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NEUROCIÊNCIA
Do prazer à cognição: entenda como o chocolate atua no cérebro humano
Teresina (PI) – No Dia Mundial do Chocolate - data comemorada nesta segunda-feira (07/07) -, lança-se a pergunta: você já se sentiu mais feliz depois de comer chocolate? Isso não é coincidência. Além de saboroso, o alimento querido pelos brasileiros também influencia o cérebro. Isso se deve aos compostos bioativos presentes no cacau, como triptofano, teobromina, cafeína e flavonoides, que interagem com neurotransmissores e podem influenciar o humor, o estado de alerta e até as funções cognitivas. Embora não seja classificado como psicoestimulante, o chocolate tem efeitos reais que variam conforme a idade, o tipo consumido e o estado de saúde neurológica de cada pessoa.
“O chocolate não é uma droga em sentido farmacológico, mas seus compostos bioativos atuam no cérebro de formas que impactam o humor, a atenção e, em menor grau, a cognição. Ele influencia neurotransmissores ligados ao bem-estar, como serotonina, dopamina e endorfinas”, explica o neurologista Franciluz Morais Bispo, do Hospital Universitário da UFPI, vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
Substâncias que agem no cérebro
Um dos principais compostos do chocolate é o triptofano, aminoácido precursor da serotonina, neurotransmissor que regula humor, sono e sensação de bem-estar. A conversão em serotonina pode gerar sensações de calma e prazer, além de ajudar a reduzir sintomas leves de depressão, especialmente em pessoas com níveis baixos dessa substância.
Outro elemento é a feniletilamina, que estimula a liberação de dopamina e ativa o sistema de recompensa cerebral, promovendo sensações semelhantes às da paixão ou da felicidade momentânea.
Os flavonoides do cacau, como catequinas e epicatequinas, têm ação antioxidante e vasodilatadora, com efeitos benéficos sobre o fluxo sanguíneo cerebral. Estudos apontam que o consumo regular de chocolate amargo, rico em cacau, pode favorecer funções como memória e atenção.
Já a teobromina e a cafeína, embora em concentrações menores que as do café, também atuam no sistema nervoso central. A teobromina, por exemplo, é um estimulante mais suave, mas capaz de aumentar a disposição e o estado de alerta.
Além disso, chocolates mais doces e cremosos estimulam a liberação de endorfinas, substâncias naturais com efeito analgésico que geram sensação de prazer e conforto emocional.
Efeitos em diferentes fases da vida
Crianças são mais sensíveis aos efeitos da cafeína e do açúcar. O consumo exagerado pode causar agitação, dificultar o sono e, em alguns casos, intensificar sintomas do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), como hiperatividade e dificuldade de concentração.
Entre adultos, o chocolate amargo, quando consumido com moderação, pode melhorar o humor e a cognição. Os flavonoides ajudam em tarefas que exigem foco e memória. Já em idosos, os compostos do cacau favorecem o fluxo sanguíneo cerebral, podendo contribuir para a preservação das funções cognitivas com o envelhecimento.
Em pessoas com condições neurológicas, como Alzheimer, estudos indicam que os flavonoides podem auxiliar na memória e na cognição nas fases iniciais da doença. Em casos de depressão, o chocolate pode promover alívio temporário do humor.
“No entanto, o consumo compulsivo e desregulado pode gerar dependência alimentar e sentimentos de culpa, agravando quadros depressivos a longo prazo”, alerta Franciluz.
Moderação é essencial
Segundo o especialista, o problema não está no chocolate em si, mas na quantidade de açúcar presente nos produtos industrializados. O consumo excessivo pode levar à resistência à insulina, inflamações e declínio cognitivo com o tempo.
“Outro ponto importante é o potencial do chocolate, especialmente os mais doces e palatáveis, de ativar intensamente os circuitos de recompensa cerebral. Isso pode favorecer o consumo compulsivo e até dependência alimentar, em mecanismos semelhantes aos observados em outros comportamentos aditivos”, afirma o neurologista.
Escolhas conscientes
A recomendação do médico é optar por chocolates com alto teor de cacau e baixo teor de açúcar, preferencialmente com orientação profissional em casos de doenças neurológicas.
“O chocolate é um alimento associado ao bem-estar, mas não é, por si só, um tratamento para nenhuma condição de saúde. O consumo deve ser consciente, equilibrado e adaptado à realidade de cada pessoa”, conclui Franciluz.
Sobre o HU-UFPI
O HU-UFPI faz parte da Rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) desde novembro de 2012. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Maria Carvalho Costa, com revisão de George Miranda e contribuição de Joseane Moura Pinto
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