Notícias
DIA MUNDIAL DO DIABETES
Você sabia que existem diferentes tipos de diabetes? Conhecê-los ajuda a prevenir riscos
Nesta matéria, você verá:
. Por que o diabetes é tão perigoso?
. Diabetes gestacional
. Formas atípicas de diabetes
Brasília (DF) – Silencioso, mas perigoso, o diabetes é uma das doenças crônicas mais comuns no mundo. De acordo com o Atlas da Federação Internacional de Diabetes (IDF), 589 milhões de adultos entre 20 e 79 anos vivem com a doença e, no Brasil, o mesmo levantamento aponta que 16,6 milhões de pessoas tinham diabetes em 2024. Nesta data mundial dedicada à doença (14), especialistas da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) alertam sobre os diferentes tipos, seus riscos e a importância do diagnóstico precoce, informações essenciais para garantir mais qualidade de vida para a população.
Por que o diabetes é tão perigoso?
O diabetes é caracterizado pelo aumento da glicose no sangue, resultado da falta de produção ou da má utilização da insulina, hormônio produzido pelo pâncreas e responsável por essa regulação, explica a endocrinologista Teresa Lacerda, do Hospital de Ensino Dr. Washinton Antônio de Barros, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (HU-Univasf). O perigo está justamente nesse excesso de glicose, que pode prejudicar o funcionamento de órgãos, como coração, rins e olhos, além dos vasos sanguíneos.
Dois tipos são mais comuns de diabetes. O tipo 1 é autoimune, quando o próprio corpo destrói as células que produzem insulina, surgindo, geralmente, na infância ou adolescência. No tipo 2, o corpo ainda produz insulina, mas não a utiliza de forma eficiente, sendo mais frequente em pessoas com predisposição genética e obesidade. Existe, ainda, a classificação “pré-diabetes”, quando os níveis de glicose estão acima do normal (entre 100 e 125 mg/dl), mas ainda não atingem os critérios da doença (a partir de 126 mg/dl). Nesta fase, com medidas de alimentação saudável, prática de exercícios e acompanhamento médico, é possível prevenir o desenvolvimento do diabetes tipo 2.
De acordo com Teresa, pacientes com diabetes tipo 2 costumam ser assintomáticos, o que reforça a importância do rastreamento conforme os fatores de risco. Já o tipo 1 apresenta sintomas clássicos, que incluem sede excessiva, aumento da frequência urinária, fome intensa e perda de peso, permitindo uma investigação mais rápida, com exames de glicemia de jejum ou aleatória. O controle da glicemia, alerta a especialista, é fundamental para prevenir complicações, como a dificuldade de cicatrização de feridas. “Pessoas com diabetes descompensadas possuem uma dificuldade real de cicatrização pela redução de fluxo sanguíneo na região da ferida, além da formação de placas de gordura e outras células que podem obstruir o fluxo”, alerta.
Diabetes gestacional
Segundo o endocrinologista Marcus Miranda, da Maternidade-Escola (ME) do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CH-UFRJ), o diabetes gestacional é definido como um aumento da glicemia de gravidade variável que se inicia durante a gestação (mas não preenche os critérios diagnósticos de Diabetes Mellitus fora da gestação). Pode ser diagnosticado precocemente (antes de 20 semanas) pela glicemia de jejum ou, mais tardiamente (entre a 24ª e a 28ª semana de gravidez) pelo Teste de Tolerância à Glicose Oral (TTGO). Os principais fatores de risco para o desenvolvimento desse tipo de diabetes na gravidez são sobrepeso, histórico familiar, idade (a partir dos 35 anos), hipertensão e colesterol alto.
Se não tratada, a doença pode afetar tanto a mãe quanto o bebê: “Crescimento fetal excessivo, conhecido como bebê GIG, risco de hipoglicemia neonatal, pré-eclâmpsia, aumento das taxas de parto cesáreo e internação na UTI Neonatal são as complicações mais comuns”, explica Marcus Miranda. Após o parto, as pacientes permanecem sendo acompanhadas. “E mesmo que o exame venha normal, todas as pacientes que tiveram diabetes gestacional têm um risco futuro de ter diabetes tipo 2. O risco é maior ainda se ela precisou de insulina durante a gestação”, reforça.
Formas atípicas de diabetes
Embora a maior parte dos casos de diabetes seja do tipo 2 e esteja associada aos hábitos de vida, há formas menos comuns que exigem uma assistência específica: os chamados casos atípicos, que reúnem causas mais raras da condição. De acordo com o endocrinologista e gerente de Ensino e Pesquisa do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (CH-UFC), Renan Montenegro Júnior, essas formas incluem alguns tipos de diabetes monogênicos (quando a doença ocorre por mutação de um único gene envolvido na regulação do metabolismo da glicose), como diabetes lipoatrófico (nas situações em que há baixa quantidade de gordura corporal) ou um outro tipo, chamado de MODY; além de formas associadas a síndromes genéticas, a outras doenças endócrinas ou ao uso de medicamentos, como por exemplo os corticoides.
Renan esclarece que a suspeita surge quando o quadro clínico foge do padrão mais conhecido: “Como o diabetes que se apresenta em crianças e adolescentes que não dependem de insulina, ou em adultos sem obesidade e com hábitos de vida saudáveis. Outros alertas são para a síndrome dos ovários policísticos e o acanthosis nigricans (escurecimento de dobras na pele, mais comuns na axila, virilhas e pescoço) pois representam condições de resistência severa à insulina”, também responsável por algumas formas mais raras.
O tratamento das formas atípicas de diabetes depende da causa e do mecanismo envolvido. Segundo o especialista, algumas dessas formas atípicas respondem parcialmente aos medicamentos indicados para as diabetes tipos 1 e 2, mas outras se beneficiarão com terapias específicas. Por isso, ele reforça a importância do encaminhamento a centros especializados para uma avaliação detalhada.
Gabriela Farias, de 30 anos, é uma das pacientes atendidas no CH-UFC. Ela convive com uma forma atípica de diabetes descoberta, aos 25 anos, pelos exames de sangue; causada por uma pancreatite (inflamação do pâncreas) crônica e hereditária. Desde 2023, Gabriela está sendo acompanhada pelos serviços de Endocrinologia e Gastroenterologia do Hospital Universitário, tendo realizado, inclusive, uma cirurgia para retirada da vesícula e de um cálculo no pâncreas. Seu tratamento inclui insulina e outros medicamentos para manter a glicemia em níveis normais e, apesar dos desafios das duas condições, ela relata que sua qualidade de vida melhorou: “Minha vida mudou da água para o vinho quando descobri a pancreatite e o diabetes, mas hoje não sinto mais as dores que sentia na barriga. O que devo fazer é sempre monitorar o diabetes. Me sinto muito bem com o tratamento que tenho feito”. Gabriela recebe acompanhamento integrado com os médicos endocrinologistas e com a equipe da Residência Multiprofissional em Diabetes, composta por profissionais da Enfermagem, Nutrição e Fisioterapia no Ambulatório de Endocrinologia do HUWC.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Marília Rêgo, com edição de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh