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PREVENÇÃO
Se não tratada adequadamente, sepse pode levar à morte
A sepse é caracterizada como uma resposta inadequada do organismo a qualquer infecção, que ao invés de levar à sua resolução, provoca o mau funcionamento dos órgãos e, se não tratada corretamente, pode levar à morte. Diagnóstico e tratamento rápidos e adequados são essenciais para o combate do problema.
No HC-UFMG, a principal causa de sepse do paciente internado está associada ao Cateter Venoso Central (CVC), que aumenta a mortalidade e eleva os custos com tratamento e internação. Como medidas de prevenção, a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) orienta que todos os profissionais assistenciais avaliem diariamente o sítio de inserção do CVC, troque o curativo com técnica correta e sempre higienize as mãos antes de manipular o cateter e suas conexões. Pacientes e acompanhantes também têm papel fundamental na prevenção, não tocando no curativo do CVC e não o molhando durante o banho. O enfermeiro deve ser sempre acionado, quando necessário.
O professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Saulo Saturnino, explica mais sobre a doença e fala sobre ações voltadas ao enfrentamento da sepse no Brasil.
– O que provoca a sepse?
A sepse é provocada por uma resposta inadequada do organismo a qualquer infecção, que leva à disfunções orgânicas potencialmente fatais. Na maioria dos casos, as pessoas respondem a uma infecção de forma adequada, e isso leva a cura. No entanto, uma parcela significativa de pacientes pode responder de maneira inadequada, o que leva ao mau funcionamento dos órgãos e eventualmente a morte. Qualquer pessoa pode ser acometida, mas há um grupo de maior risco, constituído de muito jovens, abaixo de um ano de vida, pessoas mais idosas, ou que tem doenças que levam a problemas no sistema imunológico.
– Quais são os principais sintomas e como eles podem ser diferenciados de outras infecções?
Alguns sinais podem indicar a presença da sepse, diante de qualquer quadro de infecção. São eles: febre alta; redução do nível de consciência manifestada por prostração muito intensa ou confusão mental; respiração muito rápida ou dificuldade pra respirar; redução do volume de urina. Frequência cardíaca elevada e pressão baixa também fazem parte do quadro mas são melhor detectadas por um profissional de saúde. Esses sintomas alertam para a necessidade de maior atenção ao quadro infeccioso e para a urgência da procura de assistência médica.
– Qual é o quadro atual da Sepse no Brasil?
Existe uma estimativa, de trabalhos recentemente publicados, de uma incidência de até 400 mil casos de sepse por ano, no Brasil. As taxas de mortalidade, por sua vez, que variam muito de uma região para outra, podem chegar a 50% dos casos, ou até um pouco mais. Ou seja, estamos falando de 220 mil mortes ao ano, causadas pela sepse. Além disso, estima-se que cerca de 1/3 dos leitos de UTIs do país estejam ocupados por pacientes com sepse. Dada essa gravidade e o alto índice de mortalidade, é fundamental o movimento de tornar a população ciente, orientando sobre a importância de procurar o atendimento médico e de se desenvolver um serviço de educação continuada dos profissionais, para que esse atendimento seja feito da forma correta.
– Como é atendido o paciente que chega ao pronto atendimento apresentando os sintomas, principalmente na rede pública?
Se o paciente chega a um pronto-socorro que oferece um atendimento mais básico, algumas medidas devem ser tomadas. A primeira e mais importante é a pesquisa da presença da sepse através da detecção de mau funcionamento de órgãos. A segunda é o início da hidratação e administração de um antibiótico adequado para aquela infecção. Posteriormente deve ser feito o encaminhamento para uma internação em Unidade de Tratamento Intensivo, com capacidade de prover suporte respiratório e a outras disfunções orgânicas. No caso dos pronto-atendimentos que já ficam em hospitais, isso não é problema. Mas, no caso das Unidades Básicas de Saúde, é preciso que seja garantido esse acesso do paciente a um atendimento mais completo.
– O que deve ser feito para que diminua o número de ocorrências e principalmente de mortes?
Para diminuir os casos de morte é essencial, além das medidas já citadas, que haja essa consciência da população da necessidade de buscar atendimento. Também é preciso garantir o acesso da população ao atendimento com profissionais e unidades preparadas para esse tipo de demanda, que possam atender também os casos mais complexos.
Essas medidas, basicamente, se resumem em precocidade, ou seja, iniciar o quanto antes o tratamento. Existem algumas doenças que são classificadas como “tempo-dependentes”, ou seja, que quanto mais rápido começar o tratamento, melhores vão ser os resultados. É assim com o infarto e com os derrames (acidentes vasculares encefálicos), em que a comunidade geralmente tem consciência dos sinais e, rapidamente procura atendimento. Então, também é preciso criar essa consciência em relação à sepse, que é uma doença com mortalidade maior.
– Existem, no Brasil, políticas e ações de conscientização e prevenção da sepse?
Existem algumas iniciativas, boa parte delas promovidas pelas sociedades, principalmente as de medicina intensiva, a nível regional e nacional. Há também institutos que tratam especificamente da sepse, como o instituto latino-americano de sepse. Eu acredito que esse também é um papel que deve ser cumprido pela universidade. Como um local de formação, ela deve servir de motor tanto para a informação da população, como para a capacitação de médicos e profissionais da saúde para que o atendimento seja cada vez mais adequado.
(Com Assessoria de Comunicação da Faculdade de Medicina da UFMG)