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CONSCIENTIZAÇÃO
Sífilis ainda desafia a saúde pública e exige vigilância contínua
Brasília (DF)- A importância da prevenção, do diagnóstico precoce e do tratamento adequado da sífilis continua sendo um desafio para a saúde pública no Brasil. No terceiro sábado de outubro, dia 18, é celebrado o Dia Nacional de Combate à Sífilis e à Sífilis Congênita. Nesta reportagem, especialistas da Rede Ebserh apresentam dados sobre a doença e o que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece à população.
A sífilis é causada pela bactéria Treponema pallidum e pode ser transmitida por via sexual ou da mãe para o bebê durante a gestação. Apesar de curável e de ter tratamento amplamente disponível na rede pública, a doença ainda registra índices significativos em todo o país, reforçando a necessidade de ampliação das ações educativas e da vigilância contínua.
“Grande imitadora” e de evolução silenciosa
O infectologista Tobias Garcez, do Hospital de Doenças Tropicais da Universidade Federal do Tocantins (HDT-UFT), ressalta que a sífilis é conhecida como “a grande imitadora”, justamente pela variedade de sintomas que podem se confundir com outras doenças. Comumente se apresenta nos estágios iniciais como uma úlcera genital com bordas elevadas, fundo seco, indolor, mas na maioria das vezes passa despercebido.
“Até 30% dos pacientes não percebem ou sequer apresentam sinais na fase inicial. As lesões podem surgir em locais pouco visíveis, como intravaginal ou no reto. Mesmo quando desaparecem espontaneamente, a infecção permanece no organismo e pode evoluir com o tempo, quando não tratada”, destaca o médico.
Na fase secundária, a manifestação são manchas por todo o corpo acompanhadas ou não de febre. Nesta fase, ela também pode sumir espontaneamente, e se manifestar a longo prazo com problemas cardíacos e neurológicos.
Garcez explica que, em qualquer fase, a sífilis pode ser transmitida; e pode afetar o sistema nervoso, causando a chamada neurossífilis, uma forma grave que exige tratamento hospitalar. O diagnóstico é feito pela combinação de sinais clínicos e exames laboratoriais, como o VDRL, que também é usado para acompanhar a resposta ao tratamento.
Cristina Hofer, professora titular do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), complementa que o diagnóstico é acessível e gratuito no Sistema Único de Saúde (SUS), com testes rápidos disponíveis em qualquer unidade básica de saúde. O tratamento é feito com penicilina benzatina (benzetacil), e a dose depende da fase em que o paciente se encontra.
Para a especialista, a conscientização é essencial. “A sífilis tem cura, e o teste é simples. O desafio é garantir que todas as pessoas tenham acesso à informação, diagnóstico e tratamento — especialmente gestantes e seus parceiros”, enfatiza a professora da UFRJ.
Sífilis congênita: prevenção depende do pré-natal adequado
No Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ), referência no atendimento de sífilis congênita, equipes multidisciplinares acompanham gestantes e recém-nascidos com diagnóstico confirmado ou suspeito. De acordo com a médica, o acompanhamento pré-natal é essencial para evitar a transmissão da doença ao bebê.
Segundo ela, o envolvimento de toda a família e o acompanhamento contínuo são fundamentais para interromper a cadeia de transmissão. “Grande parte dos casos de sífilis congênita ocorre em situações em que o pré-natal foi iniciado tardiamente ou quando o parceiro não recebeu o tratamento”, afirma.
Em estudo da Pós-graduação de Doenças Infecciosas e Parasitárias da UFRJ, realizado em mais de 250 pares de mães e bebês tratados para sífilis congênita, apenas 34% mantiveram adesão completa ao tratamento nos dois primeiros anos de vida.
As consequências da sífilis congênita podem ser severas: comprometimento neurológico, hepático, ósseo, cardiovascular, além de lesões oculares e auditivas. “É uma infecção que pode deixar sequelas permanentes, mas totalmente evitáveis com o acompanhamento adequado das gestantes e tratamento oportuno”, reforça.
A especialista ressalta ainda que o IPPMG tem desenvolvido projetos de pesquisa e capacitação voltados para profissionais da rede básica. “Nosso objetivo é fortalecer as equipes da atenção primária, que têm papel essencial na triagem e tratamento das gestantes, garantindo um cuidado mais resolutivo e integral”, destaca.
Situação epidemiológica e desafios
No Brasil, a taxa entre adultos é de 99 casos por 100 mil habitantes; entre gestantes é de 32 por 100 mil; e em bebês, 10 a cada 100 mil nascem com sífilis congênita. Segundo dados citados por Cristina, o Rio de Janeiro tem a maior incidência do país, com quase 70 gestantes com sífilis a cada mil partos de nascidos vivos e cerca de 20 dos bebês com sífilis congênita a cada mil nascidos vivos.
No Tocantins, conforme aponta Tobias Garcez, o cenário também é de grande incidência. “Ela vem crescendo ano a ano, especialmente entre gestantes. Parte desse aumento se deve à melhoria na detecção e à redução das subnotificações históricas, mas os desafios permanecem grandes”, afirma.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Redação: Danielle Morais, com revisão de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh