequência, troque roupas de cama regularmente e ajuste a vestimenta para conforto térmico.
- Em casos de desidratação, os sintomas incluem boca seca, tontura, mal-estar e redução da urina. Se não tratada, pode evoluir para desmaios ou insuficiência renal.
- Se a temperatura corporal ultrapassar os 40°C, resfrie a pessoa com compressas frias e procure atendimento médico.
- Busque orientação médica antes de qualquer mudança na medicação ou no tratamento.
Evento científico apoiado pela Ebserh debate clima e saúde
Para aprofundar essa questão, de 29 a 31 de maio, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) sediará o Congresso Brasileiro sobre Catástrofes Climáticas (ConBrasCC), organizado em parceria com o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm-UFSM) e a Rede Ebserh. O evento reunirá especialistas e gestores da empresa pública para discutir os desafios e soluções relacionados a desastres como os que afetaram o Rio Grande do Sul há quase um ano.
Na próxima reportagem da série especial “Saúde e Clima”, você vai saber mais o impacto emocional das mudanças climáticas e a elaboração de um documento sobre saúde e clima para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (Cop 30), prevista para ser realizada de 10 a 21 de novembro de 2025, em Belém, no Pará.
Confira também a reportagem anterior: Como as mudanças climáticas afetam a saúde da população?
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Andreia Pires, com revisão de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh